Uma coisa, Tatiana, é ficar de biquíni na areia; outra, no calçadão;
ainda outra, nas ruas internas de Copacabana. Você é louca, eu não tenho
coragem. As pessoas dizem que as mulheres que andam de biquíni fora da praia
não são daqui da cidade, são de fora, pensam que aqui é sempre férias, que tudo
é praia. E você, com esse biquíni mínimo, de lacinhos, todo entrado atrás, a
andar pelas ruas movimentadas, pessoas indo ao trabalho, ônibus circulando,
vendedores, lojistas, etc. Uma loucura. Tenho uma amiga que é igual a você. Se
quiser, te apresento. Ela anda quase nua. Mora sozinha, não tem parente nenhum, a única
amiga sou eu. Ela conheceu um cara na praia, assim como você costuma fazer.
Ficou com ele, namorou, passou a confiar nele. Um dia o cara deixou ela
peladinha, sem ter o que vestir, em plena luz do dia. Diz ela que namoravam aqui na praia e ficavam juntos o dia inteiro, depois costumavam ir
a um apartamento que ele dizia ser dele, ela sempre de biquíni. Como era
gostoso o homem, segundo ela. Um dia a história foi parecida com a que você
acabou de me contar. Ficou namorando o cara dentro d’água, ele tirou o biquíni
dela, treparam. Aliás, não sei como se pode trepar dentro d’água, é um estorvo.
Você diz que gosta, ela adora; e com o tal namorado, melhor. A água fria a
envolver as partes, como você também diz. Ela não sabe o que aconteceu naquele
dia. O cara sumiu, e deixou ela nua dentro d´água. Se ele morreu? Não, ela
disse que viu o cara uns dias depois. Não estou inventando pra criar terror em
você, não, ela mesma me contou. Como foi? Você é curiosa. Imagina, Tatiana,
imagina. Não, ela não saiu correndo de dentro d’água, esperou pra ver se ele
voltava. Eu já estava com ele há um mês,
tudo tão bom, não sei como um homem como ele pôde fazer isso comigo, ela disse.
Vá lá saber. Quando viu o cara algum tempo depois, ele nem se aproximou. Como ela
se virou? Disse que teve sorte, encontrou um senhor e ele resolveu a situação. O mesmo que ganhar na loteria. Já pensou? Também não sei se é verdade, pode ser invenção, você sabe
como são as pessoas, ninguém gosta de contar seus fracassos. Uma mulher sozinha,
sem poder recorrer a ninguém... Ainda bem que apareceu o tal senhor, repetiu. E ele deu um jeito. Acha que ninguém notou ela nua o tempo que ficou a ver navios (e a expressão cai tão bem!) dentro d’água. Depois, foi com o seu salvador, ainda ficou com ele naquele dia.
Veja que piranha, em vez de agradecer e ir embora, pedir o telefone para um
possível futuro contato, trepou com ele ainda naquele dia, e no apartamento
dela. Júlia, ela narrava, eu não podia ir embora, o cara me salvou, tinha de
transar com ele, mas eu não quis namorá-lo depois, não seria boa uma relação com um homem que conheci naquelas circunstâncias; já pensou quando a gente brigasse,
ele podia me dizer “te conheci nua, se não fosse eu você estava perdida,
piranha”. Conclusão, ele é bonito,
tem dinheiro, mas ela não ficou com o homem, apesar de ele ter procurado por
ela várias vezes. Ganhaste na loteria, não?, insinuei. Ganhei, mas não fui buscar o prêmio, afirmou categórica. Você, Tatiana, tome cuidado, não é sempre que aparece alguém
pra ajudar. Andas a cada dia ou a cada dois dias com um homem diferente,
vai que um deles seja louco; você sentiu um friozinho na barriga, Tatiana?, então
tá, goza, goza bastante, goza com o friozinho na barriga.
quarta-feira, abril 28, 2021
Ganhei mas não fui buscar o prêmio
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