Tenho ido à praia, no Pecado, um lugar e tanto. Por
aqui, o inverno também não se anunciou. Visto o biquíni e vou envolta numa toalha
felpuda, atravesso a rua, ando um pouco sobre as areias brancas e pouso,
anônima, o vento a me acarinhar a pele, levinho e amoroso, o sol morno, sem
maiores pretensões. Ouço o rugir do mar, o explodir contínuo da arrebentação,
notas graves intermináveis, como ecos sobrepostos a uma mão esquerda de
pianista. Numa das tardes, porque as prefiro às manhãs de vozes infantis e
hábitos brancos das babás, surgiu um homem, devia ir lá pelos cinquenta anos.
Não demorou a se aproximar. Eu, que sentia o arrepio de estar só e também de
ser um ente da natureza, assustei-me. Não é boa a palavra, rompe o precário
equilíbrio entre o humano e o que não é o artificioso. Mas, vá lá, surgiu o
homem. Bermuda azul, sem camisa, meio sem jeito, veio conversar. Como as
palavras destoam da linguagem universal, sal e sol, vento e mar, aceitei a
breve companhia. Veio-me à mente as dificuldades em se arranjar namorado. Justo
o pensamento? Não sei, mas as mulheres sempre estão na desvantagem. Acendi
primeiro um cigarro e conversamos. A princípio, apenas eu falava. Será o homem
de pouca conversa? Apontei a beleza do mar, a tranquilidade da tarde etc. e
tal. Ele, nada. Olhei, discreta, queria reparar se apontava o pênis por baixo da
bermuda. Não que quisesse tê-lo ali, mas talvez o silêncio tivesse como
motivação a minha nudez. De uns tempos para cá, passei a vestir um biquíni
mínimo, a bunda de fora, e eu estava de costas. Nada achei sob o tecido
masculino. Você nada comenta, alertei. Sorriu, foi então que perguntou você não
é do Visconde, uma casa de dois andares? Pronto, o homem me tinha nas mãos,
além de nua. Sim, resposta econômica. Admiro muito quando passa no campinho. É mesmo?,
não me lembro de você. As mulheres não olham para os lados, emendou. Quem te
disse?, deixei o argumento. Melhor permitir ao homem vir, o assunto crescer, até
chegar onde já sabemos, a cama. Isso mesmo, os homens querem deitar com as
mulheres, fazem tudo para que isso aconteça logo. Você frequenta o Arnaldo, do
forró?, perguntei. O paquera arregalou os olhos, sorriu, na certa imaginou um
copo grande de cerveja a sua frente, disse sim, frequentava. Então, vamos nos
encontrar lá, depois de amanhã, pode me esperar, não vou faltar, assegurei. Continuou
a me olhar, agachou-se, percebi que esperar dois dias lhe pesaria. Eu não
poderia ir com ele naquele momento, nem estava com vontade, o importante para
mim era o sol, o mar, o vento brando e o prazer do envolvimento com a natureza, sexo seria num outro momento. Abriu a carteira, tirou a caneta e
escreveu um número de telefone. Recebi o pequeno papel e guardei dentro da
bolsa. Pode deixar, não vou dar bolo, falei e achei engraçada a expressão.
Foi-se o admirador. Lembrei um amigo que amava as possibilidades, dizia que era
bom investir, assim poderia escolher mais. O admirador da praia não sabia
investir, daí a pobreza de suas palavras. Meu amigo não é rico, mas sempre tem
algo a receber. Investiu na semana retrasada, na passada, investe na atual,
sempre o lucro, tanto mais quando se trata de mulheres!, gosta de exclamar. Em
outro tempo, pode ser que eu me ralaria pelo homem ali mesmo na praia,
arranjaria um jeitinho de deixá-lo escalar-me o corpo, ou eu mesma tomaria de
repente suas mãos para percorrer minha pele escorregadia, depois afastaria um
pouquinho as pernas, ele me roubaria o biquíni, tudo resolvido. Mas já sou
escolada, não quero falatório, melhor o forró do Arnaldo. Tinha a praia, depois
a dança, e o homem. Gosto de deixar o sol me aquecer o corpo até eu não poder mais, sinto, então, aquele repuxo no ventre, o calor, quase um orgasmo. Quando levantei, nem
ajeitei o biquíni, nua a caminho do mar. Mergulhei. Olhei de dentro d’água na
direção onde estavam os meus pertences, a praia toda para mim, ao longe uma
mulher, depois dois garotos, areia e mais areia, cordões de restinga. Voltei ao
guarda-sol, sentei-me sobre a canga, tive vontade de trepar, sim, mas com um
amante imaginário, que me fizesse gozar duas horas seguidas, algo impossível a
um homem de carne e osso. Uma amiga, certa vez, tocou neste ponto. Os homens
gozam rápido, deixam-nos a desejar. Disse que gozava com o próprio corpo. Com o
próprio corpo?, perguntei, você se masturba? Não, nada de masturbação, preparo-me,
como se fosse deitar com alguém, passo uns cremes sobre a pele, deito-me e
ponho-me a imaginar, abro as pernas, com suavidade, estou
molhada, minhas mãos deslizam sobre o ventre, minhas coxas, imagino um história
excitante, um fato que me deixa a mil, remexo-me um pouquinho, o gozo vem
chegando... Isso dá muito trabalho, interrompi. Dá trabalho mas vale a pena,
basta ter calma, toda a paciência do mundo, e muita imaginação.
