Certa vez conheci um homem especialíssimo. Cada encontro com ele era criar asas e voar junto às águias em seus vôos migratórios. Eis instantes dessa travessia.
No momento em que estava em seus braços, dissolvia-me, era substância calcinada por líquido de temperatura mais elevada. Minhas entranhas se queimavam, eu era percorrida por arrepio que me fazia ansiar a nudez total. Quando alguém me explorava suave o corpo, sempre deixava que o invasor, numa cumplicidade tácita, me libertasse da última peça. Mas em momentos de pulsar explosivo, em que era arrebatada, presa fácil de êxtase cintilante, ápice de percurso que queria para sempre, despia-me por minhas próprias mãos. Depois deixava que meu sedutor me conduzisse num vôo de curva íngreme e arriscada, no qual alçaríamos altitudes impensadas, como dois Ícaros de asas temerosas, até mergulho talvez fatal, cuja curva só seria possível às aves de grande porte, que voam distâncias imensas e são capazes de manobras arriscadas, capazes de flertar com a própria morte e daí tirar uma espécie de gozo. Seus dedos alados me tocavam então o corpo, me arremessavam na direção de nuvens plenas de eflúvios eólicos, de gazes solares ora tépidos ora úmidos, que me salpicavam a pele de gotículas portadoras de mel olímpico. Queria continuar trafegando nos limites do prazer, beirar a cidadela do orgasmo, sem que este me tomasse de assalto. Queria prolongá-lo como nosso vôo. Não haveria aterragem, não seria possível. No momento, porém, em que não mais podia suportar tamanha excitação, em que não tinha mais capacidade de evitar erupção violenta e alucinada, me transformava em lava incontida. Ele pedia-me então que agachasse. Obedecia. Agachava-me, encolhia-me. Ele empurrava taça de champanha por sob minhas pernas. "Mulheres não ejaculam", eu tentava balbuciar envolvida em extremo gozo. "Ejaculam", rebatia certeiro, "basta que se soltem". Soltava-me então. Era salto no escuro, quase fatal, guiada por luz única prateada, perdida, luz que orbitava nos confins da criação. Era chegado o momento, ali eu não mais sentia o corpo, era quase nuvem que se evolava; era mergulho que me impedia ver se havia mar a amparar-me, rocha a despedaçar-me ou se me precipitava no vazio eterno; quando ia nos meandros de tamanho transbordamento e me deparava com a impossibilidade de regresso, liqüefazia-me, expelia substância viva ora translúcida ora leitosa; sentia pulsar de volta o coração, estava de novo no planeta após longa jornada, alguns séculos em frações de segundos... Era o momento de lhe entregar a taça. Ele, vitorioso, a tomava nas mãos, saudava e, enfim, bebia-me.
No momento em que estava em seus braços, dissolvia-me, era substância calcinada por líquido de temperatura mais elevada. Minhas entranhas se queimavam, eu era percorrida por arrepio que me fazia ansiar a nudez total. Quando alguém me explorava suave o corpo, sempre deixava que o invasor, numa cumplicidade tácita, me libertasse da última peça. Mas em momentos de pulsar explosivo, em que era arrebatada, presa fácil de êxtase cintilante, ápice de percurso que queria para sempre, despia-me por minhas próprias mãos. Depois deixava que meu sedutor me conduzisse num vôo de curva íngreme e arriscada, no qual alçaríamos altitudes impensadas, como dois Ícaros de asas temerosas, até mergulho talvez fatal, cuja curva só seria possível às aves de grande porte, que voam distâncias imensas e são capazes de manobras arriscadas, capazes de flertar com a própria morte e daí tirar uma espécie de gozo. Seus dedos alados me tocavam então o corpo, me arremessavam na direção de nuvens plenas de eflúvios eólicos, de gazes solares ora tépidos ora úmidos, que me salpicavam a pele de gotículas portadoras de mel olímpico. Queria continuar trafegando nos limites do prazer, beirar a cidadela do orgasmo, sem que este me tomasse de assalto. Queria prolongá-lo como nosso vôo. Não haveria aterragem, não seria possível. No momento, porém, em que não mais podia suportar tamanha excitação, em que não tinha mais capacidade de evitar erupção violenta e alucinada, me transformava em lava incontida. Ele pedia-me então que agachasse. Obedecia. Agachava-me, encolhia-me. Ele empurrava taça de champanha por sob minhas pernas. "Mulheres não ejaculam", eu tentava balbuciar envolvida em extremo gozo. "Ejaculam", rebatia certeiro, "basta que se soltem". Soltava-me então. Era salto no escuro, quase fatal, guiada por luz única prateada, perdida, luz que orbitava nos confins da criação. Era chegado o momento, ali eu não mais sentia o corpo, era quase nuvem que se evolava; era mergulho que me impedia ver se havia mar a amparar-me, rocha a despedaçar-me ou se me precipitava no vazio eterno; quando ia nos meandros de tamanho transbordamento e me deparava com a impossibilidade de regresso, liqüefazia-me, expelia substância viva ora translúcida ora leitosa; sentia pulsar de volta o coração, estava de novo no planeta após longa jornada, alguns séculos em frações de segundos... Era o momento de lhe entregar a taça. Ele, vitorioso, a tomava nas mãos, saudava e, enfim, bebia-me.
Nenhum comentário:
Postar um comentário