Nunca fale ao seu namorado sobre seus exs. É um preceito elementar. Mas o pior é descrever alguma loucura que você tenha feito com um deles.
Fui cair na besteira de contar que um ex-namorado me deixou nua numa rodovia, disse ainda que, no final, acabei gostando da brincadeira. Meu atual namorado, embora tentasse não demonstrar, fixou-se na situação. Não passaram muitas horas para que ele voltasse ao assunto.
“Você não pensou no perigo que corria?”
“Sim, pensei, mas na hora não sei onde estava com a cabeça.”
“Ele poderia não ter voltado.”
“Cheguei a temer que isso acontecesse”, falei.
“Um homem que inventa essas brincadeiras é infantil, ou não gosta de mulher.”
“O problema não é ele gostar ou não de mulher, mas a mulher gostar da brincadeira.”
“E você gostou?”
“Naquele momento, sim. Já falei sobre isso.”
“Então a ideia dele não foi tão má assim.”
“Claro que não.”
“Iria outra vez?”
“Acho que agora, não. Tenho medo.”
“Medo de quê?”
“Você quer me fazer passar por isso outra vez, não?”, sugeri.
“Só se você quiser.”
“Não, não quero, minha época de loucuras já acabou.”
Não tocamos mais no assunto. Mas sempre ao estar a seu lado no carro na mema rodovia, que também utilizávamos em dias alternados para ir de uma cidade a outra, ele ficava agitado.
Uma semana depois, enquanto voltávamos tarde da noite para casa, perguntou:
“Você já falou sobre aquilo a outra pessoa?”
“Sobre o quê?”
“De ter ficado nua na rodovia.”
“Vem você de novo, parece que ficou tarado com esse fato.”
“Falou ou não falou?”, olhou para mim rapidamente enquanto dirigia.
“Não, não falei.”
“Jura?”
“Juro. Falei só pra você?”
“Então não há perigo.”
“Perigo de quê? Não me bote curiosa.”
“Perigo da coisa se espalhar.”
“Espalhar, como assim?”
“Alguém dizer que a viu nua por aí, ou que você chegou pelada em casa, de madrugada.”
“Não, ninguém vai poder falar de mim, e esse caso já aconteceu faz um bom tempo.”
“Então está bom”, falou enquanto reduzia a marcha onde há uma faixa para travessia de pedestres. Mas não havia pedestre algum para atravessar.
“Você teria coragem?”
“Coragem de quê, Mário.”
“De atravessar a faixa de pedestre.”
“Atravessar para quê? Não é o meu caminho.”
“Atravessar nua.”
“Você está querendo mesmo isso, não? Fui contar, agora estou frita.”
“Frita?”
“Já que você ficou morrendo de tesão depois que contei e já não fala em outra coisa, vou satisfazer a sua vontade. Encoste ali”, pedi.
Ele manobrou.
“Vamos fazer direito. Tiro toda a roupa, deixo dentro do carro e você parte. Faça o retorno daqui a dois quilômetros e volte para me buscar, ok?”
“Você vai tirar toda a roupa?”
“Não é isso que você quer?”
“É, pode ser”, sua voz chegou a embargar.
“Então, vamos, combinado?”
Fiquei nua, entreguei o vestido, cumpri o prometido.
Ele? Não apareceu. Pelo menos naquela noite.
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