Por uma mulher, os homens sempre perdem a cabeça. Mas esperem
um pouco até chegar lá. Vou do início.
Arranjei um namorado num desses sites de relacionamento.
Como morava perto, não demorou a me vir visitar. Conversamos no primeiro dia
enquanto andamos nas ruas da minha pequena cidade. Como é um vilarejo de
veraneio e quase ninguém o visita nos dias de inverno, tivemos muita
liberdade. Depois fomos à minha casa, onde ele ficou hospedado. Adorou minhas
três árvores, a horta e o cão. Isso mesmo, também tenho um cão. Mas na hora de
dormir...
A hora de dormir sempre é a hora do amor, principalmente se
estamos no começo do namoro. Eu tinha servido umas torradas com chá numa louça de porcelana, uma pintura. Logo que acabamos, ele me abraçou e beijou. Eu disse
então:
“Não quero ser pretensiosa, mas sei um jeito especial de
namorar.”
Esperou, queria que eu fizesse a demonstração.
“É um jeito suave, a gente se agarra a noite inteira, se
acaricia, mas não acaba logo, entendeste?”, falei amorosa.
Aceitou a sugestão. Fui a um dos quartos e me despi por
completo. Apareci diante dele. Surpreendeu-se.
“Prefiro eu mesma tirar a minha roupa, gostas assim?”
“Estou adorando”, falou baixinho.
Abraçamo-nos, de pé, ele ainda vestido.
“Não, não te dispas já, espera.” Continuei agarrada a ele,
nuinha. Comecei a sussurrar no seu ouvido: “gostas de histórias, não? Todo
homem gosta de histórias, sobretudo na voz das mulheres. Vê, sou toda tua, mas
fica assim agarradinho a mim e imagina. Estou correndo nua só pra ti, lá na
beira da praia. É noite, só nós dois.
“Vamos lá”, então?, sugeriu.
“Não, não é pra ir, é só pra imaginar.”
“Ah, sim...”, suspirou com ar de decepção.
“Mais vale a imaginação”, insisti. “Continuas a me olhar e
eu danço para ti. Uma dança sensual. Mas, de repente, como num passe de mágica,
desapareço. E logo já estás a me procurar. ‘Como essa mulher sumiu assim tão,
tão súbita?’, dizes. Isso, súbita, é a palavra certa. Eu nua e súbita. Sais a
me procurar pela areia, pelas vagas da praia, pensas até em pedir ajuda, mas a praia é só das estrelas e está deserta. Então, ainda súbita,
apareço atrás de ti, envolvo-te com meus braços. De início te surpreendes, depois,
porém, percebes minhas mãos plenas de tato, de carícias. Despes, rápido, toda a
roupa, e te queres atirar sobre mim. Mas peço, não, ainda é cedo, faz teu gozo
e o meu durar mais horas na noite.”
Volto agora ao presente, ao homem dentro da sala que me ouve
as histórias.
“Sinto que estás excitado. Já queres me penetrar, sei de
tudo. Não é, todavia, o momento. Deita, vamos os dois sobre o tapete, como os
antigos persas, uma viagem. Deita, isso, tira também a roupa, Mas não toca já o
meu corpo.”
Embarcamos numa aventura aérea, apenas as mãos
entrelaçadas, levemente, e eu a lhe narrar histórias, a fugir nua através de cidades imaginárias, a escapar de nobres, de magos e de plebeus, para cair numa
casa vazia, os muros altos. Ele, então, que está ao meu lado, meu cavaleiro, sequestra-me
nua, leva-me na garupa do cavalo.
“Come a mulher que deita ao teu lado”, sussurro com a voz alterada, “já vai amanhecer.
Não, não, não é para me comeres agora, é ainda parte da história, falta o
principal, o breve desfecho. Não, não percas a cabeça, farei que tu gozes com
mais ardor, solta-me, não, tu não me podes agarrar. Tira os braços de mim, sê justo!”, chego a gritar.
“Por favor, já não aguento, você me incendiou”, argumenta trêmulo.
“Calma, respira fundo, bem fundo. Isso, assim. Deita, pensa
que tu te equilibras, é um fio fino, tênue, mas consegues. Volta à corda,
segura o sarrafo, estás a resgatar teus impulsos, as secreções que estiveram
próximas a te escapar. Assim, isso, agora já vais conseguir. Melhor, já
conseguiste. Mais um suspiro e tudo estará sob teu domínio.”
Duas horas depois ainda navegávamos num mar de erotismo. E o homem enfeitiçado por minhas histórias.
“Deixa agora, amor”, pede, “você está me maltratando, deixa
agora, se você não quer não gozo dentro, deixa apenas sentir você.”
"Deixo, e podes ficar bastante tempo, Mas na hora de gozar, tira e goza na minha boca, compreendes?"
"Você gosta?"
"Se gosto. Adoro. Mas te peço, ainda mais uma vez, controla-te, não gozes dentro. Não vás perder a cabeça.
Voltamos às carícias. Ele, já sobre mim, logo escorregou mar adentro. Tanto mais ligeiro, gritou-me:
“Amor, amor!”
"Você gosta?"
"Se gosto. Adoro. Mas te peço, ainda mais uma vez, controla-te, não gozes dentro. Não vás perder a cabeça.
Voltamos às carícias. Ele, já sobre mim, logo escorregou mar adentro. Tanto mais ligeiro, gritou-me:
“Amor, amor!”
“O que foi?”
“Amor, perdoa-me.”
“Perdoar-te? Que mal praticaste?"
Do lado de fora, lá no quintal, latiu-me o cão.
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