É bom saber pensar e brigar. Não se pode ficar apenas no
pensamento e no desejo. Ganhar cinco mil reais me vai ajudar muito a resolver
alguns problemas. Se o que preciso comprar se pode chamar de problemas. Vi,
na praia, a garota. Devia ter entre os vinte e vinte e cinco anos, quem sabe
mais um pouquinho. Ela vinha com a mochila às costas e... de biquíni. Não
caminhava na areia, rente à beira-mar, mas no calçadão. Ou na rua, não sei bem.
Acho que era domingo e ela andava na rua. Um meio certo de arranjar namorado,
caminhar de biquíni na rua. Mas será que era isso o que ela desejava? Não sei, pode
ser que não. Tenho certeza de que ela ia de biquíni, calçava tênis, e a mochila
às costas. Isso me deu uma tremenda ideia. Sempre há aqueles que querem
sensações mais intensas, e eu conheci um desses. Um senhor agradável, simpático
e generoso. Gostou de mim à primeira vista. Foi num dia desses, de céu nublado,
quando se sai à tardinha em busca da última nesga de claridade e do sopro fresco
que vem do mar. Parei num quiosque, na orla de Copacabana. Queria água mineral.
Ele já estava lá, vestia calça comprida, uma camisa com a bandeirinha da França
no peito e sorria. À mesa, um coco; já havia terminado de saborear a água.
Sente aqui. O convite, dele. Aceitei, sentei e tomei toda a garrafinha de água
mineral. Conversamos. Uma conversa vazia, dessas que se estabelecem entre duas
pessoas recém-conhecidas. Depois que fui embora, esqueci-me do homem. Mas já no
dia seguinte o encontrei de novo. Dessa vez, de bermuda, mais informal. E o
encontrei também no domingo. Foi nesse dia que vi a moça de biquíni e mochila
às costas. Ele me convidou ao cinema. Vamos ver um filme logo mais, pode ser um besteirol,
apenas para espairecer. E lá fomos. Gentil o homem, pagou o cinema, o lanche. O
filme? Não importa. Como ele dissera, um besteirol. Ficou com o meu número. Não
custou a me convidar para jantar. À noite as coisas são mais sérias. Não sei de
quem a frase. Mas o homem seguiu-a à risca. Levou-me a uma cantina, ali na
Fernando Mendes. Boa a comida. Tomamos vinho. Escolhido por ele. Tudo sob
medida. Depois de tanto, o que me restava? Acabei no seu apartamento. Bonito, o homem, para quem já passa dos sessenta; um bom amante, apesar dos
sessenta. Nada comentamos sobre nossas diferenças, incluindo aí a idade. No
final, o homem perguntou se eu tinha conta em algum banco. Sabe como é, vivo
sozinho, não se sabe o dia de amanhã. Sorri. Voltei a casa, enlevada. Ganhara
eu na loteria? Seria verdade o que eu ouvira, ou ele mentia? Na semana
seguinte, deixei por escrito o número de uma conta de poupança que havia muito
esquecida. Até fora ao banco para saber se ainda existia. Sim. Existia. E o banco
estava pronto para acolher a parte do seu lucro. O homem depositou. Numa
primeira vez, um dinheirinho. Passaram-se alguns dias, dobrou (ou triplicou?) a quantia. Apareceram
dois mil. Não sou mercenária. Não arranjo namorado para ganhar dinheiro. Mas já
que surgiu, aproveitemos... E o homem é um conquistador nato. Fala como se sonhasse,
e logo o sonho torna-se realidade. Outro dia contou sobre umas fantasias,
coisas que a princípio pensei que viu no cinema. Depois, porém, achei que ele
mesmo pudesse ter inventado. Então, como sou sempre presenteada, não posso
deixar escapar o homem. E acho que agora até mesmo o amo. Não há quem não ame
uma bolsa plena de notas de cem acompanhada de um sorriso lisonjeiro. Não é
minha a frase, mas de uma diarista, e acho que não falou com essas palavras.
Mas a ideia é a mesma. E volto às fantasias do homem. Primeiro, amarrou-me nua
a uma cadeira. Amarrada e com a boca lacrada por um largo esparadrapo. No dia
que se seguiu, dois e quinhentos a mais na minha conta. E muitos beijos,
carícias, e nada de ejaculação precoce (ele sabe namorar). Hoje, talvez mais do
que amarrada, ou muito solta, não sei bem, eis-me nua, a bater à sua porta. A
condição para ganhar os cinco mil: preciso estar nua por inteiro, batendo à sua
porta. Não só vir e bater. Tenho de partir também nua. Então, o plano. A tal
moça de biquíni com a mochila às costas. Eu, nua, com a mochila às costas.
Agora, falta-me o desfecho. Escondê-la, a mochila. Nua, entro; nua, amo-o; nua,
vou-me. E a mochila... Ah, a caixa de incêndio. E que incêndio!
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