sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Cavaleiro Negro

– Parece que estou num forno – gemeu a jovem, dilatando as narinas porejadas de suor. Se soubesse teria inventado uma fantasia mais leve.

– Mais leve do que isso? Você está quase nua, Tatisa. Eu vinha com a minha havaiana, mas só porque aparece um pedaço da coxa o Raimundo implica.* 

– Você devia deixar o Raimundo pra lá. Fantasia leve pra mim seria uma minissaia de baiana e bustiê, sem calcinha.

–Verdade, no carnaval ninguém é de ninguém. 

A amiga de Tatisa frequentou os bailes de carnaval nos clubes mais famosos do Rio de Janeiro, onde tudo era liberado. Existia troca de pares para dançar e até mesmo para fazer outras coisas. Ela lembrou-se de um fato que lhe aconteceu anos atrás. Será que nesta noite iria se repetir, mesmo se tratando de um baile no interior?

Ela conheceu um Cavaleiro Negro, por quem logo se apaixonou. Fingiu ir ao banheiro e se escondeu atrás de uma pilastra larga, que se alcançava passando por fora do salão. Ninguém imaginaria que alguém com tanta vontade de fazer sexo ao som das marchinhas pudesse ir tão longe para se deliciar com as taras de um homem misteriosamente fantasiado. Quando o Cavaleiro a viu sair também se esquivou, sabia que daquela fuga lhe renderiam os prazeres da ancuda fantasiada de baiana.

Chegando ao local, o mascarado avistou a moça já se enroscando na pilastra. Parecia estar subindo pelas paredes. Ele se aproximou de mansinho e a abraçou pela frente. Sentiu as cochas suadas da mulher. Em toda aquela esfregação notou que não havia empecilho para que seu honroso pênis penetrasse as entranhas da buceta da baianinha. Os dois se deliciaram a ponto do orgasmo ter escorrido pelas pernas dela.

No salão, Tatisa estava entediada, não tinha aparecido nada de exorbitante para ela, somente uns bobões querendo dançar em forma de trenzinho. Ela comentou:

– Você sumiu pra onde? Está com uma cara de felicidade. Estou achando esse baile uma merda. Amanhã você me conta o que houve.

Às quatro da manhã o baile terminou e as duas foram pra casa. Antes de dormir Tatisa insistiu no assunto, e quando a amiga contou o que lhe tinha acontecido ela enlouqueceu. Queria vestir a fantasia de baiana e voltar lá pra também tirar uma casquinha. Mas já era dia. Elas então se prometeram trocar de personagens no dia seguinte só pra Tatisa poder tirar o seu pé da lama.

É lógico que a amiga faria esse sacrifício para deixar Tatisa saborear o cavalo negro, mas ela mesma não ficará no abandono. É muito criativa e sedutora.

* As duas primeiras falas deste texto pertencem ao conto "Antes do baile verde", de Lígia Fagundes Teles.

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