Vocês sabem que adoro andar nua. Já saí nua, de carro,
várias vezes, sozinha ou ao lado do namorado. É o maior frisson, principalmente
no lugar onde moro. O carro na garagem, entro,
ligo e dou a partida. Instalei um portão de garagem eletrônico para poder
saltar da varanda ao banco do motorista, assim não preciso descer do
carro para, do lado de fora, ter de fechar o portão. Os vizinhos acharam um
luxo. Sou preguiçosa, falei, enquanto o tal portão abria e fechava, automático. Não
souberam o verdadeiro motivo. Até hoje tudo sempre correu bem, até o dia que
resolvi ficar nua, na praia, em Rio das Ostras. Mas não é sobre isso que quero falar agora! É sobre o tal confinamento.
Antes, o máximo que podia acontecer era eu ser surpreendida por
estar nua; agora, posso ser surpreendida porque saí de casa. Vejam a
contradição. Alguém resolve passear nua por aí, é uma fora da lei. Os bons
costumes não permitem a nudez. No entanto andar por aí, passear, olhar o mar, ou
a paisagem da montanha que há do lado oposto, agora também é uma falta perante a
lei. Estando vestida, é preciso ressaltar. Será que posso suportar isso? Há ainda a
multa ou mesmo a prisão. Verdade. Aqui onde moro, à primeira vez
surpreendida do lado de fora recebe-se uma advertência; à segunda, uma multa;
caso aconteça a terceira, levam o infrator ou a infratora para a delegacia.
Razões sanitárias, dizem.
Resolvi burlar a tal lei. Não estou contaminada por este
novo vírus, tenho certeza. Moro sozinha, não tive contato com ninguém
atualmente. Portanto, decidi que posso sair. Mas como as autoridades da minha
cidade são turronas, resolvi sair nua! Burlo a lei em dobro. Azar o deles.
Acordei às quatro da manhã, tomei uma ducha e saí. Isso mesmo, as ações foram
exatamente essas. Alguém poderia perguntar: ela não descreve mais nada? Como
poderia responder se não há mais o que descrever. Nua, isso mesmo, inteirinha
sem roupa alguma. Montei a bicicleta e pedalei à praia. Tinha uma hora e meia
para viver minha transgressão dupla.
O namorado, que mora em Rio das Ostras, sabe que adoro sair
por aí em pelo; melhor, em pele. Mas nem para ele falei. Cavaleiros estava
límpida, uma claridade de lua próxima ao horizonte, corri e molhei os pés. A
água não estava fria. Lógico que um mergulho me faria tremer um pouquinho, mas
tinha a bicicleta, bastava pedalar rapidinho. Bom aquecimento. Lembrei-me de um
amiga a quem contara de modo resumido meu amor pela nudez. “Também gosto”,
disse ela, “certa vez desci nua do terceiro andar da minha casa e fui até o
portão. Na época, eu alugava uma parte independente da casa a uma mulher. Ao
chegar lá embaixo, ela estava no portão, parecia esperar alguém. Mas,
felizmente, não me viu. Subi os dois lances da escada e bati para o namorado
abrir. Tempos depois disse a mim mesma, tenho de parar com essas loucuras, se
meus filhos me surpreendem nua lá embaixo vão me internar justificando que a
mãe enlouqueceu!” Ambas rimos muito. Quem sabe encontro com ela, também nua,
por aí. Seria divertido. Pior se encontrar um homem, o que poderei dizer? Não
teria chance alguma de escapar. Mas nem homem nem mulher. Todos em
confinamento. Bem que eu gostaria de encontrar um homem, sempre há o desejo,
mesmo inconsciente. Na minha cidade todos me conhecem, e sou tão
cobiçada. Melhor procurar alguém em outro lugar.
Depois de uma hora e pouco, ao leste apontou um vermelhinho. Montei
a bicicleta e pedalei de volta. Não fui pela avenida principal, é lógico. Que
arrepio, cheguei toda molhada. Não sei se nervosa ou frisson. Mais provável o frisson.
Em casa, veio-me à mente a tal praia na cidade vizinha. Eu e
a mania de tirar a parte de baixo, o biquíni, entregá-lo nas mãos do namorado.
Ninguém nota, não; a água é escura, principalmente no fim da tarde. Mas naquele
dia decidi fazer o contrário, ao invés da calcinha deixei em suas mãos o top!
Ele chegou a dizer a água não esconde os teus seios. E fez a tal brincadeira,
levou meu top lá pra cima, guardou-o na minha bolsa. Não deu certo.
Fique em casa.
Fique em casa.
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