terça-feira, junho 29, 2021

Imobilizada

Ele cisma de me dar dinheiro.  Verdade. Toda vez que o encontro, estende a mão com um envelope. É um presentinho, pra ajudar em alguma coisa. Fico tão sem graça, acabo aceitando. Por enquanto, estamos apenas conversando. Ele me convida, saímos para lanchar ou jantar. Depois me pergunta se quero que me deixe em casa. Digo que sim. Ele é devagar nas coisas do amor, gosta de conversar, uma conversa comprida, centopeia, e gosta de me ouvir falar também, pede que eu conte alguma coisa. É lógico que não falo quase nada de mim.

Outro dia, em casa, sozinha, ao mesmo tempo que pensava nele, lembrei a viagem a Cabo Frio, onde fiquei durantes uns quinze dias. Conheci então um homem muito parecido com ele. Me convidava para todo o lado e gostava de me dar presentes. Só que não me dava dinheiro. Íamos ao shopping e ele dizia para eu escolher o que quisesse. Você fala sério?, perguntei na primeira vez. Claro, foi sua resposta. No início, tive cuidado para não assustar o homem, escolhi umas roupas que eu estava precisando, mas nada muito caro. Na segunda, foi diferente, além de roupas, o homem disse que eu podia escolher uma joia! Mas joia é perigoso de se usar nos dias de hoje. Que nada, a gente sai de carro, vamos a um restaurante chique. Escolhi um cordãozinho discreto, lindo demais. Mas ele agiu diferente desse que namoro agora. Logo me chamou para um hotel, ou para a casa dele. Afirmou que num hotel seria mais interessante. Demorei um pouco a aceitar, mas diante de tantos presentes não podia decepcionar o homem. Acabamos passando um final de semana em Búzios, nos hospedamos numa pousada super incrementada. Todas as noites, então, rolou um amor gostoso entre nós. Num dos dias, quando chegamos da praia, era umas quatro da tarde, fui tomar banho de chuveiro. Ele quis vir junto comigo. Assim que fiquei nua, começou a lançar o jato de água do chuveirinho sobre o meu corpo. A água estava muito fria, do jeito que eu gosto. Não lhe disse nada, mas água fria me dá tesão. Ele ficou mirando a mangueirinha bem naquele lugar, me deixou desarmada. Foi um ótimo passeio, foi um namoro e tanto.

Mas agora, este último, não sei por que o homem gosta tanto de me presentear com notas de cem e, por enquanto, nada me pede em troca, apenas que eu o acompanhe a bares e restaurantes. Daqui a pouco, acho que serei eu a convidá-lo à minha casa. Mas não sou uma mulher de tomar inciativas. Por falar no ex que me levou a Búzios, que me enchia de presentes do shopping, por que o namoro acabou mesmo? Eu estava de férias, em viagem, mas não significa que o fim das férias seja fim de relacionamento. Depois, ainda tivemos contato, ele veio uma ou duas vezes à minha cidade, mas, de repente, sumiu. Talvez tenha se transferido de trabalho ou, quem sabe, até mesmo conhecido outra, se casado, sei lá. A vida é assim. 

O importante, agora, é o atual namorado descobrir o meu segredo. A tal água fria. Fico imobilizada. Em estado de orgasmo absoluto. Será que falo qualquer coisa a respeito?

terça-feira, junho 22, 2021

Banho-maria

“Você não está casada?”, ele perguntou.

“O que isso tem a ver?, sempre saí com você também casado?”, repliquei um tanto malcriada.

