Carol, você não imagina, minha mãe me mata de vergonha.
Outro dia, aqui mesmo na praia, ela veio com um biquíni menor do que o meu. E
olha que ela já vai fazer cinquenta anos. Sei que é bonita, e sei também que
quando eu tiver a idade dela talvez não seja tão elegante quanto ela é agora.
Mas não precisava vir com um biquíni tão minúsculo. O pior foi o top, Carol. Os seios
são pequenos, mas o top era mínimo. Não estava deselegante, aliás, nela nada
fica deselegante, mas os homens a olhavam de um jeito tão sedutor, que pensei
que seria agarrada aqui mesmo na praia. Se minha mãe pudesse, estaria
nua. Quero dizer, se fosse permitido ela andava nua por aí. Não consigo usar as
roupas que ela veste. Me sinto nua. Sério, é verdade. Ela, não; além de andar
nua, se comporta como se fosse a pessoa mais vestida do mundo. Você já conhece a
história, Carol. Desde que me entendo por gente, ela já era separada do meu
pai. E o que não lhe falta é namorado. Chove homem em cima dela o tempo todo. Muitas mulheres reclamam que não há homens suficientes nos dias de
hoje, ou mesmo que eles nada querem com as mulheres. Mas, para minha mãe, há
homens demais. Acho que, se ela quiser, todo dia sai com um diferente. Você
deve achar que estou exagerando. Mas é verdade. Já a vi com três namorados na mesma semana. Lógico que há alguns que ficam com ela mais tempo.
Houve um que a namorou durante um ano. Dele, ela gostou. Ou chegou a se
apaixonar. Mas acabou acontecendo um problema entre eles. Não se passaram quinze dias pra ela
estar nos braços de outro. Alguns ela leva lá para casa, quando já os conhece
melhor. Mas, na maioria das vezes, vai para o apartamento deles. Você compreende, Carol, ela é do tipo que sai logo de primeira quando sente atração por um
homem. Eu, que sou quase trinta anos mais jovem, tenho o maior cuidado, espero
uma, duas semanas. Ela, não, gostou, trepou. Acho perigosíssima essa atitude. Tenho certeza que vez ou outra ela perde a cabeça e transa sem camisinha. Carol, você
já reparou, tem sempre alguém olhando para nós, nos admirando, nos paquerando.
Mas, na maioria das vezes, não vale a pena. Ela não pensa assim. Sorriu para
ela, ela gostou, pronto. Nós geralmente não damos
muita conversa caso algum deles se aproxime, não é mesmo? Ela, nem pensar, já
vai pedindo o número do celular, ou ela mesma vai dando o seu. Depois fica
aquela montanha de homens telefonando e ela nem mais sabe quem é quem, nem consegue
imaginar a fisionomia do cara que está do outro lado da linha. Certa vez lhe aconteceu uma coisa muito engraçada. Engraçada, não, trágica. Mas vamos considerar
engraçada, porque acabei rindo um pouco. Caso eu estivesse na pele dela, iria me tremer toda. Mas eu não chegaria àquele ponto. A história é a seguinte. Aconteceu
há uns seis meses. Eu estava dormindo, eram três da manhã, de repente o
telefone toca, é ela: Carina, por favor, você precisa vir até aqui. Disse o endereço.
Me traga a canga, está no armário onde guardo os biquínis de praia, por favor, pediu. Mas, mãe, você me telefona a essa hora da madrugada para eu ir não
sei onde levar uma canga, você vai à praia agora?, perguntei. Não, não vou à
praia coisa alguma, mas preciso da canga, venha e não faça perguntas, preciso
sair daqui antes que amanheça, disse ela. E pra que a canga, mãe?, insisti. Já
pedi pra não fazer perguntas, depois explico, venha logo, é urgente. E lá
saí eu, às três e meia, morta de sono, achei que ainda estivesse dormindo e que
aquilo fosse um sonho. Mas não era. Tirei o carro da garagem, assustei o vigia,
mas tirei o carro e dirigi até lá. Entreguei a canga a ela e, adivinha, Carol. Ela
estava inteiramente nua. Enrolou o pano no corpo e desceu comigo. Eu trouxe
minha mãe no carro. Nua! Quer saber o que aconteceu, Carol? Nem eu sei. Ela
entrou muda e saiu calada do carro. Ao chegarmos em casa disse vamos dormir,
estamos ambas cansadas, muito cansadas. Quando acordei, naquele mesmo dia, ela
já havia saído. Agora imagine, Carol, o que deve ter acontecido. Minha mãe
acha bom não se prender a homem algum. Eu já não penso assim. Acho perigoso ficar
mudando de namorado todo dia. E também acho que já somos demasiadamente sós
para cultivarmos um relacionamento em que não exista nenhum compromisso. Gosto de
ter alguém que goste de mim. Prefiro o casamento. Não o casamento tradicional, mas algum tipo de união onde se possa viver um para o outro. Carol, sei que você não é parecida com a minha mãe, pare de olhar para
aqueles caras que estão perto da rede de vôlei, não demora e eles vão se
encostar aqui. Não, Carol, por favor, se você der bola a eles, vão pensar que
eu também estou a fim. E viemos juntas à praia. Caso você queira ficar com um
deles, tudo bem, mas me deixe de fora. Sei que você não era, e não é, de dar
mole logo de primeira. Quanto à minha mãe, tenho certeza, ela dá logo de
primeira. Mas ela não é exemplo para nós. É, ao contrário, motivo de
preocupação. Ela diz que sou muito nova, que quando tiver a idade dela vou
pensar da mesma forma que ela pensa agora. Diz que até lá vou ter tempo
suficiente para me decepcionar com os homens. Carol, durma com um barulho
desse. Ou melhor, não durma, esteja pronta para socorrê-la caso os homens a
deixem nua por aí. Mas, amiga, você não, por favor, não vá com algum daqueles
caras, e não adianta me deixar de sobreaviso, não vou poder fazer nada. Já
tenho problemas demais.
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