Depois da meia-noite acontecem coisas estranhas. Paquerei um cara durante a semana inteira. Acabei que consegui sair com ele. Conhece o Ilhote Sul? É um restaurante chique, não preciso dizer. Ele me convidou e ofereceu: peça o que quiser. Aproveitei. Bebi vinho italiano, tão caro. Então começou ele uma conversa estranha. Disse que conheceu um ex-namorado meu. Revelou até mesmo alguns segredos meus. Não sei como descobriu que andei nua de madrugada pela cidade. Ele narrava com um arrepio. Não sei se foi o vinho italiano ou se já viera com a intenção. Você vai embora nua?, perguntou. Quando eu era mais nova, duas ou três vezes fui, mas agora, acho que não, respondi. Mas você é tão bonita, acrescentou. Mais bonita vestida, retruquei. Melhor nua, não?, pediu. Estou gorda, não gosto de tirar a roupa depois de comer tanto, já pensou se me flagram com essa barriguinha?, adverti. Até que é sensual?, contra-argumentou. Sensual?, eu quis saber. A sua barriguinha, emendou. Pensei que você fosse dizer que não tenho barriga alguma, debochei. Bem, amor, na verdade afirmo que: você não tem barriga não, mas, continuando, sei que gosta de um presentinho, aliás, toda mulher gosta; que tal uma pulseirinha de ouro?, sugeriu. De ouro?, redargui. Isso, de ouro, assegurou. Mas hoje é tão difícil, quase ninguém dá ouro de presente, acrescentei. Dou e provo, falou e mostrou a pulseira. Era realmente de ouro. Então?, recolocou a pergunta. O que você quer mesmo em troca?, fiz de conta que esquecia. Quero você nua, seus olhos miraram os meus e depois voltaram-se para o mar. Só isso?, minha intenção era ganhar tempo. Claro que não, quero um beijo e alguma coisa a mais, assegurou.
Deixáramos o carro no estacionamento do restaurante. Caminhamos pelo calçamento. Depois do Tropical acaba a praia. Venha comigo, convidou. Andamos cem metros, longe da luz da rua, apenas as estrelas, a lua e, defronte à praia, a vegetação. Quer ainda a pulseira?, perguntou. Acho que sim, duvidei. Por que a incerteza? Não acredita que seja verdadeira?, indagou. Acredito, firmei a voz.
Daí namoramos. Uma hora e um quarto.
No final, falou: não basta só o namoro. Sei disso, retruquei, você gosta de deixar as mulheres nuas. Isso mesmo, comentou, ainda bem que entre nós há o consenso. Me passa a pulseirinha, pedi. Obedeceu. Obedeci também. Sei que você gosta de histórias, falei. Se gosto?, tanto mais no dia seguinte, e na voz de quem deixou a saia nas minhas mãos, sua voz acompanhava a brisa suave da madrugada. Um beijo, vá, desejei. E lá foi ele; e fiquei eu. Apenas a pulseira, a sandália plataforma e a bolsa mínima. Cabe nela um maço de cigarros; cabe junto o celular, caso o maço não esteja cheio.
Portanto, você, que me lê agora, será que pode me ajudar? Traz uma camiseta. Recompenso. Sabe o Tropical? Caminhe na areia da praia, faz de conta que vai pra lagoa. É só. Quando estiver próximo, eu chamo. Mas lembre, não demore. Quero a pulseira, apenas. Não quero complicação.
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