terça-feira, setembro 21, 2021

Tá bom, vou acreditando

Quando entrei para a empresa, não sabia que seria tão bom. Quero dizer, bom mas um pouquinho angustiante. Sério, quando conto as pessoas não acreditam. O meu patrão começou com sorrisinhos, depois com histórias inverossímeis, no final vieram os presentes, muitos presentes. Pedia que eu não contasse a ninguém. Achei aquilo muito estranho. Ele trazia pulseiras, roupas, utilidades para o lar e mesmo dinheiro, que vinha arrumadinho dentro de um envelope, as notas maiores na frente. Um dia quis falar com ele, basta o meu salário, sou uma mulher competente, cumpro as tarefas, nada deixo a desejar. Mas não consegui, toda vez que pensava ir a sua sala, acontecia um problema, e eu ia deixando o tempo passar.

Contei o caso a uma amiga. Ela achou o máximo. Como você pode achar uma coisa dessas o máximo?, perguntei angustiada. Caso eu estivesse no teu lugar, adoraria, completou. Mas gosto tanto do meu marido, aceitando todos esses presente sinto como se o estivesse traindo. Traindo nada, afirmou, os homens é que traem, não conheço um homem que não tenha traído a mulher. Voltei para casa pensando na tal conversa.

A culpa disso é a subserviência. Caso fôssemos bem remuneradas, cultas, de alto nível de emprego, uma diretora de empresa ou uma executiva como exemplo, ou mesmo uma médica, isso não aconteceria. A diretora de uma empresa ganha tantos presentes de quem está imediatamente  acima dela? Acho que não, ela não precisa. Quando um homem gosta de uma mulher dessas, as coisas acontecem de outra maneira. Um dia desses dia li numa revista que uma mulher importante recebe o namorado numa cobertura que fica num prédio dos Jardins, em São Paulo. Até aqui, nada de mais, mas leiam o que vem a seguir: ela morre de tesão quando o homem faz que ela deite nua no parapeito da janela, correndo o risco de despencar lá de cima; certa vez ele subiu sobre ela e treparam ali mesmo, o coração de cada um a mil por hora. Não é mentira, ela mesma contou.

Comigo acontecem os tais presente porque ganho pouco, aliás, todas do meu nível de emprego recebem pouco, então os homens se aproveitam, gostam de mostrar uma falsa generosidade. Passa um tempo e tenho que trepar com o meu patrão.

Não, diz minha amiga, é bom ganhar presentes, mas você só trepa se quiser; se ele te dá dinheiro, é problema dele. Tá bom, vou acreditando.

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