terça-feira, junho 17, 2014

Cada dia com um homem diferente

Carol, você não imagina, minha mãe me mata de vergonha. Outro dia, aqui mesmo na praia, ela veio com um biquíni menor do que o meu. E olha que ela já vai fazer cinquenta anos. Sei que é bonita, e sei também que quando eu tiver a idade dela talvez não seja tão elegante quanto ela é agora. Mas não precisava vir com um biquíni tão minúsculo. O pior foi o top, Carol. Os seios são pequenos, mas o top era mínimo. Não estava deselegante, aliás, nela nada fica deselegante, mas os homens a olhavam de um jeito tão sedutor, que pensei que seria agarrada aqui mesmo na praia. Se minha mãe pudesse, estaria nua. Quero dizer, se fosse permitido ela andava nua por aí. Não consigo usar as roupas que ela veste. Me sinto nua. Sério, é verdade. Ela, não; além de andar nua, se comporta como se fosse a pessoa mais vestida do mundo. Você já conhece a história, Carol. Desde que me entendo por gente, ela já era separada do meu pai. E o que não lhe falta é namorado. Chove homem em cima dela o tempo todo. Muitas mulheres reclamam que não há homens suficientes nos dias de hoje, ou mesmo que eles nada querem com as mulheres. Mas, para minha mãe, há homens demais. Acho que, se ela quiser, todo dia sai com um diferente. Você deve achar que estou exagerando. Mas é verdade. Já a vi com três namorados na mesma semana. Lógico que há alguns que ficam com ela mais tempo. Houve um que a namorou durante um ano. Dele, ela gostou. Ou chegou a se apaixonar. Mas acabou acontecendo um problema entre eles. Não se passaram quinze dias pra ela estar nos braços de outro. Alguns ela leva lá para casa, quando já os conhece melhor. Mas, na maioria das vezes, vai para o apartamento deles. Você compreende, Carol, ela é do tipo que sai logo de primeira quando sente atração por um homem. Eu, que sou quase trinta anos mais jovem, tenho o maior cuidado, espero uma, duas semanas. Ela, não, gostou, trepou. Acho perigosíssima essa atitude. Tenho certeza que vez ou outra ela perde a cabeça e transa sem camisinha. Carol, você já reparou, tem sempre alguém olhando para nós, nos admirando, nos paquerando. Mas, na maioria das vezes, não vale a pena. Ela não pensa assim. Sorriu para ela, ela gostou, pronto. Nós geralmente não damos muita conversa caso algum deles se aproxime, não é mesmo? Ela, nem pensar, já vai pedindo o número do celular, ou ela mesma vai dando o seu. Depois fica aquela montanha de homens telefonando e ela nem mais sabe quem é quem, nem consegue imaginar a fisionomia do cara que está do outro lado da linha. Certa vez lhe aconteceu uma coisa muito engraçada. Engraçada, não, trágica. Mas vamos considerar engraçada, porque acabei rindo um pouco. Caso eu estivesse na pele dela, iria me tremer toda. Mas eu não chegaria àquele ponto. A história é a seguinte. Aconteceu há uns seis meses. Eu estava dormindo, eram três da manhã, de repente o telefone toca, é ela: Carina, por favor, você precisa vir até aqui. Disse o endereço. Me traga a canga, está no armário onde guardo os biquínis de praia, por favor, pediu. Mas, mãe, você me telefona a essa hora da madrugada para eu ir não sei onde levar uma canga, você vai à praia agora?, perguntei. Não, não vou à praia coisa alguma, mas preciso da canga, venha e não faça perguntas, preciso sair daqui antes que amanheça, disse ela. E pra que a canga, mãe?, insisti. Já pedi pra não fazer perguntas, depois explico, venha logo, é urgente. E lá saí eu, às três e meia, morta de sono, achei que ainda estivesse dormindo e que aquilo fosse um sonho. Mas não era. Tirei o carro da garagem, assustei o vigia, mas tirei o carro e dirigi até lá. Entreguei a canga a ela e, adivinha, Carol. Ela estava inteiramente nua. Enrolou o pano no corpo e desceu comigo. Eu trouxe minha mãe no carro. Nua! Quer saber o que aconteceu, Carol? Nem eu sei. Ela entrou muda e saiu calada do carro. Ao chegarmos em casa disse vamos dormir, estamos ambas cansadas, muito cansadas. Quando acordei, naquele mesmo dia, ela já havia saído. Agora imagine, Carol, o que deve ter acontecido. Minha mãe acha bom não se prender a homem algum. Eu já não penso assim. Acho perigoso ficar mudando de namorado todo dia. E também acho que já somos demasiadamente sós para cultivarmos um relacionamento em que não exista nenhum compromisso. Gosto de ter alguém que goste de mim. Prefiro o casamento. Não o casamento tradicional, mas algum tipo de união onde se possa viver um para o outro. Carol, sei que você não é parecida com a minha mãe, pare de olhar para aqueles caras que estão perto da rede de vôlei, não demora e eles vão se encostar aqui. Não, Carol, por favor, se você der bola a eles, vão pensar que eu também estou a fim. E viemos juntas à praia. Caso você queira ficar com um deles, tudo bem, mas me deixe de fora. Sei que você não era, e não é, de dar mole logo de primeira. Quanto à minha mãe, tenho certeza, ela dá logo de primeira. Mas ela não é exemplo para nós. É, ao contrário, motivo de preocupação. Ela diz que sou muito nova, que quando tiver a idade dela vou pensar da mesma forma que ela pensa agora. Diz que até lá vou ter tempo suficiente para me decepcionar com os homens. Carol, durma com um barulho desse. Ou melhor, não durma, esteja pronta para socorrê-la caso os homens a deixem nua por aí. Mas, amiga, você não, por favor, não vá com algum daqueles caras, e não adianta me deixar de sobreaviso, não vou poder fazer nada. Já tenho problemas demais.

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