terça-feira, julho 01, 2014

Nua em Copacabana

Trata-se de uma situação simples, um fato a contar e esquecer. Uma dessas festas noturnas numa cobertura em que há piscina. Há também o bar, garçons e garçonetes a nos servirem muitas bebidas e comidinhas. Formando pequenos grupos, em volta da piscina, ora dançando ora conversando, estamos nós, convidadas e convidados. Todos muito bonitos. Não sei se nos convidam por causa da beleza que cada um ou cada uma de nós possui, ou se, nesse tipo de festa, nos tornamos bonitas e bonitos como num passe de mágica. É preciso dizer mais uma coisa (que se mantenha o segredo), todas nós, mulheres, ficamos nuas.  Para não dizer que vamos peladas, usamos sandálias, ou salto alto, e carregamos bolsas. Uma ou outra tem o corpo pintado, algumas tatuadas, outras dependuram cordões, gargantilhas ou pulseiras, e só. O importante é nos mantermos tranquilas, agindo como se vestíssemos as roupas mais sóbrias do mundo. Os homens sorriem, esbanjam alegria. E muito bem vestidos, por sinal. De repente uma das mulheres salta na piscina, após deixar o sapato ou a pequena bolsa nas mãos de alguém. E a festa transcorre, todos num quase estado de êxtase. A música colabora para a emoção se intensificar. Permitem-se fotos, mas que se mantenha a discrição em relação às mulheres nuas. Não queremos publicidade na grande imprensa. Alguém posta uma foto ou outra numa rede social, mas nada fala da festa, ou se comenta algo não diz o endereço. Os rapazes nos namoram. Com os olhos e com os braços. É possível beijar quase todas e se manterem abraçados a nós. O que se evita, ou mesmo se proíbe, com a pena de não mais se poder frequentar tais festas, é a relação sexual. Com tantos lugares para ir depois que a festa termina, por que se precipitar ali? O que surpreendeu na última vez foi uma garçonete, que apareceu também nua. Não é costume as garçonetes tirarem a roupa nessas festas, mas uma delas se entusiasmou e ficou nua. Cumpriu, porém, seu trabalho com perfeição, não deixando de atender pedido algum. O que torna nós, mulheres, e os homens também, tão alegres nessas festas? Não digam que é porque rola alguma droga. Estou pronta a desmentir. Não digam que é a nossa nudez (já andamos nuas demais por essa cidade). Não sei dizer bem, mas acho que tanta alegria tem origem em uma série de fatores, e o principal deles é que toda festa é irmã gêmea da alegria. Lá pelas tantas, acho que duas e meia da madrugada, salto na piscina. Alguém me fotografa em pleno salto: o tórax ereto, as pernas dobradas, um salto em que estou quase que sentada no ar, só faltaram as pernas cruzadas, mas estão dobradas em paralelo, num ângulo de noventa graus. Não aparece meu rosto, ainda bem. Mas o meu corpo esbanja intenso vigor por todos os poros. E assim são as nossas festas. Sei que muitos perguntam como obter convites, outros querem saber como fazemos para ir embora. Ser convidado é um pouco difícil, mas como fazemos para ir embora explico. É muito simples. Saímos do edifício, entramos num carro e partimos. O carro às vezes pertence a um dos rapazes, mas há madrugadas em que vamos embora de táxi. É lógico que não vamos nuas (acho que vem daqui a curiosidade, não?). Aliás, não é permitido às mulheres saírem nuas do apartamento onde acontece a festa. Isso pode comprometer o futuro do grupo, gerar problemas com a administração do edifício e, quem sabe, intervenção da polícia. Mas é possível vestir vestidinhos, sainhas, shortinhos que nos deixam ainda mais nuas. Há mulheres que se deleitam cobrindo o corpo apenas com uma translúcida canga, como se tivessem a caminho da praia. Às vezes é o modelo que uso para chegar e para sair de nossas festas. Caso repita o modelo, vou a cada festa com uma canga de estampa diferente. Gosto de andar nua, como vocês, já há muito, sabem. Certa vez, quando alugamos o terraço de um hotel para uma das festas, um vento quente roubou-me a canga, que pairou boa parte da madrugada sobre Copacabana. Um cavalheiro, porém, sempre tem a solução. Ao amanhecer, fui embora vestindo sua camiseta!

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