quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Oito dias em Porto Seguro

Domingo:
Chegamos a Porto Seguro às 12:30h, hora local. Céu azul, sol maravilhoso. Nosso hotel é o Resort Boa Vista, fica bem de fronte à praia de Taperapoã; está lotado, mas de gente bonita, é lógico. Almoçamos e fomos à piscina do hotel; as mulheres, principalmente as mineiras - já conheci duas - usam biquínis mínimos. Depois das quatro, eu e Júlia fomos até a praia. Sentamos numa das barracas, tomamos duas cervejas, depois mergulhamos. A Júlia já botou as manguinhas de fora, ou melhor, os seios; soltou o sutiã dentro d'água e deixou que ele flutuasse. Acabou a tarde com os bicos dos seios fora d'água. Chamou a atenção de dois homens que se aproximaram e já queriam nos abraçar. Fugimos delicadamente. À noite, assistimos à música ao vivo no próprio hotel. Misturamo-nos aos jovens. Dançamos, nos divetimos; eu, de shortinho e miniblusa; Júlia, de minissaia e bustiê.


Segunda:
Fomos a Trancoso, praia ao sul, vinte quilômetros de automóvel. Tomamos um táxi e combinamos a volta para o final da tarde. O motorista fingiu não se surpreender ao reparar sob nossas cangas transparentes os menores biquínis que trazemos. Após saltarmos, caminhamos durante trinta minutos até um lugar deserto. Ali não havia mais estrada, apenas vegetação nativa; o céu estava muito azul, o mar límpido e translúcido. Os raios de sol refletiam pontos luminosos na superfície da água criando efeitos semelhantes ao brilho de diamantes sob luz intensa. Um arrepio me correu todo o corpo ao observar a envolvente beleza. Mergulhamos. A temperatura alta da água do mar – que é característica nas praias de todo o Nordeste - faz que a gente se demore em banho envolvente e sensual. Não resistimos à tamanha sensação de liberdade: soltamos nossos laços e deixamos as pequenas peças flutuarem, como Júlia fizera na véspera; depois, ela achou melhor guardá-las junto aos nossos pertences, na faixa de areia. Nossos corpos nus com a água escorrendo pela pele bronzeada vez ou outra refletindo os raios dourados de sol encheriam de gozo um eventual observador. Éramos, sem falsa modéstia, deusas vivas esculpidas pelas mãos do mais refinado artista. Nesse momento, houve uma divertida complicação. Com o passar do tempo, começaram a surgir algumas pessoas; mantivemo-nos, a princípio, ocultas até o pescoço pela capa provisória e semitransparente das águas do mar; os primeiros caminhantes não deram por nossa presença. Mas, depois, alguém reparou que apenas nossos biquínis, acanhados e vazios, tomavam sol sobre nossas cangas (Júlia esquecera de escondê-los), então eles – eram dois homens –, aflitos, puseram-se à procura dos corpos femininos nus e fugitivos. Ao nos localizarem, aguardaram ansiosos que saíssemos de dentro d'água. Fiquei muito excitada e Júlia, gelada; depois, acenei a um deles. Quando se aproximou, fiz ao desconhecido a seguinte proposta: o endereço de onde estávamos hospedadas em troca ao menos da calcinha. Ele atendeu e trouxe de lambuja nossos tops.

À noite, houve show dos Paralamas, quase diante de nosso hotel, na barraca Axé Moi. Em todo Nordeste, essas barracas são verdadeiras casas de show sobre as areias da praia. Dançamos até as duas da madrugada enquanto a banda tocava sobre um palco gigantesco. No mexe remexe da multidão, fui beliscada e apalpada, mas não liguei. Beijei na boca três rapazes. A Júlia se perdeu de mim e apareceu no hotel somente uma hora após o fim do espetáculo. Mas contou casos surpreendentes. O mais interessante foi sobre o namorado que arranjou já no final da apresentação. Disse que ele se apressou em deslizar as mãos sob sua saia e surpreendeu-se com falta da calcinha. Para não falar que ela quase não a usa, disse que presenteou um admirador anterior, ainda durante o show. Segundo ela, não houve nada além de alguns beijinhos; marcou encontro com ele para o dia seguinte. Diz que não tem intenção de aparecer. Também demos bolo nos dois de Trancoso. Queremos nos divertir.


