Lembro-me de um namorado antigo. Como era carinhoso o homem.
Queria namorar durante a maior parte do dia e também me queria nua pela casa. Me fazia vestir
apenas sapatos. Eu podia escolher os mais bonitos. Depois desejava me ver com
uma bolsa no ombro, ou mesmo numa das mãos caso fosse pequena. Eu fazia de
conta que chegava daquele jeito à casa dele. Muitas vezes fui ao lado de fora
para bater e ele abrir a porta. Me recebia como se eu fosse a pessoa mais
vestida do mundo. Sem demonstrar pejo algum, eu entrava. Ele pedia,
então, que eu sentasse. O que eu fazia com elegância; cruzava as pernas e
esperava que ele iniciasse a conversa. Perguntava o que eu desejava comer e beber. Após alguns minutos, voltava com uma bandeja de
prata, tudo no maior requinte. Tempos bons aqueles.
Outra lembrança que me afogueia é a de um namorado que me
levava de carro para passear. Como me admirava muito de roupa curta, pedia que eu
saísse de casa quase pelada. Às vezes eu nem tinha coragem de sair do carro. Certa
vez acabei indo de biquíni. “Não vou poder sair do carro desse jeito”, falei.
Mas, lá pelas três da manhã, comemos num quiosque na orla marítima; ele me
emprestou a camisa para eu vestir sobre as duas mínimas peças. Numa outra ocasião, me
levou para uma estrada escura. Quis que eu saísse do carro e deixasse as roupas
com ele. Senti um friozinho na barriga. “E se aparecer alguém, já imaginou?
Você vai me perder pra outra pessoa; eu nem terei como nada negar. O que
posso dizer caso alguém me encontre nua numa estada?” E lá fui assim mesmo para
lhe satisfazer a vontade.
Então aconteceu... Houve o policial. O que você faz quando
um policial lhe surpreende nua? Nada, não é mesmo? Não há nada a fazer nessa
situação, a não ser esperar. Eu esperei que ele me levasse presa. Mas não foi esse o final. Ele me levou para sua casa e quis me namorar. Além de namorarmos de todas as maneiras possíveis e impossíveis, tinha mania de investigador. Me soltava nua dentro de um
pequena floresta, digamos assim sobre o lugar, e pedia que eu me escondesse.
Não é que sempre me encontrava, e bem antes do amanhecer.
Meses depois estava eu vestidíssima, no teatro, assistia à
melhor peça da temporada. E ia acompanhada de um ator, que tinha me conquistado num
restaurante. O policial? Ficara para trás. Eu e o ator, depois da primeira
saída, representamos os mais diversos papéis. Eu ia ora vestida, ora nua. Mas
o que valia era minha atuação. Foi tão bom.
Vocês hão de perguntar, por que não permaneci com algum desses
namorados se todos sempre são tão adoráveis, carinhosos e me queriam bem. Na verdade eu vivia uma ciranda, saía da mão de um para cair na de outro. Não havia nada
melhor.
E agora estou aqui, nua, do lado de fora de casa. Por que
esses homens sentem tanto prazer com essas pequenas perversões? E não é que passei também a gostar?
Cada um que me faz uma proposta desse tipo, me injeta mais combustível; voo então a
mil. Ainda há pouco queria tanto sair por minha conta, nua, às dez da noite, mas foi ele quem me pediu. Aquele que estava na plateia e acabou por me
arrebatar. Mas as pessoas que chegaram não estavam no roteiro. E sei que este meu namorado vai oferecer cerveja, vai conversar, e vou mofar aqui, neste vão da bomba d’água...
Não fosse meus seios grandes, voltava correndo lá pra dentro, peladinha!
Não posso deixar que se esgote meu estoque de lembranças.
Houve também uma praia, deixei meu biquíni nas mãos de um
admirador que conhecera naquela mesma tarde, e eu dentro d’água, meu destino em
suas mãos... Ai, não sei por que a sensação do creme hidrante sobre a pele, eu toda molhadinha; quem gostava de me deixar lambuzada assim era aquele lá do
começo, que me colocava nua sobre saltos e carregando uma pequena bolsa; eu
prestes a tragá-lo; ou, caso quisesse escapar, impossível, tão escorregadia...
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