Célia, neste bairro acontece cada coisa impressionante.
Sempre digo, Copacabana é um celeiro de todo tipo de história, você que gosta
de escrever, ouça, de repente, quem sabe, surge mais um conto.
Clara, você também é uma ótima narradora.
Sei que sou, mas estou mais para a oralidade, para as
fofocas. Está rindo, Célia? Verdade. Então escute. Um amigo, o Sérgio, estava
andando pela praia num dia desses ao entardecer, uma dessas caminhadas que as
pessoas exercitam para dizer que estão cuidando da saúde. Você entende, não? Ia
ele ali pelo posto quatro quando reparou uma moça de miniblusa e saia branca
curtinha. Ela era alta, do tamanho dele, também caminhava. Sérgio olhou as
pernas dela e ficou impressionado com a lisura e a beleza. Mas o que lhe chamou a atenção mesmo foi o comprimento da saia. Pensou, bem, ela deve
estar de biquíni. Ele continuou a marcha. Diz que sempre sai do posto seis e
vai até o Windsor, depois retorna ao ponto de partida. Foi assim que fez. Na
volta, no final da caminhada, parou no último quiosque e pediu um coco. Tomou a
água enquanto olhava para o mar, que estava plácido, bonito, os últimos raios de sol
refletindo sobre a superfície, um espelho, segundo ele. Quando voltou o rosto
para o calçadão, reparou a moça de saia curta. Ela também terminava a caminhada
e vinha na sua direção. Parou no quiosque e pediu uma garrafinha d’água. Ao
levá-la à boca, sorriu para o Sérgio. Ele gostou do sorriso, e começou a pensar
como faria para conversar com ela.
Isto é fácil, Clara, bastava comentar sobre o tempo, sobre a
placidez do mar, a beleza do dia...
É fácil, sim, Célia, mas meu amigo é uma pessoa sofisticada,
gosta de impressionar. Ouça. Ele não precisou falar nada. Ela é que iniciou o
assunto. Bom está pra o stand up, ela lançou o tema. Stand up é aquela prancha
em que a pessoa vai em pé. Ele arregalou os olhos e respondeu alguma coisa do
tipo, pratica você este esporte? A moça fez que sim e começou a desfiar uma
história. Para não me alongar. Ele acabou convidando-a para a prancha naquele
momento. Alugariam duas, uma para cada. Agora não posso, ela falou, vai você,
fico apreciando. Ele disse que então era melhor ficar com ela, os dois a
conversarem. Desceram até a praia e olharam mais de perto as pessoas que
praticavam o tal esporte. No final, ele arremessou sua saia é tão bonitinha. Você quer dizer curtinha, ela rebateu. Ambos sorriram. Tenho ainda uma surpresa, ela
acrescentou. Surpresa?, ele quis saber. Embaixo da saia, a moça completou. No início, ele achou
que ela se portou de modo vulgar ao dizer isso. Mas, a seguir, ficou curioso. Debaixo
da saia?, o que você quer dizer com isso? Ela respondeu nadinha. Nadinha?, ele repetiu surpreso. Quer se certificar?, ousou a moça. Ela caminhou dois
passos à frente e deu uma levantadinha na parte de trás da saia, mostrou o bumbum. Ele sentiu um solavanco no peito.
E depois, Clara, o que aconteceu?
Sérgio quis levá-la imediatamente ao seu apartamento.
Mas a moça desconversou, disse que marcaria outro dia. Ele ainda perguntou como você pode agir assim?, vem à praia, mostra a um homem que está nua,
provoca-o e depois quer fugir. Brincadeirinha, ela revidou, vai dizer que não
gostou? E ficaram os dois nisso mesmo. Ou melhor, houve um abraço bem apertado, um beijo na boca, e a sainha dela nas mãos do meu amigo. Ao olhá-la nua diante dele após soltá-la do abraço, apaixonou-se. Você tem certeza que não quer ir comigo hoje?, a voz de Sérgio saiu meio embargada. Prometo ir outro dia. Grave então meu endereço, ele tentou modular o tom, apareça amanhã ou depois. Vou sim, foi a vez dela. Dois dias depois, à noite, escutou o interfone. Era ela. Não esquecera o endereço. Vestia uma sainha do mesmo comprimento. Beijou-o ao entrar, trazia no rosto intensa alegria. Namoraram boa parte da noite. Quando estava para ir embora, já madrugada, acrescentou não vá me fazer voltar pelada de novo pra casa. E sorriu safadinha. Até agora ele não me contou se ainda arde a paixão.
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