Era uma quinta-feira de Fevereiro, fazia alguns minutos que eu resolvera telefonar a ele, meu antigo patrão. Gostava dele, às vezes precisava dele, alguém que não deixava de resolver minhas dificuldades. Mas o problema era que ele não telefonava havia dois meses, uma quantidade de tempo enorme para quem deseja manter um relacionamento, mesmo que em banho-maria. À ultima vez houve um probleminha. O homem me ligou bem na hora que meu marido estava próximo ao meu celular. O que eu iria fazer? Não podia sair correndo com o aparelho como se nada tivesse acontecido. Cínica que sou, pedi atende pra mim, amor. Ele atendeu, e era o meu ex-patrão. Ao ouvir voz de homem, deve ter levado um susto. Este telefone não é da Márcia?, perguntou. Sim, respondeu o marido, quer falar com ela?, e me passou o aparelho. O que eu podia dizer. Oi, Sr. Jaques, como vai sua esposa? Ele, no entanto, insistiu, queria saber quem era o homem que atendeu ao telefone. Não pude negar, disse com a voz alta, clara: meu marido. Agradeceu, despediu-se e desligou. Depois, dois meses em silêncio. Como vou retomar a relação?, pensei.

“Preciso falar com o senhor”, continuei, não consegui perder o modo de tratá-lo, sempre chamando o homem de senhor.

“Pode falar.”

“Sabe”, continuei, “é melhor marcarmos em algum lugar, é uma conversa um tanto pessoal, não dá pra falar assim, ao telefone.”

Ele aceitou. Foi ao meu encontro. Sabia que, para ser atendida, não ia sair de graça.

“Quinhentos?”, pareceu assustar-se.

“Estou passando por um probleminha, achei que pudesse me ajudar.”

“Vamos ver”, coçou a cabeça. Estávamos num café, no subsolo de uma galeria comercial, no centro.

Tomamos os cafés, às vezes em silêncio, às vezes um assunto engraçado. Perguntei pela esposa. Ele respondeu de pronto, sem tremores, vai muito bem.

“O Senhor gosta dela”, afirmei.

“Quem sabe”, sorriu, olhou pra cima, depois me encarou nos olhos. “E então?”

Eu já sabia do que se tratava. Levantamos e saímos pela Rio Branco, entramos na Treze de Maio, depois na Senador Dantas. Trinta minutos e eu nua num quarto de hotel, fresquinha, saída do banho. O homem a babar por mim. Comecei a colocar em ação minhas habilidades.

“Sabendo que você está casada, fico mais excitado”, comentou.

“Não ligo pro meu marido, um casamento formal.”

“Ele não tem quinhentos reais?”

“Está desempregado.”

“Ah, sim, a crise”, sussurrou.

“É, a tal crise”, concordei.

“Além do dinheiro, trouxe um presentinho pra você”, ofereceu-me a bolsa de uma loja famosa.

Abri. Era um biquíni de praia.

“Quero que você vista”, pediu.

Vesti, amarrei os lacinhos.

“Que gracinha”, falou com seu sorriso sempre pronto, “deixa desamarrar”.

E assim foi, ótima a tarde pra namorar. Eu peladinha, na cama, todas as posições. Como adoro falar sacanagem, ainda contei uma história no ouvido dele.

No final, insistiu:

“Quero você de biquininho, mais uma vez.”

“Espere”, pedi.

Fui ao banheiro, me lavei e voltei vestidinha, o biquininho como uma luva, eu um tanto molhadinha, como que saída da água da praia. Me aproximei do ouvido dele e falei:

“Sabe de uma coisa, vou voltar pra casa vestida apenas de biquininho.”

O pênis do homem ficou duro de novo. Desfez meus laços, fomos a mais uma boa trepada.

Assim vai o meu relacionamento extraconjugal, a fogo baixo, em banho-maria. Só não posso deixar que passem mais dois meses.

terça-feira, junho 15, 2021

Não estica a corda

Tenho um namorado que é fogo, acaba conseguindo de mim tudo que deseja. Como gosto muito dele, é difícil recusar suas propostas. Desde que o conheci, diz que sou muito bonita, que jamais namorou uma mulher parecida comigo. Elogia meu corpo, fica admirado como consigo praticar uma alimentação tão equilibrada e sentir tanto prazer pela vida. Um dia desses, veio com a história de que meu biquíni é muito grande, eu devia usar um mais ousado, mais curtinho, que mostrasse as belezas que vivo escondendo. Não sei se vou me sentir bem com um biquíni mais curto, repliquei.

