quinta-feira, abril 19, 2012

Informática

Quando vejo alguém que me agrada, não faço cerimônia, lanço um olhar sedutor. Quase sempre é infalível. Espero, enfim. Todos se aproximam. Alguns vagarosos; outros, tímidos supondo algum engano. Não decepciono. É você mesmo, como vai? Então, ouço a voz: conheço a senhorita, não? Ou: a senhorita me conhece de algum lugar. Isso mesmo, somos velhos amigos ou, quem sabe, amantes. Passeamos. Sentamos em alguma cafeteria. Tudo muito requintado. Tilintar de xícaras, porcelana. O líquido fumegante e escuro, um biscoito. Não são necessárias muitas palavras. Apenas sorrisos e olhares, reciprocidade. Meu novo homem acaba de se dar por vencido. Não te preocupes, temes a mim, uma mulher? As conversas não são muito alentadoras. A maioria não tem assunto. Artista algum deles? Não. Quase todos homens de negócio, talvez gerentes, ou mesmo financistas. Ah, tão bom tivesse à mão algum poeta. Mas estes são raros. Mais fácil encontrá-los nos livros. Dizem que de corpo presente são complicados, contraditórios. Estou a sair da cafeteria com o meu mais novo amante. Sim, amante. Não no sentido que as pessoas dão à palavra, mas com aquele que estou prestes a amar. Isso mesmo, não posso dizer que estou apaixonadíssima. Uma palavra a mais, um engano e ponho tudo a perder. A avenida Rio Branco ainda tem o sol às cinco da tarde num dia de julho. Entro, ele sempre ao meu lado, um edifício, ou mesmo um arranha-céu. Sou eu quem o guio. Vamos, faço-te uma surpresa. Subo ao seu lado as escadas rolantes. Sobrelojas e mais sobrelojas, boxes com produtos de informática. Não gosto muito da informática, mas tenho uma amiga que trabalha em um desses boxes. Atrás dela há um fundo falso, uma espécie de depósito para as mercadorias. Eu e ela devemos muitos favores uma à outra. Encosto no balcão, pisco um dos olhos. Ela já sabe a senha. O problema é este meu novo namorado. Ele pensa que vou aplicar-lhe um golpe. Vê, quero apenas estar a sós contigo; não te apraz? Ri o homem um tanto incrédulo. Nada teme, aqui é um lugar público e esta é a Lúcia. Entrem, diz Lúcia levantando a tampa de um dos cantos do balcão. Fiquem à vontade. Eu e ele deslizamos para trás da cortina. Entendeste o que desejo? Terás muito o que contar a teus amigos nas conversas de botequim. Mas assim tão de primeira?, surpreende-se. Pensas que deveria ser tu a tomar a iniciativa, não? Aprecio a mulher quando atirada, responde-me. Então, está feito. Sento-o numa cadeira, dessas dobráveis, de mesa de bar. Só há a cadeira e um cabideiro. Em uma das hastes está o casaco de Lúcia. Em um segundinho eis o meu vestido ao lado do casaco da minha amiga. Sou amazona sagaz, monto sobre meu alazão. Eu conduzo, sou boa no galope, deito minha voz lânguida no seu ouvido. Nada mais preciso dizer. Vou cada vez mais veloz. Quando o sinto à beira do abismo, poupo-lhe o salto. Quero-o inteiro até a explosão, leite a condensar-se na minha boca, a lambuzar meus lábios, a garganta a ferver... Se o encontro de novo? Quem sabe.

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