segunda-feira, dezembro 19, 2011

Então tá, morena, então vamos

Esses homens daqui só querem saber de garota nova. Outro dia uma amiga me falou que um senhor do Córrego estava sozinho e queria arrumar uma namorada. Marquei com ele e fiquei esperando no ponto de Glicério. Quando ele chegou, bastou me olhar pra dizer que eu não era o seu tipo. Pensava que eu fosse mais jovem. Ele já está lá pelos 50, e só pensa em mulher nova. Falei que ao me conhecer melhor mudaria de opinião. Muitas garotas não sabem o que eu sei. Disse que podia proporcionar a ele muito prazer. Mas ele cismou que queria uma mulher jovem.

“Você quer uma mulher pra sustentar”, arrisquei.

“Pode ser que tenha um emprego, não vou precisar sustentar de todo”, falou com aquele ar de caipira que só os homens do Córrego têm.

“Não faz mal, não estou pedindo pelo amor de Deus”, falei.

“Você é bonita, se alguém quiser mulher da sua idade, está no ponto”, sorriu e soltou a fumaça do cigarro.

“Você gosta de usar chapéu”, apontei para a cabeça dele.

“É desde do tempo da montaria.”

“Montaria, que bom, me leva na garupa?”

“Agora só se for de moto”, parecia querer encerrar a conversa.

“Fiquemos amigos”, declarei.

“É sempre bom.”

“Você me leva até o Óleo?”

“Levo”, apontou a garupa. “Conhece alguém por lá?”

“O Genivaldo.”

“Ué, dizem, dizem que ele é doido.”

“É dos doidos que eu gosto”, insinuei.

“Não sabia que ele gostava de mulher.”

“E se gosta, precisa ver, ainda quer deixar a gente nua no sereno, no meio da noite.”

“Nua no sereno?”

“É, ideia dele”, tudo mentira, eu inventava pra conquistar o homem. Somente cumprimentava o Genivaldo.

“Ele gosta de namorar?”, quis saber.

“Oh, se gosta, e quer que a gente apareça nua, na porta dele.”

“É mesmo? Espertinho o sujeito.”

“Ele se faz de bobo, mas de bobo não tem nada.”

“O malandro consegue então as meninas.”

“Consegue. Diz que outro dia levou duas pra passear no Frade, tarde da noite, fez que tirassem a roupa, namorou ambas, depois falou quer só devolvia os vestidos no dia seguinte, na casa dele.”

“Verdade?”

“Verdade. E não é que elas foram?”           

“Não acredito”, disse ele.

“Como não acredita? Eu era uma delas.”

“Você?”

“Eu, Eu de Castro. Isto é, Isabel de Castro.”

“Se eu pedir você faz o mesmo, como fez pro bobo do Genivaldo?”

“Oh, se faço, basta querer me namorar.”

“Assim, com tanto estímulo, namoro.”

“Vai querer ainda garota nova? Elas nem tão pensando nessas coisas, só querem o dinheiro dos velhos”, ri pra ele e peguei na sua mão.

“Então, tá, morena, então vamos.”



Desejo a todos Feliz Natal, boas festas de fim de ano, e 2012 pleno de saúde, realizações e muita fantasia

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