Uma amiga contou uma história interessante. Há um homem que gosta dela, disposto a convidá-la aos melhores lugares e, até mesmo, a lhe fazer depósitos mensais na conta bancária. Ela, porém, não mais telefonou para ele. Por quê?, eu quis saber. Não diga pra ninguém, não porque eu não seja capaz de aproveitar tal situação, mas o motivo é que conheci outro homem. Continuei admirada. Minha amiga já namorou mais do que um, aliás, mais do que dois ao mesmo tempo. Mas, Valba (vamos lhe dar um nome), você já foi tão mais atirada... Ela voltou a contar sobre a situação, o novo namorado era um homão de quase dois metros, bonitos, de parar o trânsito (achei engraçada a expressão, tão antiga e usada para casos de mulheres bonitas). Não posso me arriscar, Célia, não posso perder o homem. Por que você o perderia?, não entendo, você sempre tão hábil, capaz de endoidecer todos eles. Valba me olhou com seriedade, não ficou calada: há fases da nossa vida em que temos que pisar no freio. A amiga mostrava-se hábil em metáforas automobilísticas. Ele é muito gostoso, jamais tive um homem assim, você sabe que os homens gozam muito rápido, deixam a gente na saudade, ele consegue se controlar, fica trepando durante horas, não imagina o tanto que eu gozo em uma noite ao lado dele, conto isso apenas a você, nada de espalhar por aí, podem me roubar o namorado. Nada disso, rebati, ele deve ser hábil em namorar mais do que uma ao mesmo tempo. Acabei deixando Valba em dúvida, chamei um Uber e fui embora, tinha um compromisso e já eram seis da tarde.
Depois que cheguei em casa, meu compromisso: o vizinho que
vive batendo à minha porta às sete horas, dá boa noite e conta alguma coisa que lhe aconteceu durante o dia, no trabalho. Como surgiu a amizade, como tamanha
intimidade? Não lembro, são essas coisas que acontecem na vida da gente e não
temos explicação. Quando fui morar no prédio, ele já estava lá. Não se
aproximou porque moro sozinha. Há outras mulheres como eu nos outros apartamentos. A
preferência dele é por mim. Por outro lado, nunca tentou nada além de uma boa
conversa. Já saímos diversas vezes, num sábado ou domingo, para um cinema ou um
restaurante. No começo, fiquei desconfiada, achei que ele me levaria para cama. No entanto, nunca criou a oportunidade. Agora, acho que já não há clima para isso. Seria gay? Não. Uma
mulher me parou na rua para me dizer que meu namorado é muito gostoso. Namorado?, repeti. Aquele homem que vive com você pra cima e pra baixo, já
namorei com ele. Sorri, e não lhe disse a verdade, preferi que pensasse em namorados.
Não é um negão de dois metros, como o namorado de Valba, e
não tem o aspecto de que vai trepar com uma mulher a noite inteira provocando-lhe orgasmos múltiplos. A conversa dele é sobre livros, peças
de teatros e um ou outro filme.
Deu sete horas, ele bateu pra me cumprimentar. Hoje
foi um dia especial, trouxe um presente pra você. Pedi que entrasse. Entrou e me deu uma caixa num papel cheio
de flores. Chocolate belga, uma amiga acabou de chegar da Europa e me trouxe alguns
presentes, achei que esse se encaixaria muito bem pra você. Sorri, com a caixa
de bombons belgas nas mãos. Enquanto ele contava alguma história daquele dia,
imaginei Valba na cama com o seu homão, gozando várias vezes. Imaginei Valba a receber várias propostas do homem que lhe levaria a vários lugares chique, que lhe faria depósitos bancários, que ela dispensou. Imaginei-a mastigando bombons belgas. Depois, disse a
mim mesma, em pensamento, enquanto meu amigo arrematava sua história: Célia, essas mulheres mentem que só.
Nenhum comentário:
Postar um comentário