Já que você gosta de me deixar de sobreaviso, quero te contar o final da história, fica paga a hora, já é madrugada, daqui a pouco amanhece. Fique nua mais um pouco, sei que você gosta. É sobre o que aconteceu comigo na quinta-feira passada, não acabei de te contar. Não, não falei com ele de imediato. Eu estava dentro d’água, e você sabe que a praia de manhãzinha é vazia. A água estava fria, eu teimando em entrar e me agachar. Sempre quando entro num mar frio assim, lembro-me daquela vez, eu já te contei, faz séculos, mas lembro, eu pulei da pedra, mergulhei, uma água fria que doía, e aconteceu a tal sensação gostosa, na época nem sabia como se chamava. Depois, mesmo tentando outras vezes, não mais consegui. Quando vou a uma praia, lembro, acabo rindo comigo mesma. Outro dia, pensei e se eu tentasse de novo, já não há a pedra, a praia é outra, mas eu sou a mesma, a temperatura da água está baixa, entro e fico lá um pouco. Então, tentei, mas não deu, acho que pra conseguir agora é preciso algum treino. Resolvi depois de um tempinho, fazer o velho truque, transformei o biquíni numa pulseira, fiquei só te top dentro d’água, dá maior arrepio, uma amiga me ensinou. Agora, gozar mesmo, nada feito. Apesar de vestir um biquíni mínimo, achei que estava muito vestida, então o jogo, a pulseira de pano no braço direito. De repente, um homem pertinho de mim, e eu nem o tinha visto se aproximar. Que susto. Experimente você, está sozinha, ninguém na praia e, quando menos se espera, um homem imenso ao teu lado. Depois do susto, tive de rir. Ele notou meu sorriso e disse bom dia, desculpe se eu te assustei, não era a intenção, e foi nadando pra mais longe, cada vez mais. E eu no mesmo lugar. Envolvida pelo susto, até esqueci que estava nua. Ele não notou!, refleti. Como minha amiga me tinha contado, eles não notam não, são afoitos, estão sempre preocupados com eles mesmos. Quando dei conta da situação disse a mim mesma é preciso manter o sangue frio, Soraya. E se ele voltar não vai me encontrar vestida, acrescentei corajosa. Não vou morrer por causa disso. Tenho amigas que adorariam ser surpreendidas nuas, mas eu... Quem sabe, até role alguma coisa boa?, me perguntei. Não, é melhor marcar para outra hora, o homem vai pensar que sou piranha, e pra trepar é preciso clima. Mas é só não querer o tal duas vezes, me disse certa vez Ana. Como, nesta cidade? E se ele ficar me assediando? Mas foi nadando, nadando. Não mais vi o homem. À noite, no Ilhote, eram onze da noite, me lembrei dele. E se aparece agora, pensei, se me convida pra sair? Senti um arrepio, tive vontade de ir ao toalete, tirar a calcinha, guardá-la enroladinha num papel, dentro da bolsa. Eu estava com uma amiga, não comentei nada. E, como é muito comum acontecer comigo, fiquei apenas na vontade. A amiga ficou toda assanhada, cheia de sorrisinhos, quando um desconhecido veio falar com a gente, perguntou se queríamos alguma coisa, porque só estávamos bebendo. Ela, interesseira, soltou um quem sabe... Mas achei que o tal demonstrou interesse mesmo por mim. Fomos para a mesa dele. Em algum momento, a amiga sussurrou depois do bar vamos com ele, não vejo mal nenhum nisso. Mas o homem, no final, nos deixou em casa, pegou nossos números de telefone e ficou de ligar. Investimento, não?, dirá você. Como é bom investir, não é mesmo? Minha amiga sorria, depois de duas taças de vinho. E você, telefonando pra pedir um vestidinho, e tão tarde, ou melhor, quase manhã, pelo menos não ficou na vontade, não é mesmo? Onde você está? Ih, esse lugar fica longe, acho que vou ter de te deixar pelada.
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