Terça:
Acordamos tarde, mais de onze. Café da manhã já encerrado. Fomos ao bar da piscina e comemos por nossa conta. Depois atravessamos para a praia. Mas dessa vez, caminhamos até a altura da barraca Toa Toa. Ali havia gente alegre e colorida. Entramos nas águas do mar e reparamos que era possível caminhar boa distância sem que o nível nos ultrapassasse a cintura. Quando nossos seios ficaram submersos, estávamos bem longe, e junto a poucas pessoas. Conhecemos dois senhores. São de Mato Grosso. Disseram que são fazendeiros. Tenho minhas dúvidas. Ficaram muito próximos e o que estava conversando comigo chegou a tocar-me os quadris. Devorava-me com os olhos, mas não acredito que funcionaria caso eu resolvesse baixar o biquíni. Acabamos por acompanhá-los em terra firme, no restaurante à beira-mar. Pagaram tudo que pedimos, queriam nos encontrar mais tarde. Júlia ficou de pensar, eu descartei, mas delicadamente. Ele percebeu que minha praia é frequentada por gente jovem.


À noite, mais música no hotel. Júlia bebeu duas Margaritas e arrastou um garoto, devia ter dezessete ou dezoito anos, para beira da praia. Eu permaneci e quando a música terminou fui dormir. Depois, eis o que ela me contou. O rapaz deu-lhe mais uma dose de outra bebida. Logo o álcool subiu. Foram para um lugar deserto e então ela – não sabe dizer se de propósito ou levada pelo excesso de bebida – começou a gritar descontrolada ante a um jovem atônito: "rasga minha roupa toda, me deixa nua, vai, atende, me rasga, me amordaça, me bate, me come, depois me abandona nua e amarrada, vai, por favor, anda, é só assim que eu consigo gozar". Segundo ela, seu par, inexperiente e atemorizado, fugiu desesperado. Ao reparar que estava só e tinha atraído a curiosidade de dois ou três casais que namoravam por ali, jogou o vestido sobre o corpo e correu para o hotel. Amanhã vai procurar as sandálias.


Quarta:
Enquanto eu voltava ao apartamento após o café da manhã, minha amiga foi até a praia em busca das sandálias. Lógico que nada encontrou. Às dez horas, decidimos ir a Arraial da Ajuda. Vesti um outro biquíni que trouxe na bagagem. É azul com motivos floridos em rosa; um pouquinho maior do que aquele que deixei flutuar em Trancoso. Júlia também preparou-se com cuidado. Sempre sai como se fosse conhecer o homem de sua vida. Desta vez, tomamos um ônibus. Embarcou nele também uma rapaziada alegre. Mais homens do que mulheres. Levavam instrumentos musicais e foram cantando e tocando até o ponto final, junto à estação da balsa. Atravessamos o canal em grande euforia. Cantamos algumas músicas baianas e alguns sambas cariocas. Após desembarcamos em Arraial, despedimo-nos deles. Em primeiro lugar, passeamos pelo centro. Queria comprar alguns presentes para os amigos. Observei o casario antigo, as lojas de lembranças, os bares e restaurantes; estes últimos já estavam funcionando, com muita gente bebendo cerveja. Um ou outro nos olhava com mais atenção. Não deixavam de nos lançar uma piada, ou alguma gracinha, às vezes até mesmo inteligente. Depois de percorrermos o pequeno comércio local, fomos à praia. O litoral se estendia da mesma forma, vistoso, azul e muito atraente. Resolvemos ficar logo em uma das primeiras barracas. Passamos o bronzeador, colocamos os óculos escuros e deitamos sob pleno sol. Depois de mais ou menos uma hora, entramos nas águas quentes daquele trecho de mar. Então, deu-se a aventura do dia. Três rapazes se aproximaram. Disseram-nos que eram paulistas. Estavam de posse de um pequeno barco a motor. Convidaram-nos a um passeio. Olhei para Júlia, que me retribuiu o gesto como se dissesse: "o que você decidir, estou de acordo". Voltei-me a eles e disse que iríamos. Queríamos levar nossos pertences, eles, porém, acharam melhor que os deixássemos na própria barraca, já que havia quem os guardasse. A embarcação não era grande, comportava três ou quatro pessoas, mas apertamo-nos os cinco. Foi um passeio muito agradável. Distanciamo-nos da costa de maneira prudente e quando nos aproximamos dos recifes, o rapaz que guiava desligou o motor; disse, a seguir, que todos mergulhariam, porque ali o mar é mais propício ao banho. E realmente era. A maré estava baixa e a água não era tão quente como junto à costa; produzia, porém, sensação deliciosa; não dava pé, mas nos foi possível bom divertimento. Todos mergulhávamos e nadávamos de volta ao barco. Quando desejávamos subir a bordo, era necessário que alguém contrabalançasse o peso, segurando do lado oposto. A seguir, surgiu outra pequena embarcação, com três pessoas. Desta vez, duas mulheres e um homem. Encostaram. Uma das mulheres me reconheceu; está hospedada em nosso hotel. Após nos cumprimentar, disse que fora a Trancoso e ficara decepcionada, não vira a praia de nudismo. "Nessa época de alta temporada, há muitos curiosos, muitas famílias, as pessoas quase que não tiram a roupa lá". Júlia não se conteve, exclamou: "nós tiramos, fomos lá na segunda-feira". As pessoas se excitaram. Primeiro a mulher, depois os rapazes. Quiseram saber todos os detalhes. O frisson aumentou quando contei a distração de Júlia, que fez os dois homens nos descobrirem nuas. Os rapazes começaram a nos olhar de outra maneira. Não resistiram e pediram que tirássemos a roupa ali também. Júlia me olhou sorrateira, eu disse rápida: "agora não há clima, essas coisas tem que acontecer naturalmente. E, além de tudo, quando chegamos lá, não havia ninguém, aqui há vários espectadores". Eles riram, depois uma das duas mulheres falou. "não tenho esse problema, mergulhou e quando veio a tona, lançou para dentro do barco primeiro a parte superior, depois, o biquíni. Os rapazes ficaram em silêncio por alguns instantes, em seguida mergulharam para junto dela. Após alguns instantes, sua companheira também arremessou barco adentro o pequeno traje. Então foi a vez dos rapazes; tiraram as sungas e nadaram nus. Júlia não resistiu por muito tempo. Apenas eu permaneci de biquíni e mesmo que pequenino sentia-me a mulher mais vestida do mundo. Não houve jeito: pelada uma, pelados todos. Mas juro, só tomamos banho, não permiti que ninguém me tocasse o corpo. Na despedida, marcamos encontro com todos para a noite do mesmo dia, haveria em nosso hotel show do J. Quest.


