Após termos ido a cinemas, teatros e restaurantes nos
primeiros dias após sua chegada, na sexta-feira combinamos ir à praia. Mas a
uma praia bem distante. Eleonora, o seu nome, era relativamente jovem e tinha
um corpo muito bonito. Mas sentia vergonha de mostrá-lo. Naturalmente não
estava acostumada a sair por aí de biquíni, mesmo à beira-mar. Recato das mineiras.
Fomos então para a praia mais distante na orla do Rio de Janeiro, bem depois do
Recreio dos Bandeirantes.
Ao chegarmos, pousamos nossos pertences e cuidamos de ficar
durante um bom tempo debaixo de um grande guarda-sol. Havia um quiosque nas
proximidades cujo empregado se prontificou a servir o que desejássemos,
inclusive um almoço. Como os frequentadores daquele local eram apenas nós dois, Eleonora pôde, enfim, mostrar o seu corpo.
Lá pelas onze horas chegaram mais algumas pessoas, mas
mantiveram discrição e ficaram a uma distância razoável.
Em determinado momento, Eleonora começou a falar sobre uma
hipótese.
“Ouça, me veio um pensamento, fiquei preocupada.”
“O que preocupa você numa manhã de sol ameno e numa praia quase particular onde apenas nós dois estamos a usufruir?”
“Exatamente isso. O lugar está muito deserto.”
“Mas não foi você quem pediu uma praia assim? Caso quisesse
muita gente, teríamos ficado em Copacabana.”
“A princípio estava sentindo vergonha por ter comprado esse biquíni tão pequeno e ter de usá-lo na frente de outras pessoas, mas pelo
pensamento que me ocorre acho que teria sido melhor.”
“O que preocupa você?”
“É o seguinte: o Rio é uma cidade onde ocorrem muitos
assaltos. Já pensou se alguém assalta a gente agora? Não há nada a nos
proteger.”
Olhei em volta e percebi que para uma pessoa que está
acostumada a assistir aos noticiários sobre o Rio, o que ele temia era
possível. Mas procurei tranquilizá-la.
“Não se preocupe. Há o quiosque, o funcionário está
trabalhando tranquilo. Caso houvesse algum problema, teria nos avisado."
“Mas se aparecer um ladrão aqui, agora, por exemplo, não
podemos fazer nada.”
“Não se preocupe. Quando saímos a passeio não pensamos
nisso.”
“Sei que vocês não pensam nisso, mas pode acontecer, não?”
“Não tenho ouvido falar sobre assaltos em praias. O que vão
nos roubar?”
“Por exemplo: podem nos roubar o carro, com tudo que trouxemos.
Já pensou que vergonha caso levem todos os meus pertences e me deixem apenas
com esse biquíni mínimo? Como vou voltar pra casa?”
“Ah, que imaginação. Confesso que gostei da ideia de ver
você só com esse biquininho sem ter onde se esconder. Acho que vai entrar na
água e ficar por lá até que eu arranje uma roupa comprida pra você...”
“Não brinque, pode acontecer, não é mesmo?”
“Acho que você quer mesmo é ficar nua. Se pensou isso, é
porque deseja.”
“Eu? Você pensa isso de mim?”
Me aproximei dela e a beijei. Disse no seu ouvido:
“Como tem pouca gente na praia, acho que quem vai deixar
você nua sou eu.”
Ela riu.
“Você não teria coragem...”
“Você nem me conhece direito. Lembra que conheci você por
correspondência? Já pensou se sou o ladrão?”
“Não brinque com essas coisas, por favor.”
“Já pensou se deixo você nua e vou embora. Como você faz pra
voltar pelada pra Minas?”
“Ai, nem pense nisso.”
Aproximou-se de mim e me beijou.
“Quer dizer que você vai me deixar peladinha aqui no Rio de
Janeiro, nua, dentro d’água e vai embora com todas as minhas coisas?”, pareceu
gostar da suposição.
“Acho que sim, já que você deu a ideia...”
“Então faz, vai, quero ficar pelada no Rio de Janeiro...”
“Puxa, não sabia que as mineiras mudam de ideia tão de
repente.”
Levei-a para dentro d’água e tirei o seu biquíni. Parecia
uma gata gemendo.
“Você quer mesmo que eu vá?”, eu.
“Você teria coragem?”, ela.
“É você que deseja as sensações...”
Corri areia acima, guardei tudo dela dentro do carro e dei a
partida.
Meia hora depois, voltei. Estava tranquila, ainda dentro
d’água. Quando me viu, foi a primeira a falar:
“Sabia que você não teria coragem de abandonar uma mulher
tão bonita como eu...”
Me abraçou. Namoramos ali mesmo. Ela não mais vestiu a parte inferior do biquíni enquanto esteve dentro d'água.
“Depois que você foi embora, sabe, além de estar molhada pela água do mar, fiquei também molhadinha, mas por outro motivo”, sorriu enquanto bebia um gole de sua caipirinha.
“Você é capaz de escrever isso que estamos vivendo hoje?”, eu queria esconder a excitação, mas acho que não consegui.
“Claro que sim. Mas ponho você como narrador!”
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