Minha vida ia muito boa, até que apareceu uma mensagem no meu correio eletrônico: “seria uma miragem ou foi você que passou hoje por volta das doze horas em frente ao restaurante R.? Eu estava lá e não pude deixar de admirá-la.” Um amigo meu, também professor, assinava. Já faz algum tempo ele vem me enviando mensagens. Comenta alguma coisa sobre a nossa profissão, alguma atitude do sindicato, ou mesmo me manda textos e links de matérias que publica em alguns sites. Desde a última mensagem, porém, comecei a perder a tranquilidade.
Miragem? Normalmente miragens aparecem quando alguém está sedento, atravessando um deserto e a imagem de um oásis lhe vem à mente. Trata-se de um tipo de delírio em meio à situação muito adversa. Ah, eu e minha mania de analisar tudo o que os outros dizem. Eu seria a salvação para ele, que vive em meio a dificuldades, como a atravessar um deserto?
Fiz trinta e dois anos, não tenho namorado nem quero ter. Já os tive em pouca quantidade, mas no momento não os desejo. Há outras maneiras de namorar, isto é, de aproveitar a vida.
Às vezes, sozinha no meu quarto, entro numa dessas redes sociais e converso com os meus amigos. Muitos me conhecem apenas do mundo virtual, sabem da minha fisionomia e do meu corpo pelas fotos que posto. O que me proporciona maior prazer, entretanto, é conversar com eles inteiramente nua e eles nada saberem sobre isso. É interessante, nem imaginam que estão a falar com alguém que está na cama, em pele, com o computador sobre as pernas. Não sei dizer o motivo – nem procuro saber – de eu sentir tanto prazer nessa situação. Depois que desligo o notebook, mergulho sob o edredom e durmo tranquila o resto da madrugada. Ao acordar, a primeira coisa que faço é ligar o aparelho, que deixo sempre ao lado da cama, ver meus e-mails e falar com alguém que esteja online.
Outro dia ainda senti prazer maior. Escrevi uma história erótica: eu saía nua no meu carro, de madrugada, passeava por diversos lugares da cidade sem parar o veículo e, depois, ainda escuro, voltava para casa. Imaginem o prazer que esse texto me proporcionou: em primeiro lugar o tema; depois, escolher as palavras, ordenar as frases, elaborar imagens, apurar o estilo... Será que preciso mesmo de namorado?
Agora vem esse meu amigo dizendo que viu uma miragem. Não sei por que, mas me deu uma vontade louca de dizer a ele que a miragem era eu mesma, e que se ele me chama de miragem posso considerar sua afirmação um tanto ofensiva, porque sou uma mulher, algo bem mais concreto do que uma miragem. Se ele quiser tirar a prova, pode vir aqui em casa para constatar a minha realidade, pode fazer um exame mais apurado sobre o meu corpo. Sem problemas...
Ah, antes eu era tão feliz, bastava-me a nudez e o computador. Agora, não sei o que aconteceu. Toda hora o desejo de tê-lo ao meu lado. O que vai ser de mim daqui pra frente?
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