Durante o espetáculo, outra grande badalação. Dançamos a todo vapor. No final da festa, estava exausta. Não queria outra coisa a não ser uma boa cama. Encontrei as duas mineiras que conhecera no domingo; disseram-me, furtivas, que descobriram um meio de levar os namorados para o apartamento sem que entrassem pela porta da frente do hotel. Prometeram-me contar amanhã. Júlia só apareceu ao amanhecer, tinha viajado para curtir a natureza e se divertir, mas alega, e não sem razão, que sexo faz parte da natureza e também é diversão. Seu par? Depois me conta.


Quinta:
Dia tirado para descanso. Ao menos para mim. Permaneci no apartamento até as quatro da tarde. Depois, saí para comer. Às cinco, entrei em uma das piscinas. Muita gente bronzeada nas espreguiçadeiras. Axé-music rolava no quiosque do hotel; algumas meninas dançavam de biquíni. A mineirinha, recostada em uma das cadeiras, me acenou. Contou sobre o namorado e o fim de noite que vivera. "Ele é daqueles machões que segura com força, aperta, joga na parede e tudo mais", nesse momento sorriu, "de início, fiquei com medo, afinal o conheço há dois dias, mas logo percebi que não me queria mal, queria sim, me proporcionar prazer". Perguntei pela outra, "ela? Está lá no quarto com o seu; tiramos a sorte, ganhei a noite e ela ficou com o dia, depois vamos inverter", sorriu de novo e bebeu um gole de caipirinha. Convidou-me a ir com ela, a amiga e outros mais, ao centro; querem aproveitar a vida noturna da cidade. Concordei e prometi levar a Júlia.


