Tenho um paciente que é uma gracinha. Vem ao meu consultório
e fica o tempo todo me paquerando. Mesmo quando acaba o tratamento dentário,
volta para me cumprimentar. Abro a porta e lá vem ele, intrujão, a me beijar.
Esta semana voltou ele. Mas para fazer um reparo num bloco partido. Bastou
acabar de atendê-lo para ele perguntar se eu ainda tinha algum outro paciente à
hora seguinte. Caí na asneira (será?) de dizer que não, ele era o último
daquela tarde ainda ensolarada. Convidou-me então para um café, numa cafeteria
bonita que fica na sobreloja. Sem pensar, aceitei. Disse que antes teria de pegar o formulário de um convênio num escritório das proximidades. Ele me
acompanhou.
Quando voltávamos ao prédio para tomar o café, vi um vestido
lindo numa vitrine. Entrei na loja. Ele entrou junto comigo. Falei com a
vendedora e ela foi buscar o tal vestido. Examinei-o e disse a ela: “não vou
comprar hoje, amanhã volto para experimentar.” Ela assentiu e agradeceu.
Saímos de novo para a rua e caminhamos até a cafeteria. Muitas
pessoas circulavam pelo centro. Suas fisionomias não espelhavam cansaço, mas o
ar alegre que o mês de janeiro incute em cada um de nós.
Chegamos à cafeteria. Fica num corredor, rodeada de
livrarias. A garçonete veio nos atender. Não demorou a trazer tudo o que pedíramos.
Meu amigo, de repente, perguntou:
“Você gostou daquele vestido?”
“Gostei.”
“Vai comprar mesmo?”
“Vou”, arregalei os olhos em sinal de interesse, “amanhã
venho à cidade e passo na loja.”
Ele, então, me surpreendeu:
“Telefona pra mim quando você sair de casa. Venho encontrar
com você. Quero lhe dar o vestido de presente.”
“O que é isso, Paulo?”, fiz ar de surpresa.
“O que tem de mais eu lhe dar um presente?”, insistiu.
“Não tem nada a ver. Eu mesma vou comprar o vestido.”
Sorriu. Não parecia aborrecido. Tomamos nossos cafés e
conversamos sobre amenidades.
Quando acabamos, me beijou e disse:
“Volto semana que vem, no horário marcado.”
“Ok, combinado.”
“Espero que eu seja o último paciente. Assim poderemos
passear de novo.”
Ri e falei.
“Paulo, você é fogo, viu, sempre querendo passear comigo.”
“Você é bonita. Qualquer homem gostaria de passear pelo
centro tendo você como companhia.” Silenciou durante alguns segundos, depois
completou: “não esqueça, caso queira o presente, basta me ligar.”
Ri mais uma vez. Ele se foi. Voltei ao consultório para
arrumar algumas coisas e esterilizar o equipamento.
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