domingo, novembro 27, 2022

Fiquei um pouco mais do que arrepiada

Tenho um paciente que é uma gracinha. Vem ao meu consultório e fica o tempo todo me paquerando. Mesmo quando acaba o tratamento dentário, volta para me cumprimentar. Abro a porta e lá vem ele, intrujão, a me beijar. Esta semana voltou ele. Mas para fazer um reparo num bloco partido. Bastou acabar de atendê-lo para ele perguntar se eu ainda tinha algum outro paciente à hora seguinte. Caí na asneira (será?) de dizer que não, ele era o último daquela tarde ainda ensolarada. Convidou-me então para um café, numa cafeteria bonita que fica na sobreloja. Sem pensar, aceitei. Disse que antes teria de pegar o formulário de um convênio num escritório das proximidades. Ele me acompanhou.

Quando voltávamos ao prédio para tomar o café, vi um vestido lindo numa vitrine. Entrei na loja. Ele entrou junto comigo. Falei com a vendedora e ela foi buscar o tal vestido. Examinei-o e disse a ela: “não vou comprar hoje, amanhã volto para experimentar.” Ela assentiu e agradeceu.

Saímos de novo para a rua e caminhamos até a cafeteria. Muitas pessoas circulavam pelo centro. Suas fisionomias não espelhavam cansaço, mas o ar alegre que o mês de janeiro incute em cada um de nós.

Chegamos à cafeteria. Fica num corredor, rodeada de livrarias. A garçonete veio nos atender. Não demorou a trazer tudo o que pedíramos.

Meu amigo, de repente, perguntou:

“Você gostou daquele vestido?”

“Gostei.”

“Vai comprar mesmo?”

“Vou”, arregalei os olhos em sinal de interesse, “amanhã venho à cidade e passo na loja.”

Ele, então, me surpreendeu:

“Telefona pra mim quando você sair de casa. Venho encontrar com você. Quero lhe dar o vestido de presente.”

“O que é isso, Paulo?”, fiz ar de surpresa.

“O que tem de mais eu lhe dar um presente?”, insistiu.

“Não tem nada a ver. Eu mesma vou comprar o vestido.”

Sorriu. Não parecia aborrecido. Tomamos nossos cafés e conversamos sobre amenidades.

Quando acabamos, me beijou e disse:

“Volto semana que vem, no horário marcado.”

“Ok, combinado.”

“Espero que eu seja o último paciente. Assim poderemos passear de novo.”

Ri e falei.

“Paulo, você é fogo, viu, sempre querendo passear comigo.”

“Você é bonita. Qualquer homem gostaria de passear pelo centro tendo você como companhia.” Silenciou durante alguns segundos, depois completou: “não esqueça, caso queira o presente, basta me ligar.”

Ri mais uma vez. Ele se foi. Voltei ao consultório para arrumar algumas coisas e esterilizar o equipamento.

Não escondo o que me aconteceu após ele me oferecer o vestido. Fiquei um pouco mais do que arrepiada...

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