No centro da cidade, há uma rua chamada Passarela do Álcool; nome pitoresco, porque possivelmente se imagina que há gente bêbada por toda a parte, mas não é nada disso. Trata-se de uma extensa rua, por sinal muito agradável, em que se enfileiram bares, restaurantes, lojas que vendem camisetas com motivos locais e lojas de suvenires. Há também pequenas barracas de bijuterias e outros objetos, como brinquedos artesanais. O que mais me chamou atenção foi a quantidade e diversidade dos bares e restaurantes, daí o nome da rua. Vi também algumas pequenas casas noturnas com música ao vivo, muito diversificada. Quem viaja a Porto Seguro pensando que vai encontrar apenas trios elétricos e música baiana está enganado; minha experiência a respeito da região é bem diferente. Caminhamos por toda a extensão da rua eu, Júlia e as duas mineiras com seus namorados baianos, até desembocarmos numa praça, que mantém a mesma paisagem da Passarela. Entramos por uma rua lateral e paramos em um dos bares. Um músico cantava "Você é linda", de Caetano; cantava e tocava muito bem. Eram mais ou menos dez da noite. Pedimos vários chopes e procuramos no cardápio a indicação de alguma comida gostosa. Como éramos seis, o local estava cheio e sobravam duas cadeiras à nossa mesa, duas mulheres se aproximaram e pediram para sentar junto a nós. Eu e Júlia começamos a conversar com elas enquanto as mineiras namoricavam. Uma delas falou: “Viemos de Goiânia para tomar banho de mar”. A mais falante nos disse que é médica, se não me engano pediatra, a outra, não pude saber em que trabalhava. Estavam felizes porque fizeram vários passeios e também porque conheceram várias pessoas, dentre elas dois homens com quem haviam marcado encontro para mais tarde. Falaram muito neste assunto. Disseram que eles tinham casa alugada em Taperapoã. Mencionamos que estamos hospedadas próximo àquele local. Elas acabaram nos convidando para acompanhá-las, porque eles tinham pedido que trouxessem mais algumas pessoas. Júlia me olhou de soslaio, sua fisionomia demonstrava aprovação. Agradeci, mas disse que precisava descansar. À meia noite e meia deixamos o restaurante, o lugar fervia de gente. As mineiras com seus pares se despediram e embarcaram num táxi; nós, em outro, junto com nossas recém conhecidas, já que elas ofereceram carona. Durante o trajeto insistiram que as acompanhássemos ao encontro. Júlia concordou, mas eu mantive-me irredutível. Quando chegamos ao local onde elas saltariam, os homens – eles eram jovens – as estavam esperando. Ao verem a mim e Júlia, mostraram-se muito animados. Falei que só aproveitara a carona; eles, então, também insistiram para que eu permanecesse. Disseram que tinham preparado um pequeno coquetel, que não fizesse tal desfeita. Acabei cedendo. A casa era grande e confortável. Na parte posterior, havia um gramado iluminado por alguns spots; podia-se perceber uma convidativa piscina ao centro; algumas árvores nativas cercavam o local. Entre os fundos da casa e a piscina, estava arrumada com requinte uma mesa comprida. Ali havia frios, pastas, diversos tipos de queijos e pães. Para beber, três garrafas de champanha e duas de vinho. Descobri um pequeno freezer junto à porta dos fundos com cerveja, água e refrigerante. O que em definitivo me seduziu foi uma pequena mesa lateral, que abrigava doces típicos e abacaxi em calda. As mulheres disseram que precisavam relaxar. Mergulharam. Só que inteiramente nuas. Os rapazes continuaram conversando com elas e conosco, agiam com se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Abriram uma das garrafas de champanha. A médica e a amiga saíram d'água em pêlo, com muita naturalidade, seguraram suas taças e todos brindamos. Depois, entre dois tipos de carícia: a brisa da madrugada e a água morna da piscina, escolheram pela última. Júlia, inicialmente surpresa, em alguns segundos se refez e mergulhou, também nua. Os rapazes entraram, mas não foi ainda aí que se despiram. Relutei durante uns bons quinze minutos, mas depois, sem alternativa, acabei cedendo. Saudaram-me com entusiasmo. O que aconteceu daí em diante, queridos leitores que me acompanham nesses dias de férias, fica a cargo da imaginação de cada um de vocês. Só mais uma coisa: lá pelas tantas, enquanto eu relaxava em uma das espreguiçadeiras junto a uma das bordas da piscina, senti alguém derramar sobre meu corpo uma espécie de creme, era a calda do doce de abacaxi. Fingi que cochilava enquanto a mão hábil me lambuzava.


Sexta:
Eis o mais interessante desse dia: às duas da tarde, estávamos na praia, vestira novamente meu menor biquíni e tomava sol com o bumbum para cima, poucas pessoas passavam pelo trecho que escolhemos, fugíamos um pouco das grandes barracas. De repente, surgiu um rapaz que se ofereceu para me tatuar. Disse que era tatuagem de hena. Como me achou simpática, deixaria quase de graça. Fizemos negócio. Mostrou-me diversos modelos. Olhei todos, depois falei: "o que desejo como tatuagem não é nenhum desses modelos." Ele me olhou surpreso. Continuei: "quero que você faça sobre meu bumbum a tatuagem de um minúsculo biquíni, menor que esse aqui." Ele me olhou muito assustado. "Como assim?", parecia não entender. Reafirmei: "quero como tatuagem um mini biquíni fio dental". Retrucou: "nunca fiz tatuagem assim, mas vou tentar". Soltei os lacinhos e puxei a peça para debaixo de meu ventre. Ele começou a fazer o desenho. Com o bumbum de fora ainda brinquei: "não vai tremer, viu?". Respondeu: "pode deixar, dona, sou profissional". Júlia, que estivera dentro d'água, reapareceu. Como já conhece minhas loucuras, olhou para minha bunda e depois para mim. Deitou para se bronzear sem dizer nada. Quando o rapaz terminou, perguntou a ela: "Vai querer também?". "Não, obrigada", respondeu. Ele disse que eu esperasse um pouco antes de entrar na água. Paguei e ele se foi. O desenho ficou ótimo. Na verdade, era o menor traje de banho que eu já vestira, mas só possuía a parte de trás. Passado o tempo, olhei para um lado, para outro, me levantei e entrei no mar. Foi uma sensação ótima. Permaneci dentro d'água durante um bom tempo. Quando saí, dirigi-me ao mesmo local e deitei novamente sempre de bumbum para cima. Entrei e saí da água mais duas ou três vezes. As pessoas que passaram nem notaram a diferença. Depois fomos embora para o hotel. Sobre o corpo, apenas a canga. À noite, fomos ao luau da Barramares. Havia ali uma confraternização. Muita música, muita paquera. Tomamos, cada uma, duas caipirinhas. Dançamos, mas não ficamos com ninguém.


