É sempre bom criar um clima de curiosidade. Por isso, ao
conhecer alguém, me escondo, ou escondo meu corpo. Há quem goste de sair nua,
sobretudo à noite. Não tenho nada contra. O mais interessante, porém, é
esconder. Nada de roupas como as duquesas de séculos atrás, mas um vestido
discreto, um pouquinho transparente, o tipo de branco que se olha durante
alguns segundos para ver se o tecido deixa passar alguma possibilidade.
Arranjei um namorado. Andam raros atualmente. Sempre achei
que os homens são fãs das mulheres jovens, o que não é o meu caso. Aliás, sou
jovem, mas não tanto. Uma namoradinha do meu vizinho sai ao corredor do prédio
só de calcinha, não sei o que deseja com tal estrepolia. Certa vez a encontrei,
ela sorriu, cumprimentou-me, e se fez a pessoa mais vestida do mundo. De onde
vinha?, do compartimento onde se coloca o lixo?, foi em busca do sapato esquecido
ao lado de fora ou chegou nua para excitar o homem? Não procurei saber. Tenho
certeza, no entanto, de que, na próxima semana, o rapaz estará nos braços de
outra, talvez ainda mais ousada. O círculo jamais se fecha, ao contrário, a
tendência é alargar-se.
Entrei na casa do namorado. Ele queria sair, ir a um
restaurante. Como mora sozinho, sugeri levar algumas coisas à casa dele. Passei no
supermercado, comprei uma garrafa de champanhe, algumas pastas, um camembert, diversos
tipos de pães. Por desencargo de consciência, levei também as taças especiais
para a bebida. Um parêntese: certa vez tive um namorado que não tinha em sua
casa um saca-rolha, eu segurando a garrafa de vinho e ele... que pobreza. Fecho
o parêntese.
Cheguei com a pequena bolsa de compras, um sorriso nos
lábios e a vontade de beijá-lo. Recebeu-me bem, mas não estava acostumado a ter
relação com mulheres do meu tipo. Arrumei as compras sobre a mesa, fui em busca
de pratos e talheres, preparei tudo com esmero e requinte. O homem, brusco,
agarrou-me junto à porta da cozinha, queria trepar ali mesmo, tentou
arrancar-me a saia. Procure se acalmar, por favor, tudo tem seu tempo, há um
momento para cada prazer, soprei-lhe carinhosa. A frase soou sentenciosa, e ele
parecia não gostar de sentenças. Seria eu juíza de direito?, quem sabe, ainda
não dissera do que vivia.
Eu me vestia bem naquela noite, ou melhor, como sempre me
visto. Roupas de grife, combinação de cores, acessórios, artigos caros, desejados
por grande parte das mulheres. Mas ele nada observava, me queria nua de
imediato. Vamos beber e comer inteiramente nus!, sugeriu um tanto desesperado.
Ok, concordei. Não deixaria passar a oportunidade. Caso negasse, seria melhor
partir deixando champanhe e comidinhas para ele e alguma futura companhia. Ok,
concordo, voltei a falar, mas você se despe primeiro. Você jura que fica nuinha
depois que eu tirar a roupa toda?, perguntou. Preciso jurar?, tenho palavra.
O homem pôs-se a caminho. A camisa, o cinto, a alpargata, a
calça e por último a cueca. Tudo ficou amontoado sobre uma das poltronas. O
homem nu à minha frente apontava já o seu desejo, a meio pau, não de luto, mas um
começo de furor.
Tirei a echarpe, a botinha, a meia curta, a jaquetinha, a
blusa de mangas compridas, deixei descer a saia. Soltei o sutiã e, de calcinha,
pousei todas as roupas sobre o estofado próximo à janela. Virei-me a ele e disse
tire-a, mas com cuidado, não a estrague, por favor. Agora, posso acabar de arrumar
a mesa. Ele veio me abraçar, roçar seu sexo sobre meu ventre. O namorado era
bem mais alto do que eu. Não gosto assim, quero tomar champanhe primeiro. Sentou-se
sobre uma das cadeiras, que estava em volta da mesa, cruzou as pernas e aguardou
eu acabar de preparar o jantarzinho. Passei-lhe então a garrafa de champanhe.
Quando a abriu, com todas a explosão possível a uma comemoração de conquista,
serviu-me o primeiro gole. Imaginem, eu nua, segurando uma taça de champanhe, e
não tenho o mesmo corpinho das garotas de academia.
Lembrei o dia em que um namorado, que morava na praia de
Cavaleiros, me levou pra passear nua, de madrugada. Nada posso falar da namorada
do meu vizinho!
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