Estava num café em Copacabana com um amigo numa manhã de domingo. Ainda era cedo, talvez nove horas. Meu telefone tocou. Olhei a tela e apareceu o nome: Carlos. Não é possível, esse homem não me larga, cismou que sou sua namorada, onde quer que eu vá ele está a me telefonar. Pedi licença e, sentada diante do meu amigo, atendi. Onde você está?, quis saber. Tomando café com uma amiga, respondi com uma ponta de constrangimento, a Milena. Depois de dizer o nome da mulher, mantive os olhos baixos durante muitos segundos. Continuei escutando o que tinha a dizer. A Milena?, opôs, desconfiado, acabei de passar por ela agora, me deu mesmo bom dia, ele disse. Não pode ser, pensei comigo, ainda os olhos na mesa. Como saio dessa?
Histórias minhas e da Milena se misturam. Uma está sempre
pronta a ajudar a outra. Ela diz que vai lá para casa e sai com alguém. Envio
uma mensagem para ela e digo o que vou fazer, ela já sabe sua missão, me
proteger. Missão muitas vezes espinhosa que só. Moramos numa ladeira, vista
para o mar, muitas casas, alguns amigos e muitos homens dando em cima, paquerando,
querendo trepar comigo, com ela. Certa vez, saí de madrugada para ajudá-la. Naquele
tempo, como namorava um homem meio bravo, precisou muito de mim. Estava de
cacho com ele e, ao mesmo tempo, com um rapazinho que dizia ser muito gostoso,
não largava o garoto, contava que o peru dele ia lá no fundo, onde o dos outros
não chegava. Uma noite, porém, o tal namorado bravo ficou na porta da casa do
rapaz – não sei como chegara àquela conclusão – esperando a Milena sair. Que problema.
Mas nada aconteceu. Porque ajudei minha amiga. Sabendo da história, fui para lá
e convidei o tal para tomar uma cerveja comigo no Adão. Estou tão sozinha,
choraminguei no ombro dele. No início, não aceitou, mas depois acabou cedendo.
Eu vestia uma saia super curta e me insinuava. Resultado: muitos beliscões nas
coxas até às quatro da manhã. No final, ele me pediu: bico fechado, nada de
comentar com a Milena. Quando a encontrei, nada falei. Disse que tomamos apenas
uma cerveja e pronto. Apesar de intempestivo, ela gostava dele. E foi ele quem
terminou. Arranjou-se com uma ainda adolescente, dezoito aninhos, só porque ela
concorreu e venceu o concurso de Miss aqui do bairro.
Não pode ser, disse eu, a Milena está aqui comigo, como pode
ter passado por você, te dado bom dia?, afirmei veemente. Ao acabar a frase,
pensei ele vai querer falar com ela. Foi o que aconteceu. Por que eu tinha de
dar tanta satisfação se ele não era meu namorado? Será que por que trepei com o
homem duas vezes? Carlos, por favor, estamos tomando café, não tenho o dever de
fazer isso. Depois te telefono. Beijos. Desliguei sem que meu amigo, que
parecia absorto, percebesse. Mas eu sabia que tinha notado, percebera toda a
trama. Só faltava ele me perguntar se eu o chamaria de Milena. Não aconteceu. Ele,
que sempre me convida para o café da manhã aos domingos, é um homem discreto,
refinado, leitor de muitos livros. Quem sabe, ele se antecipa e escreve essa
história: Uma mulher, um carretel.
Milena, por favor, preciso da tua ajuda, depois do almoço vai
até o Carlos e lhe diga que não era você a pessoa que falou com ele hoje cedo!
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