Tranco-me no quarto, deixo a toalha sobre a poltrona lateral e deito-me. O que penso? Saí do banho há pouco, está na hora de dormir; a casa, em silêncio. Minha filha, no seu quarto, distrai-se com o celular. É hora do meu prazer maior do mundo. Procuro algum namorado do passado, alguém que me tenha dado intenso prazer; vou também à procura do namorado do futuro, mas este virá devagar, com o correr da noite, depois do gozo com o primeiro. Este é alguém que me deu um biquíni de presente, desses muito curtos, usados pelas garotas adolescentes. Elas vão à praia vestidas no paninho estreito e não pensam muito em sexo. Para pessoas como elas, a nudez é normal. Para mim, ou para a minha geração, já não é assim que sentimos. Num primeiro momento, achamos que a praia toda está a nos olhar, a nos explorar a pele, os centímetros de corpo ainda cobertos. Depois, porém, chegamos à conclusão de que não somos a estrela do local; é certo que há quem nos olhe, mas, de modo geral, as pessoas têm mais o que fazer. Vou à praia dentro do tal biquíni, uma praia onde ninguém me conhece. Sobre a areia, sentada na cadeira ou deitada sobre a toalha, sou a mulher mais desinibida do mundo. O namorado, a tarde já avançada, gosta de me levar a um motel. Cada um mais bonito do que o outro. Amor, não posso chegar à noite em casa, nua, não vai ficar bem. Você não está nua, mas de biquíni, ele rebate. Estou nua, você não sabe olhar. Houve um dia em que esquecemos, fiz ele ir ao shopping comprar um vestido, enquanto eu esperava no estacionamento, nua dentro do carro. Por que o namoro não durou? Não lembro, acho que ele foi trabalhar em outra cidade, lá conheceu alguém e casou.
E quanto ao namorado do futuro? Esse é alguém que conheço.
Mas estamos apenas na fase dos cumprimentos e sorrisos, conversarmos respeitosamente.
Engraçada a expressão, conversas respeitosas. Um acaso, encontramo-nos no
centro da cidade, numa rua onde há hotéis turísticos. Por falar nesse tipo de
hotel, certa vez um amigo me falou sobre hotéis turísticos do centro velho. Eu
pensava que todos eram hotéis de viração, amantes de hora do almoço ou trepadas
ocasionais quando não se sabe nem se quer saber o nome do parceiro ou da
parceira. Meu namorado do futuro, o tal homem dos cumprimentos, encontra-me na
Senador Dantas, ou na Presidente Vargas, quem sabe na Alcindo Guanabara. Estou
sozinha à porta do hotel, o guarda-chuva aberto protege-me de chuviscos. Estava
passando, um consultório por perto onde frequento, digo sem graça. Ele levanta os
olhos e repara o letreiro: Hotel. Pego-o pelo braço, puxo para o saguão. É pequeno
o local. Você jura que não fala pra ninguém?, sopro-lhe no ouvido. O homem da
recepção encara-nos. Pergunta o tipo de apartamento que desejamos, o tempo que
vamos ficar. Onde as malas? Já vão chegar, retruco. Dois dias, digo, dois dias
de estadia. Meu namorado recente me olha sem demonstrar surpresa. Gosto dos hotéis
dessa região, declara. Sétimo andar. Subimos. Dentro do apartamento, o mundo
tornou-se mágico. O namorado do futuro (ainda estou na minha cama, gozando com
a história) pede para sair um instante, precisa resolver um problema, volte logo,
não vá embora, por favor, peço. Já vi vários filmes semelhantes. Não vai
voltar. Deito-me nua na cama do hotel, minha roupa dentro do armário, arrumada.
Esqueci de trazer peças íntimas! Telefono-lhe, envio-lhe mensagens, compre-me um
par de calcinha, por favor.
O final é diferente dos filmes americanos que eu costumava a ver. O namorado do futuro me
come dois dias e duas noites seguidas. Tanto o prazer. Nenhum problema. O par de calcinhas, onde você guardou? Arrepio.
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