quinta-feira, agosto 07, 2014

Você está tomando o momento de alegria

Você está tomando o momento de alegria, ele disse, e que alegria!

Você acha mesmo?, perguntei, quem sabe, o meu forte é representar.

Ajeitei a blusa, que me vinha até o umbigo. Verifiquei a bolsa. Virei para a direita, depois para a esquerda, sorri mais uma vez. Estou tomando o momento de alegria, repeti.


Eu chegara à casa dele às 7 da noite. Fazia calor, era verão, tudo parecia transbordar, inclusive o nosso ardor. Ele me abraçou e me beijou. Olhou a minissaia que eu vestia. Sorriu.

Você está linda!, fez um longo gesto, como seu eu fosse uma rainha.

Dei uns passinhos e me sentei na poltrona. Cruzei as pernas e esperei por ele.

A casa estava arrumada, a janela aberta mostrava o mar ao longe. Havia uma mesinha logo depois da poltrona e sobre ela um livro. Peguei-o e comecei a folheá-lo. Era um romance de uma escritora americana.

Lendo romances, afirmei voltando os olhos a ele.

É para aprender a lidar com vários tipos de situações amorosas.

Como a nossa, suspirei.

Isso, como a nossa.

Você está achando difícil?

Não, é um livro fácil.

Não falo do livro, mas da nossa relação.

Difícil, não, diferente.

Ele ficou parado junto ao braço da poltrona. Eu ainda segurava o livro.

Lembrei que na praia ele às vezes ficava envergonhado, acho que temia encontrar alguém que o visse ao meu lado.

Lembra a praia?, deixei escapar.

O que tem a praia?

Você sempre parece assustado. Já pensou, pode aparecer um amigo seu, e você ao lado de um ou melhor, de uma... como devo dizer?

Nada disso, não concordo, até gostei, sabe; você é corajosa, anda quase nua.

Nua?, você não sabe o que é andar nua.

Então, já que é você quem sabe, vou deixar você nua hoje...

Vai?, perguntei e me encolhi na poltrona, fiz de conta que procurava uma proteção, mas sabia inexistente.

Vou!, fingia ser um lobo mal, abriu a boca como se fosse me comer inteira.

Veja, mostrei a ele. Curta, a saia, não?

Já tinha reparado. Como você consegue?

Ah, isso é o que todos desejam saber. Acho que por isso é que me namoram.

Todos descobrem que você vem apenas com essa sainha sobre a pele?

Quase todos.

E o que eles fazem?

Querem me roubar a saia, afirmei e sorri.

Sério?, você acabou de me dar uma ótima ideia.

Se isso satisfaz você, tudo bem.

Ele me abraçou, e não demorou a me deixar nua.


No final, alta a madrugada, falou: vou fazer o que prometi.

O quê?, fiz-me de esquecida.

Você, nua...

Ri, num ligeiro arrepio. Vai sair um pouco mais caro, retruquei.

Não ligo, pago.

E como vou esconder?

Ah, acho que você é muito boa nisso.


Desci no elevador de serviço. Lá embaixo, o táxi.

Moço, não repare, estendi-lhe a princípio uma nota de cem, estou tomando o momento de alegria; o resto, resolvemos no caminho.

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