segunda-feira, junho 23, 2014

Dentro de mim ou a moral das histórias

Faz algum tempo, eu queria tirar a moral das histórias; hoje, acho que o importante é contar uma boa história, apenas isso. Foi então que ele veio com a ideia do celular. Eu nua e ele falando que fez uma coisa engraçada com o celular da ex-namorada. Como, uma coisa engraçada?, eu quis saber. Ela estava nua, assim como você agora, e com o celular na mão, ele se pôs a contar...

... Achei engraçado ela atender a ligação e dar uma desculpa esfarrapada para o homem que estava do outro lado da linha, quem sabe se tratava do marido dela. Como você já percebeu, não pergunto sobre esses assuntos. A postura da mulher era de algum charme: em pé, de costas para mim, uma das mãos com o celular no ouvido, a outra na cintura. Depois que desligou, dei a ideia, vamos colocar o seu celular num saquinho plástico. Para quê?, ela perguntou como num rápido reflexo, não vai dizer que você vai querer... As reticências foram dela. Isso mesmo, respondi, você adivinhou. Não trocáramos palavra alguma sobre o que ela pensara nem sobre o que eu iria sugerir, mas a nossa língua era a mesma. Sentou na cama e entregou o aparelho a mim. Só não quero que, caso ele toque, você atenda, advertiu. Não, não vou atender, melhor, não vamos atender, assegurei. Levei o telefone e voltei com ele dentro do saquinho plástico. Adivinhe o que fizemos? Não, não precisa responder nem ficar tão assustada. Enfiei o celular no saquinho. Quando acabei, ela já estava deitada. Abriu as pernas e falou pronto, agora é com você. Num tempo em que reina a tecnologia, trepei com ela de celular enfiado na vagina. O pior de tudo, ou o melhor, não sei dizer, é que o telefone tocou. Ela gritou deixa tocar, deixa, deve ser ele, vamos gozar primeiro. E gozamos. O telefone tocando e vibrando junto com o meu piru dentro dela.

Ele acabou de contar e olhou do modo frontal para mim. Gelei. Será que pretendia fazer o mesmo comigo? Ainda nua movi-me um tantinho na cadeira, balancei um dos pés; de pernas cruzadas, puxei a coxa direita um pouco mais para cima. Sorri, enfim. Ele, para não alongar o constrangimento, disse longe de pensar que vou pedir para você fazer isso. Ainda bem, respondi, mas acho que a mulher fica muito desvalorizada quando os homens propõem situações desse gênero, acrescentei. Mas ela é uma mulher de outro nível, ele tentou se salvar, e no fundo a proposta foi dela, também acrescentou.

Ele ligou o som. Encerramos o assunto e ouvimos a música. Era uma canção americana, quase um folk. Ele tem bom gosto para essas coisas. Depois, fomos para cama.

Após me levar em casa (esqueci de dizer que estávamos na casa dele), já sozinha, tentei enfiar o telefone na minha vagina, a mesma atitude que ele fizera à ex-namorada. Aqui entra a questão que escrevi lá no começo, a minha antiga necessidade de tirar a moral das histórias.  Eu dissera que as mulheres saem diminuídas com tais atitudes, e era eu mesma que, naquele momento, introduzia o celular em mim. Fui, então, ao telefone da casa e liguei para o meu número. Confesso que me arrepiei quando ouvi o som da campainha; afinal, eu emitia um som distante. Era como se o telefone soasse em algum lugar da casa e eu não soubesse onde ele estava. Mas aconteceu algo ainda melhor, a vibração do aparelho me trouxe de volta ao meu corpo. Senti intenso prazer.

Nos dias que se seguiram, toda vez que meu namorado telefonou demorei a atender. Até que ele perguntou a razão de tanta demora.

Você deve imaginar onde estava o meu celular, respondi.

Ele entendeu. Riu muito. Achou que eu contava uma anedota.

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