quinta-feira, dezembro 15, 2011

Quatro ou cinco da manhã

O arrepio que sinto agora só não é maior do que outro que senti no final de um baile de carnaval no longínquo ano de 1989. Às portas do amanhecer, um generoso folião livrou-me de voltar nua para casa, emprestou-me a camiseta.

Desta vez estou também nua, mas em Copacabana, na praia. Faltam poucos minutos para as sete da manhã.

Tudo começou à noitinha, quando conheci um homem muito agradável. Chama-se João. Conseguiu me tirar da fila de um cinema e me levar para uma festa. Passamos três ou quatro horas dançando numa boate, no Arpoador. Foi ótimo, ele transbordava alegria e parecia amigo de todas as pessoas, comemos e bebemos de graça. Muita música, muito aperto, nada a reclamar da inesperada madrugada. E depois?

Saímos da boate e começamos a passear de carro. Pensei que ele me convidaria para um motel, ou mesmo para sua casa, que disse ser no Alto da Boa Vista. Mas parou o automóvel em Copa, aqui na altura do Othon Palace. A maioria das pessoas sabe que a praia de Copacabana tem vários trechos, ou postos, como são mais conhecidos. Em alguns deles a areia é comprida, anda-se muito até se chegar à beira d’água. Em outros, a faixa de areia é estreita, apenas vinte ou trinta passos e o mar já está a nos respingar a pele. Ficamos num trecho assim.

Ele me desceu para a areia, bem junto à parede que oculta o calçadão. Ali ninguém nos podia ver. Esperto o João, já conhece o pedaço da praia onde pode estar de madrugada com as mulheres que conquista, não precisa pagar hotel nem levá-las para a própria casa. Forrou a areia com o casaco e me deitou. Eu tinha bebido tanto que gostei do descanso. Ele, porém, tirou toda a minha roupa. Eu nuazinha, às quatro e pouco, quase cinco da manhã, na praia. Mas João sabe fazer sexo, sabe muito, como trepa bem. Deixei-me envolver pelos seus encantos. Gozei duas vezes, gritei de prazer, ainda bem que ninguém ouviu. Depois, adormeci.

Passou algum tempo, acordei, o dia claro. E eu nua!

Penso em me vestir, mas antes preciso me lavar. Corro até a beira do mar. A água fria invade-me primeiro os pés e os tornozelos, depois sobe até minhas coxas, a seguir sou eu que me enfio nela, até o pescoço.

Sinto-me limpa, purificada, longe os resíduos da noite, o excesso de bebida e o melado do sexo. A água gelada recupera-me a energia. Então, o arrepio! O carnaval de 89. Espero, eufórica, o cavalheiro que me vai livrar de voltar nua para casa.

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