Sábado:
Resolvemos ir a Coroa Vermelha. Aproveitamos a praia. Almoçamos camarão. Bebemos algumas cervejas. Não fizemos nenhuma arte. Antes de voltarmos, visitamos o local onde se supõe ter sido celebrada a primeira missa, depois fomos conhecer a aldeia dos Pataxós. Diante daquela grande cruz de concreto, não pude deixar de refletir: há quinhentos e seis anos, ao fincar mastro naquele lugar os portugueses cometiam o primeiro estupro na terra recém-descoberta. Daí em diante, violência sobre violência, extermínio sobre extermínio, até restarem apenas alguns poucos nativos, como estes que moram em pequenas casas com antenas parabólicas, como a menina índia em trajes típicos sobre a saia jeans, que me vendeu na praia um pente de pau-brasil. Não somos nós as pervertidas.


À noite, no ponto de ônibus, enquanto pensávamos como aproveitaríamos nossa última noite em Porto Seguro, duas adolescentes – deviam ter quinze ou dezesseis anos – nos perguntaram se tínhamos fogo. Júlia lhes ofereceu o isqueiro. A mais nova acendeu o cigarro, a outra pronunciou um sonoro palavrão. Como aquilo nos causou surpresa, pediu desculpas e disse: "estamos muito aborrecidas, nossos namorados nos abandonaram". Foi então minha vez: "meus amores, alegrem-se, foi a melhor coisa que podia ter acontecido a vocês". A mais velha franziu a testa e me olhou desconfiada. Perguntou: "como assim?” Olhei para Júlia, que sorriu, depois me voltei à surpreendida jovem: "basta que nos acompanhem para que vocês se arrependam de terem namorado um dia alguém por duas horas seguidas.” Acabamos todas rindo. "Olhem, lá vem o ônibus", foi a vez de Júlia dizer alguma coisa. Embarcamos, nós e as duas quase meninas. Só para resumir, naquela noite houve de tudo: barzinho, chope, caipirinha, refrigerante e pizza (elas não bebiam e tinham predileção por massas ­- ah, essas jovens!); houve uma boate, uma casa de forró, flertamos com variados homens e rapazes. No fim da madrugada, dançamos coladinhas com outros jovens na festa de uma barraca próxima ao hotel. Já perto do amanhecer, Júlia inventou de tomar banho de mar. Tirou toda a roupa e entrou na água sob os olhares assustados das meninas. Depois, foi a minha vez. Não demorou e elas também apareceram. Temiam que alguém lhes roubassem as roupas deixadas sobre a faixa de areia. "Procurem aproveitar a vida, não é sempre que se tem uma oportunidade dessas", tentei relaxá-las. Às primeiras manchas do vermelhas do céu, corremos para nossos pertences, vestimo-nos e nos apressamos para o hotel. As duas estavam muito felizes. "Puxa, não pensei que nos divertiríamos tanto, vocês tinham razão, ainda bem que aqueles caras não apareceram!", disse Clarice, a mais nova. Antes de nos despedirmos, passei nossos números e endereços eletrônicos a elas. "Entrem em contato, venham nos visitar", convidei. Elas nos abraçaram e nos beijaram. Depois, a mais velha falou: "vocês é que sabem viver!".


Domingo:
O avião decolou na direção do oceano. Da pequena janela pude apreciar em primeiro lugar o litoral sul; depois que fez a curva, o norte. Agora, voamos continente adentro. Vamos para São Paulo. Temos lá alguns amigos. Continuaremos a nos divertir. Um grande beijo a todos.

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