sexta-feira, junho 01, 2012

Tênis vermelho cano longo

Corro na orla, mais de duas da madrugada. Um carro me segue, sei que alguém dentro dele me está filmando. Minhas passadas são firmes, resistentes, calço tênis vermelho cano longo. O início de outono me acaricia a pele, mas não sinto frio, o calor do meu corpo em movimento basta para me manter aquecida. Até agora não cruzei com ninguém. Não fosse o automóvel atrás, a vinte ou trinta metros, estaria totalmente só.

Sei que o tênis cano longo cobrindo os pés e os tornozelos de uma mulher é um fetiche, e o homem que a olha nua, apenas de tênis, há de achá-la a mulher mais gostosa do mundo. Já fiz fotos assim. Foi o maior sucesso. Posei em pé, sentada sobre um banquinho, no chão em posição de lótus, deitada. Mas sempre me cobrindo os pés e os tornozelos o tênis cano longo.

Até que meu namorado me convenceu a correr na orla da praia, alta a madrugada. Sempre corri, disse a ele, tenho bom preparo físico. Ele, porém, acrescentou: correr vestida apenas de tênis cano longo.

Há meninas que usam minissaia com esse tipo de tênis. Ficam umas gracinhas. E não há homens que não se voltem para elas.

Passeamos no carro dele. Paramos no Leblon para comer sushi. Comida sensual, o sushi, acompanhado de caipirinha de saquê, maravilha. A bebida logo produz efeito, sobe pelas pernas. Ai, que vontade de ficar nua. Que vontade de transar.

Saímos do restaurante ainda contagiados pela arrumação artística e pelo sabor dos pratos da culinária japonesa. Já no carro, meu namorado envolve minhas pernas com suas mãos, salta às minhas coxas.

Espere, eu mesma tiro. Sem a saia; a seguir, sem a blusa. Vou apenas de tênis cano longo. Me abrace, me beije, sussurro.

Você está linda, vamos andar um pouco. Ele começa a guiar pela orla marítima. Você gosta mesmo de andar nua, não é mesmo?, sua voz baixa soa amorosa.

Adoro.

Será que faz frio lá fora?

Vou experimentar.

Isso mesmo; nos seus olhos há uma ponta de euforia; vamos pensar positivo, não vai aparecer ninguém, diz.

Ele pára. Saio do carro e faço ligeiro aquecimento.

Você é boa atleta, há de conseguir correr os quatro quilômetros.

Mesmo depois das duas caipirinhas, sorrio para ele.

De repente a vontade louca de escapar, correr sozinha, ninguém atrás de mim. Depois subir a pedra na ponta da praia, nua.

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