quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Nua, de salto e bolsa a tiracolo

Numa dessas noites quentes, estava eu debaixo de meu namorado, em sua casa, numa cama imensa e confortável. Ele percorria-me o corpo nu, tocava nos pontos mais sensíveis. De repente, sussurrou no meu ouvido vai lá fora, na rua, pelada. Pelada? retorqui. Sim, pelada, nua, sem roupa alguma. Nuazinha? ainda repeti. Sim, nua reafirmou ele. Mas se alguém aparecer? Não vai aparecer ninguém a essa hora assegurou. Confesso que a sugestão me atingiu em cheio. Senti um susto de prazer. Era uma nova dimensão, alvo além de meu próprio corpo, que eu descobria e que passou a me enfeitiçar. Deslizei de debaixo dele para a beira da cama, sentei, juntei os joelhos aos seios e me pus a pensar na nova situação. Meu coração ia aos saltos. Imaginei-me nua do lado de fora, eu ansiosa batendo à porta, que ele logo abrisse para eu me atirar em seus braços, ainda trêmula mas molhada de gozo. Não, é perigoso falei em voz baixa. Tem medo?, logo você que se diz corajosa, que enfrenta qualquer dificuldade... revidou. Realmente, eu me dizia mulher destemida. Mas nua, do lado de fora da casa, era demais. Apesar do calor que me tentava, havia dentro de mim uma pontinha de temor que ameaçava transbordar sobre a constante coragem. Vou afirmei sem querer perder a pose. Pus-me de pé. Senti ligeira contração numa das pernas, mas não demonstrei. Caminhei em direção à porta da rua. Espere aí ele falou, calma, vamos fazer a coisa com esmero. Voltei a ele, meu corpo nu reluziu à luz de um abajur que ficara aceso na sala, a luz prateada produziu contorno quase translúcido à pele branca de meu corpo; num jogo de sombras me vi lançada de uma parede a outra. Num pequeno espelho, que servia de adorno, meus cachos escorreram. Espere, vamos fazer uma coisa melhor falou. Fez-me subir sobre sapatos de salto alto. Depois, ajeitou-me ao ombro a correia de uma bolsa a tiracolo. Em seguida, penteou minha pequena púbis. Só, então, levou-me até a porta. Beijou-me. Com voz baixa e sensual, pronunciou em um de meus ouvidos você vai bater, eu vou abrir, você entra me pedindo ajuda, me conta uma história, vamos representar. Atravessei a porta um tanto trôpega, mal disfarçava. Mas ia de cabeça erguida. A porta se fechou atrás de mim. A luz da rua era fraca, senti um vento frio acariciar-me a pele. Por instinto, cobri os seios com as duas mãos. Meu corpo nu era fonte de água cristalina que refletia o piscar das estrelas sobre flores ainda virgens. Pensei no que ia dizer... Eu era uma desconhecida que batia à porta de um homem também desconhecido, completamente nua, de salto e bolsa a tiracolo. Imaginei a história que ia contar. Confesso que era uma boa história, mas... Após aguardar três intermináveis minutos, bati uma vez, ninguém veio atender. Depois bati duas, três vezes. Esperei. O tempo transcorreu vagaroso. Cinco, dez minutos. Uma eternidade. Qualquer ruído que não viesse de dentro da casa me assustava. Então, aconteceu o que eu tanto temia: um carro parou na frente do prédio e dele saiu um homem. Sem conseguir me dominar, com minhas carnes num saltar involuntário, ainda tive tempo de me abaixar junto à mureta da escada. O homem entrou apressadamente, passou a meu lado, mas não me viu. Levantei e retomei à pose anterior. Achei que meu namorado demorava para tornar a brincadeira mais excitante. Ele não me deixaria ali, pelada, pelo resto da noite. Respirei fundo, recompus-me, lembrei de novo a história que ia representar. Mais confiante, bati novamente à porta. Mas..., ele não abriu.

Eu era rosa, ainda úmida, envolta nas últimas sombras da noite, rosa de pétalas frágeis, temerosa ante a ameaçadora incandescência do dia, cujas primeiras luzes já batiam à porta da casa vizinha...

O que aconteceu depois, se eu tiver coragem um dia conto. Uma coisa posso assegurar: meu namorado é o mesmo, até hoje!

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