Contei a ele uma peripécia minha numa praia de Búzios. Como moro em M, que fica a quarenta minutos da tal praia, não me preocupei à época e usei um biquíni mínimo, deixava tudo de fora. Não acredito, ele falou, você tão cheia de pudor, com tudo de fora... Sério, tudo de fora, afirmei, me senti nua por inteiro com o tal biquíni, e não foi coisa de namorado, mas de uma amiga, ela criou a situação; além disso, apareceram dois homens; foi aí que a coisa pegou. O que aconteceu?, perguntou, muito curioso. Ah, não é coisa pra contar pra namorado, você também já fez das suas.

Insistiu pra eu trocar de biquíni, disse que ia comigo a uma loja onde vende cada um ótimo, pagaria tudo. Não se passaram duas semanas, estava eu na praia com o biquíni mais curto que já vesti, todo entrado atrás. Ai se encontro alguém, vou morrer, disse assustada. Você não está nua, mas numa praia onde as mulheres não têm vergonha alguma, e é normal se vestir assim no litoral, ele rebateu. Você está errado, nós morremos de vergonha, não deixamos transparecer porque sabemos representar, caso alguém pudesse fotografar o que sentimos num momento de nudez, ficaria surpreso, sussurrei no ouvido dele.

Depois dessa do biquíni, ele veio com outra história, aliás, com duas histórias, só que uma depois da outra. Meu namorado é mestre nisso, sabe fazer as coisas por partes, dosar o seu desejo, avançar na hora certa, e me deixar sem saída. Sempre namoramos muito à vontade, tanto na minha casa, como na dele, quando lá não tem ninguém. Às vezes, vamos a um hotel aqui na cidade, ou a uma pousada na cidade vizinha. Outro dia, eu estava nua nos braços dele, num tremendo roça roça (eu já não mais podia). Coloca a camisinha, pedi. Ele ficou embromando, e me apertava, e me beijava, e fez que eu abrisse as pernas, e roçou ainda mais, e eu cada vez mais doidinha... Bota a camisinha, supliquei. Espere mais um pouquinho, pediu, vamos pele com pele, só um minutinho. Eu, tão equilibrada, deixei o tal pele com pele. Estava toda molhada, ele escorregou pra dentro de mim. Ai, por favor, está tão bom, mas não vai perder a cabeça, viu, pedi, a equilibrada, que já ia mal no barbante. Num determinado momento, cheguei a soprar não tira, por favor, está muito gostoso, mas não perde a cabeça, viu, por favor. Naquele momento, lembrei a amiga de Búzios, do biquíni, eu e tudo de fora, a mesma coisa a acontecer, logo comigo. Ui, não goza, não, viu, eu falava pro homem, a gente naquela praia, uma barraquinha que eles tinham, eu e a amiga, as duas peladinhas, não goza, não, viu. E eles perdendo a cabeça, nós duas já vencidas fazia horas. Voltei pra M desesperada, minha amiga nem ligou.

O namorado já estava suando frio, suspirando, você está por um triz, pronunciou, acho que hoje não escapa; então, eu, equilibradíssima que só, disse vem aqui, despeja na minha boca. Tudo aconteceu numa fração de segundos. E foi a festa!

