Estou na praia, mas é noite e visto apenas o biquíni, imagina?
Mulher salta do carro, de fio dental, e pede um refrigerante num quiosque da orla, passa de meia-noite. O carro se vai e ela fica só. Seria um bom início de história, não?
A cor do biquíni? Vermelho. Depois, caminho sobre a areia como se fosse entrar na água para um ligeiro banho. Uma pessoa aqui, outra ali me olham. Mas não me inibo, sei representar, disfarço bem o arrepio e o breve tremor. Estou sozinha? Em parte, sim. Mas pedi a um amigo que ficasse por perto e aparecesse caso eu o chamasse. Além do minúsculo traje, o telefone pequeno preso na tirinha, ao lado de um dos lacinhos.
Ao ver que um homem se aproxima, não grito pelo meu amigo, volto ao quiosque e peço uma garrafinha de água. O empregado sorri. Sabe que ali só aparecem madames e aquela não lhe é estranha. Ao acabar de beber a água, meu amigo, preocupado e inoportuno, surge no carro cinza metálico, desce e me entrega a canga.
“Vá embora”, devolvo-lhe o pano.
Ele obedece.
O desconhecido volta a me espreitar, mas se demora a chegar. O que acontecerá? Tenho tempo pra pensar?
Primeira hipótese: Na certa ele vai me agarrar. Será que poderei contra-argumentar: “estamos num país civilizado, você tem que respeitar meu direito de andar de biquíni à noite.”
Segunda: o homem me chama de prostituta. “Só as mulheres de aluguel andam assim, de repente você nem mulher é, mas um travesti...” Vou responder: “nada disso, apenas uma mulher a passear, e à vontade, pode perguntar ao empregado do quiosque, ele me conhece de outros carnavais.” Ah, carnaval? Certamente toco mais fogo no homem.
Outra possibilidade: ele insiste para eu namorá-lo porque se sente só e precisa de uma mulher bonita e compreensiva. Estes são os carentes, o tipo de homem que mais aparece por aí, querem uma caridade. Já viu alguma mulher trepar por caridade? Nem sendo freira.
Uma possível saída é o telefonema. Saco o telefone da tirinha do biquíni qual uma arma e aponto para meu amigo voltar. Um grande problema, porém. Na afobação arranco junto o biquíni, portanto, mesmo sem querer facilito as coisas.
O homem caminha na minha direção. Agora é certo que ele vem falar comigo.
Ainda tenho tempo de lembrar da Vânia e da Carlinha. Tão mais ousadas que eu.
Vânia vai à praia à noite no verão vestindo apenas uma canga. Nada sob. Corre à areia, solta o pano, deita sobre ele e fica horas a fio. Só se cobre de novo quando está próximo o sol.
Carlinha vai além... “Carlinha, será que você não tem medo de ser agarrada?”, perguntei várias vezes. Vai à praia durante a noite vestida apenas pelo... carro! Sai da garagem peladinha, estaciona e passeia nua na areia; antes de amanhecer, volta Carlinha. Sempre peladinha!
O desconhecido encosta ao meu ouvido e pergunta:
“Quer jantar comigo?”
Lógico que aceitei.
Mais uma coisa, ele nem notou que eu estava de biquíni.
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