O bar do Arnaldo fica na Riviera. Não é um setor vulgar da
cidade. Em dois quarteirões está a praia. Há casas bonitas na vizinhança,
prédios altos, carros e mais carros na beira da rua, estacionados. O Arnaldo
teve de preparar o isolamento acústico do local, caso contrário teria de
fechar. Conseguiu. Do lado de fora, não se escuta a música, não se acredita que
se trata de um local barulhento e dançante. Forró é dança quente, animada, o
homem segura a mulher pela cintura, pressiona-a na direção do seu corpo.
Dança-se encostado um ao outro, sente-se calor, deseja-se sexo, é quase uma
antecipação do prazer que está por vir. Não há homem ou mulher que, ao dançar
forró, não se imagine numa intensa relação carnal. Como era de se esperar,
mantive-me nos braços e nos passos de meu par, o homem surgido nas areias da
praia, queria senti-lo mais e mais, acabar a noite numa espécie de comunhão de
corpos, bem presa a ele, seu sexo dentro de mim. Num salão de forró, o bom é
ficar o tempo todo com o namorado, não se deve parar de dançar, caso isso
aconteça acaba-se nos braços de outro. Eu queria meu admirador da praia, até
mesmo não me importaria de partir mais cedo para senti-lo frequentar minhas
entranhas.
Após toda a loucura proporcionada pela dança, acabamos na
minha casa, na minha cama. Nem havíamos bebido muito, melhor a embriaguez de
nossas altas temperaturas. Muitas coisas na vida não acontecem como a gente
imagina. Queria eu estar nua, o homem a me invadir, sem piedade. Ao sair do Arnaldo
avistei Marion e Arlete sentadas a uma das mesas próximas à porta, vestidos
curtinhos, uma porção de homens a olhar para elas. Dizem que Marion, depois de
duas ou três horas de dança, vai ao banheiro e despe a calcinha, os homens
adoram, ficam beirando a mesa, querem se certificar.
Tirei a roupa, quase enlouquecida, fiquei apenas de biquíni.
Esperei por ele. Veio vagaroso. Despiu-se de costas para mim, quando
apresentou-se nu, de frente, demonstrou uma ponta de vexo. Um homem vexado!,
quase caí na gargalhada. Mas ele tinha seus motivos. Só então percebi. Seu
pênis não enrijecera, uma tripa comprida escorrendo sobre o saco. Num primeiro
momento, achei que vinha nervoso, há homens que reagem assim. Mas por que nervosismos?
Aproximei-me, segurei seu pinto, acariciei, todo o cuidado do mundo.
Nenhuma reação. Abracei o namorado, abrir as pernas, deixei que se
aconchegasse. Nada. O peru na mesma posição. Afastei-me um pouquinho, toquei seus
testículos, enfie o pênis inteiro na minha boca. Chupei o homem, tentei todas as maneiras. Nada. A tripa permaneceu imóvel.
Dias depois estive com um amigo, aliás, um ex-namorado que
me acha gostosa e não deixa de me vir visitar. Fiquei nua pra ele; ele, nu pra
mim. Seu peru durinho. Você já passa dos sessenta, está muito bem, falei, outro
dia tentei trepar com um homem de cinquenta e poucos, o peru não ficou duro de
jeito nenhum, chupei e tudo mais, nada conseguiu. O sexo do meu amigo endureceu
mais com minha história. Comeu-me, com muito gosto. Uma delícia. Bom pra
esquecer o dia em que fiquei na saudade. O importante foi também que gozei. Que história!, o homem e a tal tripa. O importante, naquele momento, era o pênis durinho do meu amigo!