Agora, a segunda história. Você tem um bumbum lindo, acaricia, elogia, quer uma coisa que nunca fiz. A camisinha chega a brilhar vestida no peru dele, e ele me encosta, me roça por todos os lados. Por trás, não, por favor, não insiste. Eu não querendo dizer nunca fiz uma coisa dessas, acho que não vou gostar. Ui, devagar, me beije primeiro, suba o meu corpo, veja, é todo teu. Mas o namorado é tão convincente. Acuada, me pergunto se vou gostar, ou se vou gozar. Primeiro me deixa subir na corda, me ajuda, isso, agora a vara, por favor, assim mesmo, está muito bom, ótimo, sou equilibrada, muito equilibrada mesmo. Equilibradíssima. Com a vara, um tanto melhor.

segunda-feira, junho 07, 2021

Só em sonho

O ônibus vinha com poucas pessoas, passava das dez da noite. Parou no ponto e eu subi. Tomara que não me olhem de frente. Não é normal, numa situação dessas, alguém olhar de frente. Além disso, tudo depende de mim, caso eu faça de conta que sou a pessoa mais vestida do mundo, ninguém vai reparar que estou nua. Já vivi a mesma situação outras vezes, e me saí salva, porque sã sempre fui. Uma pessoa que adora namorar é sempre sã. Minha amiga Aldinha é sujeita a escândalos. Você é boba, digo a ela, discrição, as pessoas gostam de discrição, os homens sobretudo, você pode namorar todos eles, basta que não conte segredos seus, segredos de mulheres pertencem a nós, boca fechada, aberta apenas para beijar e para algo mais, e mais uma coisa, mesmo que você saia nua, se não se precipitar ninguém nota, e dá enorme prazer! Entrei no ônibus, como imaginava, as pessoas me olharam, mas nada notaram, continuaram nos seus pensamentos, no meio sono de noite alta, enquanto o coletivo já ia pela rodovia estadual e se preparava para pegar a serra. Uma viagem à meia luz, era o que vivíamos. Num determinado ponto, o motorista deixa apenas poucas lâmpadas, já tarde da noite, melhor sempre o descanso. Cruzo as pernas, procuro na bolsa a chave de casa. Mas ainda estamos tão longe, por que penso numa chave? Talvez, a segurança, é preciso ter uma casa, um lugar onde se abrigar, entrar e sair sem ser percebida, deixar minhas coisas seguras. Às vezes, em meio ao caminho, sinto alguma inquietação. Alguém me perceberá?, alguém desvendará meu segredo. Até agora, não. Tudo corre bem. Houve certa vez o motorista. Seu sorrisinho debochado foi revelador; apenas nós dois no ônibus, parou num local que apelidaram recanto da onça. desceu na frente, sabia quem era a fera. Ainda bem, não contou a ninguém, e não aconteceu de novo. Ficou feliz com uma única vez. Este agora, já o conheço. Nesses distritos das alturas todos se conhecem, e ele  não gostaria de se ver envolto em problemas, pois tem mulher, filhos e vizinhos vigilantes. Todo homem sonha conhecer uma mulher discreta e silenciosa, que lhe dê prazer, que nada comente, sempre pronta ao amor, ou ao sexo, caso ele nunca tenha experimentado algo maior. Desço um ponto antes do final da linha, uma escuridão, a prefeitura não colocou iluminação nos postes de entrada. Melhor para mim, envolta em sombras, mais fácil o disfarce, desço rápida, a porta traseira ajuda, se ninguém notou minhas verdades na entrada, não notará na saída. Junto as pernas, a bolsa a tiracolo, a sandália de fivela. Dou o sinal, ele vai parar, não sei, dou mais uma vez, antes da entrada?, ele grita? Isso, sorrio de longe. Ele para. Eu corro e desço. Ainda bem, ninguém, como das outras vezes. Corro para casa e penso como foi possível a tal experiência, de embarcar nua em M, subir a serra dentro de um coletivo com meia dúzia de pessoas e ninguém nada notar, nem um sussurro, mesmo o chofer... Talvez, seja possível  apenas num sonho. Verdade. Muitas vezes sonhamos que andamos nuas pela cidade e ninguém nos repara, andamos e andamos, sentimos vergonha, mas ninguém olhando. Outras tantas vezes, pensamos que é sonho e está lá a pura realidade, nuinha. Como fui viver esta situação, onde deixei minhas roupas? Não sei.