O restaurante estava quente, por isso tirei o agasalho. Meus
braços nus surpreenderam quem estava ao redor.
“Você não está com frio?”, perguntou-me o marido.
“Não, estou mesmo é com calor.”
Apesar do inverno, da temperatura baixa lá fora, para mim o
restaurante estava muito aquecido. Bom momento para eu mostrar uma pequena
parte do meu corpo. Todos estavam vestidíssimos, haviam pousado o casaco no encosto
da cadeira, mas o suéter ninguém despira. Eu tirara o casaco e o suéter, vestia
apenas uma camisa de algodão de mangas curtas.
Meu marido sorriu, aproveitou para mordiscar mais um pedaço
de carne e beber outro gole de vinho. Eu, entre sorrisos e a alegria que todas
as férias proporcionam, estava nua. Isso mesmo, nuazinha, ao menos para o
momento, ao menos para o lugar. De outra mesa, notei que um homem olhou-me.
Discreto, ele. Estava acompanhado. Mas no momento em que segurou a garrafa para
despejar um pouquinho do líquido rubro na taça da mulher que o acompanhava, esticou
os olhos até os meus braços. Sorriu. Retribuí o sorriso. Não houve nada de mal
no incidente, apenas um sorriso de cada lado, depois o mergulho de volta nas nossas vidas. Mas fiquei arrepiada, e o arrepio durou até o fim do jantar. Na
cadeira ao lado minha filha de quatro anos comia segurando o garfo de modo enviesado,
enquanto meu filho, ao lado do marido, atacava os pedaços de carne e o
macarrão, olhava um dos brinquedos em miniatura que colocara sobre a mesa, ao
lado do prato.
“Mamãe, aqui não está frio porque tem a lareira, veja como é
bonita”, falou a menina com a boquinha manchada de molho da comida.
“Isso, mesmo, Naná, a lareira aquece”, falei, ambas rimos.
“Papai não tirou o agasalho, acho que ele está com frio”,
ela completou.
Meu marido sorriu. “Uns sentem mais frio; outros, menos”,
concluiu e continuou com mais um gole do vinho.
Em volta todos vestidíssimos. O
inverno torna as pessoas elegantes, pensei. Meus braços nus destoavam do
ambiente. E, entre todos, apenas o tal homem discreto descobrira-me. Eu quis
espichar o rabo do olho à direita, mas ainda não foi naquele momento. Minha
filha tinha os olhos e o sorriso em mim, o garoto despertara do seu enlevo
lúdico e o marido talvez pensasse qual o próximo prato.
“Mamãe, me leva pra fazer xixi”, a menina pediu.
“Levo, sim. Vamos.”
Levantamos. O garçom apontou-nos o toalete. A menina gostou
de caminhar entre as mesas, empurrar para o lado a cortininha do banheiro,
deslizar a porta corrediça.
“Mamãe, espere aqui, eu sei fazer xixi sozinha.”
“Que bom! Mamãe está feliz por você ser tão espertinha.”
Minha filha saiu do banheiro feliz.
“Vamos mamãe, agora vou pedir a sobremesa.”
Voltamos entre as mesas, algumas pessoas levantaram os
olhos. Reparei então o homem discreto. Sua acompanhante tinha
os olhos voltados para o bufê. Ele falava-lhe. Mesmo conversando com ela, olhou
meus braços nus. Olhou e sorriu.
“Nunca vi uma nua tão bonita”, cheguei a ouvir. Talvez eu
tenha captado seu pensamento, ou seu desejo, não sei bem. Mas que sua voz era
bonita, não restava dúvida.
Depois de voltarmos ao hotel, de acomodar as crianças nas
suas camas, preparei-me para deitar. Estava de dentes escovados, perfumada,
envolta numa camisola creme, era uma camisola leve. Mas, antes de entrar sob as
cobertas, tirei a camisola. Quando o marido se postou ao meu lado, encostei nele
meus braços nus, meu corpo nu.
“Você reparou no restaurante?”, eu disse.
“O quê?”, ele curioso.
“Uma mulher nua.”
“Uma mulher nua? E naquele frio?”, surpreendeu-se.
“Isso, nuazinha. Você é mesmo muito distraído.”
Peguei suas mãos e comecei a deslizá-las sobre o meu corpo.
Depois subi sobre ele. Depois namorei meu homem por um bom tempo.
“Amanhã, talvez ela apareça nua de novo”, falei.
“Será?”
“Acho que sim.”
“Então você me mostra?”, propôs.
Beijei-o. Adormeci. Tão nua, como a mulher no restaurante.
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