Ao voltar a vista para o calçadão, percebi um homem a me olhar. Depois, sorriu; mais adiante me seguiu. Por que ele não acompanhou a jovem que ia sem sutiã? Eu tão vestida... uma bermuda de lycra que descia até os joelhos, a blusa de ginástica e por baixo o top, dos grandes. O admirador acabou por vir falar comigo.
“Conheço você, não? Da academia de musculação.”
E não é que conhecia mesmo? Fiquei a falar com ele. Andamos juntos. Convidou-me para um passeio de bicicleta.
“Que tal? É tão bom. E tenho logo duas.”
Fomos ao encontro das bicicletas. Pedalamos os dezesseis quilômetros de orla. Enquanto seguíamos, vez ou outra eu olhava o mar. Estava bravio. Poucos os banhistas, e um ou outro atleta. No fim da praia, voltava a moça que eu vira sem sutiã. Atrás dela um jovem. Quem sabe a seguia? Sorri para o meu companheiro, que nada sabia daquela história nem nada conhecia sobre meus tempos de tomar banho de mar nua.
No fim da manhã, ele me convidou para uma festa que aconteceria à noite.
“Uma festa?”, ainda repeti. “Mas você não acorda cedo para vir correr e pedalar?”, insisti.
“Uma vez ou outra não é nada demais.”
Só não lembro se o namorei depois da festa, pois sempre tive muitos namorados. Houve até um que me pediu para correr nua, de madrugada, na beira da praia. Não é que corri? Ele ficou tão eufórico que chegou a dizer: “não devia ter deixado você se vestir. É tão bonita nua.” Será que ele deixou mesmo eu me vestir?
Às vezes essas coisas acontecem. Uma amiga me contou que certa vez, após terminar de transar com um cara, não encontrou sequer uma peça das próprias roupas.
“Rosa, o homem era tarado”, falou.
“E você, o que fez?”
“O que eu podia fazer?”, respondeu com um sorriso nervoso. “Ainda tive sorte de sair viva.”
“Ah, não exagere”, falei, “você me contou que saiu com esse homem mais de uma vez.”
“Será?, não lembro.
“Mas eu lembro. E sei que você ainda espalhou por aí: ‘o importante foi que ele me fez gozar!’.”
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