sexta-feira, julho 10, 2009

Cris e o amor (2)

A história que vai a seguir já apareceu por aqui. Mas a protagonista – Cris – já há algum tempo vem me pedindo para contá-la com mais clareza. Daí, publico-a de novo. Beijos a vocês, leitoras e leitores. Ah, outro dia descobri: as mulheres estão vibrando mais do que os homens, com meus contos.

Não se surpreenda, não me olhe desse jeito, eu conto o que aconteceu. Não sei por que os homens ficam tão excitados quando encontram uma mulher assim... Bem, quando encontram uma mulher mais à vontade. E tanto mais quando ouvem da voz dela uma história do tipo da que vou contar. Não olhe para o meu corpo agora, por favor, olhe apenas para o meu rosto. Permite que eu entre? Ah, obrigada; obrigada também pela poltrona. Escute.

Encontrei um homem lindo, parecia ainda rapaz, mas já entrava pelos quarenta; elegante, jovial. Fui eu quem o abordou.

“Você não é da Filosofia, da UFRJ?”

“Não”, respondeu, “sou da UFRJ, mas da Letras.”

“Você é muito parecido com um antigo amigo meu da Filosofia; pensei que fosse ele.”

Continuamos a conversar. Estávamos no Espaço de Cinema, era uma tarde de domingo. Ele tinha ido assistir a um filme espanhol; eu, apenas para sair um pouco de casa.

Não olhe pro meu corpo, por favor, olhe pro meu rosto. Isso. Assim.

Comentou sobre o que fazia na universidade. Concluíra um mês antes o mestrado. Falou sobre o tema da pesquisa. Acabou me convidando para assistir ao filme. Aceitei. Era uma comédia, nem lembro o nome, mas naquele momento até que nos divertimos.

Quando o filme acabou, ele queria lanchar; acompanhei. Conversamos mais um pouco. Falei sobre mim, sobre o que faço na vida. Ouviu com interesse.

Ao nos despedirmos, ofereceu uma carona. Contra-argumentei:

“Você vai ter que dar muita volta, vou de ônibus, não quero incomodar.”

“Não incomoda, a gente aproveita e conversa mais um pouco.”

Aceitei.

Uma semana depois estávamos namorando. Comecei a freqüentar a casa dele. Um apartamento pequeno, no Centro, muito arrumadinho, cheio de CDs e de livros.

O namoro, porém, não durou. Havia um mulheril terrível atrás dele e aquilo me incomodou.

Ele dizia:

“Não se preocupe, não vou trair você; elas são apenas minhas amigas; não se pode viver sem amigos, não é mesmo?”

Já pedi, por favor, esqueceu? Olhe pro meu rosto. Isso. Obrigada.

Mas não me acostumei com o jeito dele. A maior parte de suas amizades era de mulheres. Fui eu que terminei o namoro.

Um dia, estou sozinha de novo no Espaço de Cinema, quando o vejo. Mas dessa vez com uma mulher muito bonita. Me escondi, não deixei que ele descobrisse que eu estava ali. Ele não deu por mim. Então fui tentada a procurá-lo. Telefonei. Marquei. Saímos mais uma vez e depois de tomarmos algumas taças de vinho fomos para o apartamento dele.

“Vi você com aquela sua namorada”, eu disse.

“Namorada?”

“Sim, aquela de cabelo castanho curto.”

“Ah, sim, é a Rita. Mas não chega a ser uma namorada. Veio de BH, ficou aqui em casa alguns dias, acabou acontecendo alguma coisa entre nós, mas não posso dizer que seja namorada.”

A existência daquela mulher pôs fogo nas minhas entranhas. Acabei por abraçá-lo, beijá-lo e por tirar toda a roupa. Quando já ia nua, falou:

“Vou contar a você uma coisa que aconteceu. A mineira que esteve aqui é um tanto louca. Numa das noites, eu bebi bastante. No momento em que ela acabou de tirar a roupa, pedi: vai até lá fora e toca a campainha, faz de conta que você está chegando nua pra me namorar. Ela ainda perguntou: nuazinha? Sim, respondi, nuazinha. Não é que ela foi?”

Então, perdi a cabeça:

“Vou também. Sou tanto louca quanto ela.”

“Você?”, ainda duvidou.

Saí duas vezes, deixei que ele trancasse a porta. Eu estava pelada no corredor do quinto andar. E o corredor era tão iluminado...

Toquei a campainha. Ele demorou a abrir. Cheguei a pensar, um pouquinho arrepiada: será que ele vai me deixar pelada aqui fora? Mas ele abriu. Entrei, me agarrei a ele e trepamos imediatamente. Eu que sou difícil pra gozar, naquela noite gozei primeiro. Foi isso. Ele acabou despertando em mim algo que eu nunca tinha imaginado. Concluí: agora já sei como fazer para me satisfazer em termos de sexo.

Veja só a maluquice que dá na gente quando se está apaixonada. Sou uma pessoa importante, diretora de uma escola técnica federal. Já pensou se uma pessoa maldosa me flagra nua, se sou presa?, sei lá. Na hora, esses perigos não me vieram à cabeça.

Antes eu era muito envergonhada, pouco a pouco me tornei uma mulher mais desinibida. Quando eu conto essa história a qualquer namorado de ocasião, ele se excita bastante. Também acaba pedindo para eu ir pelada lá fora. De início, reluto, mas depois acabo aceitando. Não sei se é por paixão ou se porque gozo melhor com o risco. Na hora me entusiasmo tanto, que nem me dou conta dos perigos que corro. Mas às vezes ainda tenho umas recaídas: morro de vergonha.

Agora pode olhar pro meu corpo, pode me apreciar nua. Só não me peça para ir lá fora de novo, por favor. Por hoje, minha cota já está esgotada.

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