– Parece
que estou num forno – gemeu a jovem, dilatando as narinas porejadas de suor. Se
soubesse teria inventado uma fantasia mais leve.
– Mais
leve do que isso? Você está quase nua, Tatisa. Eu vinha com a minha havaiana,
mas só porque aparece um pedaço da coxa o Raimundo implica.*
– Você
devia deixar o Raimundo pra lá. Fantasia leve pra mim seria uma minissaia de
baiana e bustiê, sem calcinha.
–Verdade,
no carnaval ninguém é de ninguém.
A amiga
de Tatisa frequentou os bailes de carnaval nos clubes mais famosos do Rio de
Janeiro, onde tudo era liberado. Existia troca de pares para dançar e até
mesmo para fazer outras coisas. Ela lembrou-se de um fato que lhe aconteceu anos atrás. Será que nesta noite iria se repetir, mesmo se tratando de um baile no
interior?
Ela conheceu um Cavaleiro Negro, por quem logo se apaixonou. Fingiu ir ao
banheiro e se escondeu atrás de uma pilastra larga, que se alcançava passando por
fora do salão. Ninguém imaginaria que alguém com tanta vontade de fazer sexo ao
som das marchinhas pudesse ir tão longe para se deliciar com as taras de um
homem misteriosamente fantasiado. Quando o Cavaleiro a viu sair também se esquivou,
sabia que daquela fuga lhe renderiam os prazeres da ancuda fantasiada de
baiana.
Chegando
ao local, o mascarado avistou a moça já se enroscando na pilastra. Parecia
estar subindo pelas paredes. Ele se aproximou de mansinho e a abraçou pela frente.
Sentiu as cochas suadas da mulher. Em toda aquela esfregação notou que não
havia empecilho para que seu honroso pênis penetrasse as entranhas da buceta da
baianinha. Os dois se deliciaram a ponto do orgasmo ter escorrido pelas pernas
dela.
No salão, Tatisa estava entediada, não tinha aparecido nada de
exorbitante para ela, somente uns bobões querendo dançar em forma de trenzinho.
Ela comentou:
– Você
sumiu pra onde? Está com uma cara de felicidade. Estou achando esse baile uma
merda. Amanhã você me conta o que houve.
Às quatro
da manhã o baile terminou e as duas foram pra casa. Antes de dormir Tatisa
insistiu no assunto, e quando a amiga contou o que lhe tinha acontecido ela
enlouqueceu. Queria vestir a fantasia de baiana e voltar lá pra também tirar uma casquinha. Mas já era dia. Elas então se prometeram trocar de personagens no dia seguinte
só pra Tatisa poder tirar o seu pé da lama.
* As duas primeiras falas deste texto pertencem ao conto "Antes do baile verde", de Lígia Fagundes Teles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário