Depois de vários dias de chuva um sol tímido, ainda metade escondido entre as nuvens, deu o ar de sua graça, mulher que, entre lençóis, deixa escapar um lado do ombro nu. Enquanto eu permanecia deitada, o imperceptível movimento da moldura da janela sobre a cama marcava o avançar das horas..
Eram quinze para as dez quando desci à praia. Havia pouca gente na areia. O mar bravio explodia, transbordava e alfinetava-me com gotículas de gelo, devido à ressaca. Mesmo assim soltei a canga e me preparei para o mergulho. Meus pés já iam envoltos na breve e irregular espuma da beira d’água quando uma amiga segurou-me por um dos braços.
Oi, Ana, quanto tempo, falou satisfeita por me ter encontrado.
Era Alice. Quis saber como eu estava passando, o que fazia ultimamente e se assistira a determinados filmes. Conversamos durante uns dez ou quinze minutos. De quando em quando eu fazia menção de que não demoraria a correr para o mergulho. Ela, porém, puxava um pouco mais de conversa. Alice vestia bermuda e camiseta. Aparentemente não viera à praia para o banho de mar. Após suas últimas palavras, o beijo de despedida e um até breve, vi-me desimpedida.
Ia já correr para o mergulho, mas reparei um homem a me olhar. Na verdade, um rapaz. Pela insistência do seu olhar, acho que já me acompanhava desde que eu chegara. Talvez meu corpo enxuto e meu biquíni mínimo cor de terra houvessem despertado nele o pensamento de que, como a praia era de poucos frequentadores, poderia vir conversar comigo, ou mesmo deitar-se ao meu lado. De início sua ostensiva presença assustou-me. Senti até algum temor. Mas, pouco a pouco, olhei para o mar, para as ilhas distantes, reparei o horizonte, corri e mergulhei nas águas frias e agitadas.
Mesmo com o mar revolto, senti prazer em meio às ondas e espumas que me cercavam. O sol iria se firmar, eu tinha certeza, e com a sua presença o mar depois de um ou dois dias retornaria à calma costumeira. Outro prazer que sinto no banho de mar é que ao mergulhar o meu biquíni se estreita, fica ainda menor, provocando a sensação de que estou nua. Os homens. ao observarem a estreita tirinha de pano, ficam doidinhos. Aquele meu admirador matinal também ficou enfeitiçado. Se já ao me descobrir sobre a areia mostrou-se tão excitado, imaginem ao me vir molhadinha e com o bumbum à flor d' água.
Depois, enquanto retornava à areia, reparei que ele continuava a me devorar com os olhos. Ainda por cima, eu estava toda arrepiada. Percebi que ele queria aproximar-se, mas não teve coragem. Meu corpo bem torneado, com o biquíni ressaltando-me a nudez, deixou-o tonto.
Comecei andar pela beira d’água na direção do Arpoador. Caminhei mais ou menos cinquenta metros e reparei que ele já não me acompanhava. Quem sabe tocaríamos nossos corpos enamorados, caso ele estivesse ainda a me seguir? Então estaquei mais uma vez, deixei cair a canga, que eu trazia nas mãos. Olhei o mar. Lembrei que nos dias de sol daquela temporada as moças insistiam em tirar o top. Eu não aderira ao modismo. Mas tal prática atraiu à praia muita gente que vinha só para ver as mulheres com os peitos de fora. E elas faziam de conta que nem estavam aí para quem as espreitava. Permaneciam sob sol, liam alguma revista, comportavam-se com a maior naturalidade. Pela primeira vez, ali sozinha, tive vontade de nadar como as moças de veraneio, apenas a pele a me servir de agasalho.
Mergulhei de novo. Só então reparei que as espumas acariciavam-me, estendiam-se a princípio como um véu anônimo para logo em seguida transformarem-se num homem de mãos suaves, esguias, fugidias. Ele tocava-me a pele, imantava-me ao seu corpo, despia-me das duas pequeninas peças que eu não ousara deixar sobre a areia. Pensei em reagir, gritar, pedir socorro, mas meu corpo falou mais alto. Ardi e explodi de desejo.
Como sair de dentro d'água após tamanho prazer? Como correr de volta ao apartamento? Voltei-me para a extensa faixa de areia à minha direita, à esquerda, mas já não descobri o meu homem. Ele desfizera-se como as últimas espumas à beira d'água, perdera-se no vazio da manhã de quarta feira.
Quando voltei para casa naquele dia, o sol já deixara de lado sua timidez inicial, tornara-se um jovem galante que começa a acariciar as mulheres para logo em seguida nos tirar toda a roupa.
Saí do chuveiro e me apreciei inteira no espelho do guarda-roupas. De repente, algo inesperado. Meus olhos tornaram-se os olhos do rapaz que me fez sair nua da praia. Ele viera comigo, entrara no apartamento, no meu quarto, e me aguardava. Não demoraria deitaríamos os dois, na mesma cama onde horas antes eu amanhecera sozinha.
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