Lá ia a manhã entrando pelas onze. Eu estava no metrô a
caminho de Copacabana. Minha intenção era ir à praia. Quando a composição parou
na estação São Francisco Xavier, entrou um homem que sentou no banco oposto a
mim. Passaram-se alguns segundos, reparei que ele me olhava. Por trás dos
óculos escuros, também comecei a apreciá-lo. A princípio, foi difícil
precisar-lhe a idade. Poderia ter entre trinta e poucos e cinquenta anos. Sua
aparência era jovial. Usava bermuda longa e uma camiseta verde, calçava um
sapato de lona, muito elegante por sinal. Continuou a olhar na minha direção.
Virei a cabeça um pouco à esquerda, pois temia que ele descobrisse minha espreita.
Começou a descer os olhos. Da cabeça, escorregou ao meu pescoço; depois,
descansou sobre meus seios; escorregou de novo e foi cair na cintura; daí mergulhou
nas minhas coxas; a seguir, nas pernas; e, finalmente, atingiu meus pés.
Quando terminou, eu estava nuinha. O homem me roubara a camiseta branca, o
sutiã de praia que ia por baixo, o short jeans e o biquíni. Restou-me a
sandalinha, com detalhe em flor nos entrededos. Eu continuava de pernas
cruzadas com um dos braços fazendo a vez de faixa em meia diagonal sobre os
seios.
As estações se sucederam. Pessoas entravam, pessoas
saíam, e o homem continuava a me olhar. Vários pensamentos inundaram a minha
mente. O primeiro deles foi que o suposto admirador poderia me seguir sem
perdão algum, e, num local onde não houvesse muita gente, me abordar e dizer
que lhe passasse os poucos objetos que eu carregava. Apesar de pouco dinheiro
na carteira, estava com o cartão do banco e a identidade. Será que ele me
deixaria sem? Outro pensamento: o homem me seguiria até a praia, ficaria a distância;
depois se aproximaria, diria que gostou de mim, que tal poder permanecer ao meu
lado? Daí o amor... Outro possível desfecho: ele mora sozinho em Copacabana,
insistiria para que eu o acompanhasse até seu apartamento. Lógico que esse
convite se daria na praia, após me ter seguido e esperado uma ou duas horas
enquanto eu tomava sol e vez ou outra entrava na água. Apesar de magra,
reconheço meus pontos fracos. Tenho pouco tempero. Mas mesmo assim ele me
abordaria: “você é uma graça”. Ficaríamos conversando um pouco. Ele compraria
algumas cervejas. Beberíamos. Eu, já excitada por causa do álcool, aceitaria o
convite. Não demoraria e lá estava eu nua, dentro do apartamento do recém-enamorado.
Mas se o homem fosse tarado? Se me machucasse ou me colocasse nua porta a fora?
Quando o trem ia por Botafogo, sentou uma moça ao meu lado.
Devia ter uns 17 ou 18 anos. Trazia um tablet. E manipulava o aparelho com
destreza. Minha atenção se desviou para o tal objeto. Fazia tempo que eu desejava um desses, mas ainda não tivera dinheiro para comprá-lo. Mirei de novo o homem que me apreciava e perguntei a mim mesma: será que ele costuma dar presentes?
Saí do metrô na estação Cantagalo. Subi pela escada
rolante. Não olhei para trás, mas estava curiosíssima. Será que ele me
seguia? Perdi-me pelos corredores compridos da estação, até que
deparei com a saída, na Xavier da Silveira. Fui atravessando todas as ruas em direção
à praia de Copacabana. Só olhei para trás quando pisei no calçadão da avenida
Atlântica. Onde ele? Aparentemente, ficara no trem.
Aluguei uma cadeira e um guarda sol. Escondi, num canto, a
pequena bolsa. Chamei um ambulante e comprei uma garrafa de água mineral. Ao tomar o último gole, levei um tremendo susto. Meu admirador do metrô estava a dois
metros, atrás de mim. No fim, sorri. Talvez a senha. Ele se aproximou, sorriu
também, mas parecia não ter palavras.
Então, iniciei a conversa:
Você costuma dar presentes?
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