Estava num restaurante, na Barão da Torre esquina com a
Vinicius de Morais. Era domingo de carnaval. Um carnaval em suspenso por causa
do Covid. A quantidade de pessoas tanto do lado de dentro quanto na calçada, onde
conversavam em pequenos grupos e aguardavam uma mesa, era grande. Entardecia. Muitos vinham da praia. Homens, mulheres, alguns trazendo crianças, muitos rapazes
e moças. Nas mesas, todos bebiam seu chope ou algum drink colorido. As mulheres,
principalmente, vestiam roupas curtas, como biquínis ou cangas transparentes,
que não escondiam corpos bem delineados.
Não sou do Rio, e sempre achei a cidade aberta a qualquer
experiência no modo de vestir ou de ser, por isso eu trajava um maiô que me
deixava com metade dos seios de fora, o tipo de roupa de banho presa por uma
tira em volta do pescoço que, descendo, apresenta as laterais muito compridas,
o que permite a apreciação da massa tão adorada pelos homens. Quando a garçonete
nos indicou a mesa, recebi muitos olhares; depois, já sentada, não houve disfarce,
tantos os homens acompanhados quanto suas mulheres se voltaram para mim. De
certa forma, eu sorria em retribuição, como uma turista maravilhada à recepção calorosa. Já que não há carnaval, há as fantasias, pensei, não há problema
eu incentivar. Acompanhavam-me duas mulheres jovens, mais ou menos da minha
idade, e um homem, de seus trinta anos, ele estacionara o automóvel nas proximidades
e chegara alguns minutos depois de estarmos sentadas.
Pedi um drink, como o faziam algumas pessoas, um coquetel de
gim, com alguma fruta vermelha, que tinha como cobertura creme de gengibre. O coquetel aparentava ares de milkshake, só que era alcoólico.
Já comera muito durante o dia, naquele momento belisquei
apenas dois pastéis de camarão. Depois de conversarmos sobre o dia, os prazeres
da viagem, o apartamento onde estávamos instaladas, percebi que um certo
pilequinho me avizinhava. Ah, era o gengibre. Tal raiz é afrodisíaca. Lembrei de
uma amiga que fazia chá com ele quando esperava o namorado. É uma
extravagância, ela afirmava, não tome isso sozinha. Eu, no Rio, com outras
mulheres, e sem namorado. Como iria fazer? Dá-se um jeito, tentei me consolar.
Minhas amigas e o amigo comeram torresmo. Sério, de onde se
faz torresmo? Sou urbana, desculpe a má pergunta. Da barriga do porco, alguém respondeu.
Sempre achei porco um animal tão bonitinho, mas nada falei para não estragar a
festa.
Ficamos no restaurante durante uma hora e meia. Eu, atirada,
bebi dois do tal coquetel. Meu amigo tomou dois chopes. Vou ter de deixar o
carro no estacionamento, afirmou. Não faz mal, disse uma das moças, vamos até a
Farme de Amoedo, fica aqui perto e é uma rua muito divertida.
Eram nove da noite quando seguimos pela Vinícius, atravessamos
a Visconde de Pirajá, dobramos à esquerda e caminhamos até a Farme. O ar
noturno, que vinha da orla marítima, me animou. Minhas amigas observavam as
pessoas e faziam comentários. Ao chegarmos à esquina da nossa rua pretendida,
havia muita gente conversando na beira do meio fio. Muitos seguravam
garrafinhas de Heineken, outros fumavam. Homens conversavam com homens, mulheres
com mulheres. Percebi, então, que se tratava de um ponto turístico gay, um dos
mais famosos do Rio de Janeiro. Saiu numa revista americana que este lugar está
entre os cem melhores do mundo, onde os homossexuais podem se sentir à vontade.
Caminhamos até um aglomerado de gente na porta de um dos bares. Muitas mulheres conversavam em inglês; adiante, alguns homens também trocavam palavras na mesma língua. O que vamos fazer aqui?, perguntou uma das amigas. Quem sabe, respondeu outra,
não viemos para arranjar namorado nem namorada, ela mesma continuou; mas,
às vezes, descobre-se alguma coisa nova.
Uma das americanas veio até a mim, olhou meus seios quase de fora e disse Uau, you
are in the right place. Tacou-me, então, um beijo na boca. Nem fiz menção de
escapar. E ela beijava tão bem!
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