sábado, setembro 24, 2022

Namorada do vizinho

É sempre bom criar um clima de curiosidade. Por isso, ao conhecer alguém, me escondo, ou escondo meu corpo. Há quem goste de sair nua, sobretudo à noite. Não tenho nada contra. O mais interessante, porém, é esconder. Nada de roupas como as duquesas de séculos atrás, mas um vestido discreto, um pouquinho transparente, o tipo de branco que se olha durante alguns segundos para ver se o tecido deixa passar alguma possibilidade.

Arranjei um namorado. Andam raros atualmente. Sempre achei que os homens são fãs das mulheres jovens, o que não é o meu caso. Aliás, sou jovem, mas não tanto. Uma namoradinha do meu vizinho sai ao corredor do prédio só de calcinha, não sei o que deseja com tal estrepolia. Certa vez a encontrei, ela sorriu, cumprimentou-me, e se fez a pessoa mais vestida do mundo. De onde vinha?, do compartimento onde se coloca o lixo?, foi em busca do sapato esquecido ao lado de fora ou chegou nua para excitar o homem? Não procurei saber. Tenho certeza, no entanto, de que, na próxima semana, o rapaz estará nos braços de outra, talvez ainda mais ousada. O círculo jamais se fecha, ao contrário, a tendência é alargar-se.

Entrei na casa do namorado. Ele queria sair, ir a um restaurante. Como mora sozinho, sugeri levar algumas coisas à casa dele. Passei no supermercado, comprei uma garrafa de champanhe, algumas pastas, um camembert, diversos tipos de pães. Por desencargo de consciência, levei também as taças especiais para a bebida. Um parêntese: certa vez tive um namorado que não tinha em sua casa um saca-rolha, eu segurando a garrafa de vinho e ele... que pobreza. Fecho o parêntese.

Cheguei com a pequena bolsa de compras, um sorriso nos lábios e a vontade de beijá-lo. Recebeu-me bem, mas não estava acostumado a ter relação com mulheres do meu tipo. Arrumei as compras sobre a mesa, fui em busca de pratos e talheres, preparei tudo com esmero e requinte. O homem, brusco, agarrou-me junto à porta da cozinha, queria trepar ali mesmo, tentou arrancar-me a saia. Procure se acalmar, por favor, tudo tem seu tempo, há um momento para cada prazer, soprei-lhe carinhosa. A frase soou sentenciosa, e ele parecia não gostar de sentenças. Seria eu juíza de direito?, quem sabe, ainda não dissera do que vivia.

Eu me vestia bem naquela noite, ou melhor, como sempre me visto. Roupas de grife, combinação de cores, acessórios, artigos caros, desejados por grande parte das mulheres. Mas ele nada observava, me queria nua de imediato. Vamos beber e comer inteiramente nus!, sugeriu um tanto desesperado. Ok, concordei. Não deixaria passar a oportunidade. Caso negasse, seria melhor partir deixando champanhe e comidinhas para ele e alguma futura companhia. Ok, concordo, voltei a falar, mas você se despe primeiro. Você jura que fica nuinha depois que eu tirar a roupa toda?, perguntou. Preciso jurar?, tenho palavra.

O homem pôs-se a caminho. A camisa, o cinto, a alpargata, a calça e por último a cueca. Tudo ficou amontoado sobre uma das poltronas. O homem nu à minha frente apontava já o seu desejo, a meio pau, não de luto, mas um começo de furor.

Tirei a echarpe, a botinha, a meia curta, a jaquetinha, a blusa de mangas compridas, deixei descer a saia. Soltei o sutiã e, de calcinha, pousei todas as roupas sobre o estofado próximo à janela. Virei-me a ele e disse tire-a, mas com cuidado, não a estrague, por favor. Agora, posso acabar de arrumar a mesa. Ele veio me abraçar, roçar seu sexo sobre meu ventre. O namorado era bem mais alto do que eu. Não gosto assim, quero tomar champanhe primeiro. Sentou-se sobre uma das cadeiras, que estava em volta da mesa, cruzou as pernas e aguardou eu acabar de preparar o jantarzinho. Passei-lhe então a garrafa de champanhe. Quando a abriu, com todas a explosão possível a uma comemoração de conquista, serviu-me o primeiro gole. Imaginem, eu nua, segurando uma taça de champanhe, e não tenho o mesmo corpinho das garotas de academia.

Lembrei o dia em que um namorado, que morava na praia de Cavaleiros, me levou pra passear nua, de madrugada. Nada posso falar da namorada do meu vizinho!

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