quarta-feira, dezembro 07, 2011

Você vem com a gente, não é mesmo?

Então, já fiz tudo que me pediu, agora vá buscar meu vestidinho, você deu sua palavra, não posso voltar nua pra casa. Falta ainda uma coisa? O quê? Ah, sim, a historinha. Está bem, conto. Mas veja lá o que você me vai aprontar!

Tudo começou quando a moça que mora no quarto andar do meu prédio me convidou:

“A senhora quer ir a uma festa comigo e mais algumas amigas? Reparei que é tão jovem, e a festa tem algo de especial.”

“Não precisa me chamar de senhora, meu nome é Maria Clara, me chame de Clara, ok?”

“Tudo bem, Clara, quer ir a uma festa com a gente?”

“Que tipo de festa?”, eu quis saber.

“Um baile à fantasia”, sorriu e juntou as mãos, esperava a minha confirmação.

“Oh, um baile à fantasia, que bom, adoro bailes à fantasia. Mas não vão apenas moças, como você?”

“A senhora... ou melhor, você também é jovem, como a gente.”

“Jura? Olha que falo a minha idade.”

“Não precisa”, antecipou-se, “tenho visto aqui na praia que você pode ser confundida com qualquer uma de nós, tem um corpo quase de adolescente.”

Tive de rir.

“Está bem, aceito seu convite para o baile à fantasia, quando será?”

Ela me entregou o convite. Disse que eu podia ir no mesmo carro, junto com ela e suas amigas.

“Preciso falar mais uma coisa, Clara”, disse pensativa.

“Pois, fale.”

“Essa festa é um pouco assim... assim... como devo dizer?”

“Já sei, posso completar?”, tomei-lhe a palavra.

“Sim”.

“Uma festa de ar erótico.”

“Isso mesmo, ar erótico.”

O mais importante não é contar como foi a festa, porque festas desse tipo já frequentei aos montes, e já até fiquei nua em algumas delas, o que vale contar é o que aconteceu a partir dali.

A festa foi numa cobertura. As pessoas só podiam entrar fantasiadas. Eu nem disfarcei, vesti meu menor biquíni e sobre ele uma rendinha azul. Para sair de casa, enrolei-me numa capa de cetim preto, feito um tomara-que-caia. Acho que não é preciso dizer, mas vá lá, para me igualar às minhas jovens amigas usei uma máscara que apenas me cobria os olhos e pequena parte do rosto.

Parcela grande dos rapazes caiu de amores por mim. Dancei com todos. Os mais entusiasmados queriam me tocar a pele, escorregar as mãos por baixo do tecido transparente. Confesso que, em momentos de maior euforia, permiti toques sutis. Mas houve um moreno que grudou em mim e não mais me largou. No final, depois de tantas músicas e bebidas, começou a dizer que me amava, que queria me namorar etc. Respondi a todos sempre de modo delicado, acompanhando minhas amigas, que também vez ou outra eram permissivas. Mas o moreno insistiu tanto, que tive de aceitá-lo mais vezes junto a mim do que os outros.

Findo o espetáculo, entramos todas no mesmo automóvel que nos trouxera e voltamos para casa. 

Na manhã seguinte, o moreno me procurou. Chama-se Mário. Sua desculpa foi que viera para me entregar a capa de cetim que, também segundo ele, eu esquecera na festa. Primeiro me telefonou. É lógico que não lhe dera o número; alguém, no entanto, deve ter-lhe segredado. Hoje, essas coisas se conseguem com muita facilidade. Mas o problema foi que ele não me conhecia sem a máscara. Qual seria sua reação ao constatar que sou um “tantinho” mais velha que minhas amigas adolescentes?

Ele veio parar aqui no prédio, bateu-me à porta. Abri, sem pejo algum. Sorriu e entrou. Já sabia que eu era a mulher com quem ficara se esfregando na festa. Cobriu meus lábios e falou: “você é a mulher mais linda que eu jamais conheci, nada deterá o nosso amor.”

Quase falei a data do meu nascimento, mas calei.

“Não se preocupe”, adivinhou minhas palavras, “nascemos no mesmo ano.”

Dali em diante, passamos às nossas aventuras. E foram tantas. Cada dia que passava, mostrava-se mais apaixonado. Acho que isso aconteceu por causa de minha ousadia.

Frequentamos a praia. Até então, eu usava um discreto biquíni. Mas, ao lado dele, tive de comprar um bem mais ousado, de lacinhos nas laterais. Num dia desses, ele desfez os laçarotes e me deixou nua dentro d’água, aqui em Ipanema. Nada reclamei. Ainda acrescentei : “guarda a parte de baixo dentro da tua sunga”, e passei o biquíni a ele. Estou fazendo maldade, pensei. Mas cheguei à conclusão de que tudo estava tão bom, tão gostoso, que não havia motivo algum pra me sentir culpada.

Ouça nosso estimulante diálogo:

“Você tem um corpo de adolescente”, diz ele.

“Você gosta?”, olho séria, bem nos seus olhos.

“Claro, adoro”, seu rosto não disfarça a mais pura verdade.

“Acho que você não quer crescer, prefere sempre as adolescentes”, acrescento.

“Então por que você também não cresceu?”

“Eu, não cresci, como assim?”, faço-me de desentendida.

“Se você tem esse corpo de menina, é porque também quer ser jovem.”

Mergulho, então, nua nas suas mãos.

Outro dia, preguei outra surpresa. Saí com ele à noite, só de biquíni. Fomos até o Recreio. Lá saltei do carro à procura de um quiosque. Ele demonstrou alguma surpresa. Mas bebemos duas caipirinhas e tudo ficou resolvido. Não custou e eu corri até a areia. Ele foi atrás. Encontrou-me nua.

É esse o método. Sempre nua. E ele cada vez mais apaixonado. No carnaval diz que vai me levar a um baile, desses como os de antigamente, do Monte Líbano. Contei a ele sobre aquele tempo.

“Querido, esses bailes não existem mais.”

“Vamos encontrar um.”

“Caso a gente encontre, olha que vão me deixar nua!”

Ele não demora a me dizer:

“Quero levar você nuazinha pra casa.”

Volto ao presente:

“Então me leva agora” e corro nua até o carro.

Ele me surpreende:

“Hoje já bebemos muito, vamos deixar o carro aqui e voltar de táxi!”

“Nua num táxi? Ótimo, e digo a você: não será a primeira vez!”

Tinha certeza que nosso namoro nunca iria acabar.

Mas outro dia, a mesma moça que me convidou da primeira vez apareceu de novo:

“Vai ter outra festa, e vai ser muito legal, porque nesta os homens não conhecem nenhuma das mulheres, e as mulheres também não conhecem nenhum dos homens, você vem com a gente, não é mesmo?”

A partir daí você já sabe. Conheci você, ficamos juntos a noite inteira. Abri mão da carona no automóvel das meninas. Permiti que me tirasse do baile nua, estou há horas em sua companhia e fiz tudo o que me pediu. Agora é a sua vez. Vai buscar pra mim o vestidinho, vai. Pode ser curtinho e justo, mas tem de ser da F. Meu manequim é 40, há uma loja pertinho, no shopping, a cor você escolhe.Volte rápido, viu; fico esperando escondidinha, aqui mesmo no carro.

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