Certa vez conheci um homem na antessala de um teatro. Como ele estava sozinho e eu também, não foi difícil iniciarmos um diálogo. Falamos, de início, da peça que estávamos prestes a assistir; depois, sobre teatro em geral. Quando entramos na sala, fomos procurar nossos acentos.
Após o término do espetáculo, reencontramo-nos. Eu estava doidinha
para que isso acontecesse. Ele também tinha o mesmo sentimento. A peça fora tão
interessante, que não nos faltaria assunto. Dali, ainda ficamos um pouco pelos
arredores. Fomos a um bar, onde tomou uma taça de vinho e eu um suco. Como era
dia de semana, não demoramos a nos despedir, deixando um com o outro o número
dos nossos telefones.
Passaram-se alguns dias e marcamos um encontro. Encontramo-nos
em torno de 19 horas. Assistimos a uma sessão de cinema. O filme era
interessante, uma produção polonesa onde um homem visitava pessoas ricas para
lhes tratar a alma e o corpo. Não era médico nem religioso, mas alguém que
trabalhava com as mãos e com as ideias. A questão do clima também era abordada,
já que, no local, nevava bem menos do que outrora. Após a sessão, pegamos um
táxi e fomos a um restaurante, no Leme, local conhecido por reunir, já tarde da noite, muitos artistas.
Ainda nada disse sobre ele, chamava-se Léo e, desde o início,
demonstrou ser pessoa extremamente delicada, sempre dando muita importância a
tudo que eu falava. Passei mesmo a tomar cuidado com minhas opiniões, já que o
homem as escutava com atenção.
Sempre quando conheço alguém, fico na
defensiva. Não posso me revelar de primeira, pode ser algo perigoso,
principalmente porque o conheci num lugar público. Quando alguém me apresenta
um amigo ou colega de trabalho, é outra coisa, mas em relação a alguém que
surge quase ao acaso, sinto certa preocupação. Fiquei mais tranquila quando me disse
que trabalhava na Petrobras, chegou mesmo a mostrar sua identificação.
Jantamos na tal cantina. Comi um prato de massa e tomei
também uma taça de vinho, o que me deixou bem mais à vontade. Ele queria que
pedíssemos uma garrafa. Não, por favor, só aguento uma taça, afirmei.
Depois que terminamos, perguntou se eu queria fazer mais
alguma coisa. Quando alguém recém-conhecido faz tal pergunta, é porque quer me levar ao seu apartamento. Não sei se acontece o mesmo com minhas
amigas, porque pouco converso sobre isso quando estamos juntas, mas meu coração
acelera mais do que o normal quando vou pela primeira vez ao apartamento do
namorado. Não sei se é fruto de algum temor, ou se se trata da perspectiva dos
possíveis momentos de prazer que vem pela frente.
O apartamento de Léo era muito bonito. Numa rua de Botafogo,
de frente. Da janela da sala, dava para apreciar a copa das árvores; ao longe,
outros prédios e algum comércio. Do lado de dentro, não havia muita coisa:
um pequeno sofá, uma mesa com duas cadeiras, estante com poucos livros e um
abajur num dos cantos da sala, próximo à janela. Lembrei-me de uma amiga que tinha a chave do apartamento do namorado. Adorava ir para lá na parte da
tarde. Dizia que descansava em silêncio, adorava a luz do dia que vinha de fora;
para completar, tirava toda a roupa.
Ele foi à cozinha e voltou com uma garrafa de vinho, abriu-a
e derramou um pouquinho nas taças. Por favor, alertei, para mim apenas um
dedinho, quero sentir o sabor. Obedeceu, brindamos e bebemos. A seguir,
ligou o som, que tipo de música você gosta?, quis ele saber. Perguntei se tinha
música instrumental, como jazz. Sim, é o que mais tenho, sorriu. O ambiente,
então, se tornou mais relaxado, bebemos o vinho, ouvimos a música e namoramos.
Quando começo a sair com alguém, sinto vergonha de
trepar na primeira vez. Quis dizer isso a ele, e esperei pelo momento certo.
Depois de uma hora ou hora e meia, quando fomos para o quarto, sussurrei no seu
ouvido você fica aborrecido se a gente não transar hoje? Tudo bem, mas por que esta preocupação?, quis
saber. É porque a primeira vez é difícil pra mim, ri depois destas
últimas palavras. Ele pareceu compreender. Fiquei deitada na cama, ao lado
dele, depois agarrada a ele, de calcinha e sutiã. Em determinado momento,
dormi. Não sei se por causa da bebida ou pelo cansaço, mas isso não era importante naquele momento. Ele mantinha os olhos fechado, mas acariciava o meu ventre.
Quando acordei pela manhã, ele não estava no quarto, senti
cheiro de café, que vinha da cozinha. Só então reparei que estava nua! Teria
ele tirado minha roupa enquanto eu dormia? Não sei, jamais saberia. Posso dizer
que, a partir daquele momento, eu pude trepar com ele com desejo, paixão e
consciência.
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