Você está tomando o momento de alegria, ele disse, e que
alegria!
Você acha mesmo?, perguntei, quem sabe, o meu forte é
representar.
Ajeitei a blusa, que me vinha até o umbigo. Verifiquei a
bolsa. Virei para a direita, depois para a esquerda, sorri mais uma vez. Estou
tomando o momento de alegria, repeti.
Eu chegara à casa dele às 7 da noite. Fazia calor, era
verão, tudo parecia transbordar, inclusive o nosso ardor. Ele me abraçou e me beijou. Olhou a minissaia que eu vestia. Sorriu.
Você está linda!, fez um longo gesto, como seu eu fosse uma
rainha.
Dei uns passinhos e me sentei na poltrona. Cruzei as pernas
e esperei por ele.
A casa estava arrumada, a janela aberta mostrava o mar ao
longe. Havia uma mesinha logo depois da poltrona e sobre ela um livro. Peguei-o
e comecei a folheá-lo. Era um romance de uma escritora americana.
Lendo romances, afirmei voltando os olhos a ele.
É para aprender a lidar com vários tipos de situações
amorosas.
Como a nossa, suspirei.
Isso, como a nossa.
Você está achando difícil?
Não, é um livro fácil.
Não falo do livro, mas da nossa relação.
Difícil, não, diferente.
Ele ficou parado junto ao braço da poltrona. Eu ainda
segurava o livro.
Lembrei que na praia ele às vezes ficava envergonhado, acho
que temia encontrar alguém que o visse ao meu lado.
Lembra a praia?, deixei escapar.
O que tem a praia?
Você sempre parece assustado. Já pensou, pode aparecer um
amigo seu, e você ao lado de um ou melhor, de uma... como devo dizer?
Nada disso, não concordo, até gostei, sabe; você é corajosa,
anda quase nua.
Nua?, você não sabe o que é andar nua.
Então, já que é você quem sabe, vou deixar você nua hoje...
Vai?, perguntei e me encolhi na poltrona, fiz de conta que
procurava uma proteção, mas sabia inexistente.
Vou!, fingia ser um lobo mal, abriu a boca como se fosse me comer
inteira.
Veja, mostrei a ele. Curta, a saia, não?
Já tinha reparado. Como você consegue?
Ah, isso é o que todos desejam saber. Acho que por isso é
que me namoram.
Todos descobrem que você vem apenas com essa sainha sobre a
pele?
Quase todos.
E o que eles fazem?
Querem me roubar a saia, afirmei e sorri.
Sério?, você acabou de me dar uma ótima ideia.
Se isso satisfaz você, tudo bem.
Ele me abraçou, e não demorou a me deixar nua.
No final, alta a madrugada, falou: vou fazer o que prometi.
O quê?, fiz-me de esquecida.
Você, nua...
Ri, num ligeiro arrepio. Vai sair um pouco mais caro,
retruquei.
Não ligo, pago.
E como vou esconder?
Ah, acho que você é muito boa nisso.
Desci no elevador de serviço. Lá embaixo, o táxi.
Moço, não repare, estendi-lhe a princípio uma nota de cem,
estou tomando o momento de alegria; o resto, resolvemos no caminho.
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