Oi, Mara, tudo bem? Ah, está surpresa com meu telefonema. É
porque sei que você gosta de dormir tarde. Você fica lendo, vendo filmes,
escrevendo. Pelo menos é o que sempre me fala. Sabe o que é, quero contar uma
história boa e engraçada. Na verdade, é sobre a caixa de surpresas. Lembra, foi
você quem deu a ideia, depois aperfeiçoamos juntas. Não é que deu o melhor dos
resultados? Bem que você falou. Sabe, Mara, o homem adorou. Na verdade,
enlouqueceu. Disse que nunca viu uma mulher com tanta criatividade. Enquanto as
outras ficam no feijão com arroz, no papai mamãe, você me arremessa a outro
planeta, um planeta totalmente desconhecido. Juro, são as palavras que ele
pronunciou. E tudo com a maior elegância. Logo que cheguei eu disse por favor,
você tem de ser um bom espectador. A princípio, ele não entendeu. Não passou
muito tempo, porém, pra entrar no jogo. Poxa, conheci você há uma semana e você
me faz essa surpresa toda, confessou. Fica sentadinho aí, vou fazer as
apresentações, avisei antes de abrir a caixa, mas precisa ser no escurinho,
viu. Ele acendeu o abajur lateral. O palco era o meio da sala, dois metros por
um e meio. Mas pra mim estava ótimo. Saí de cena rapidinho e voltei como o
primeiro número, o vestidinho preto, coladinho e curtinho, nenhuma marca de
rouba de baixo, apenas o tecido. Liguei o celular, uma musiquinha, e comecei a
dançar pra ele. O vestidinho subia, subia. E o homem quase subindo pelas
paredes. Saí de cena. Coloquei uma música de praia, de verão, e apareci com o
biquininho. O biquininho de bolinhas, tão estreito, os peitos só cobertos os
mamilos, a calcinha, bem, a calcinha você conhece. Novamente escapei às mãos do
homem. Espere, por favor, pedi, você não pode me agarrar agora, não tem
graça. O terceiro traje foi o de fadinha, rendinha e varinha, nada de calcinha,
mas vesti a faixa branca como top. O homem tirou a roupa, passou a assistir nu
ao espetáculo. Ai, não estou aguentando, ele disse. Calma, vamos devagar, tenho
outros números, no final você me agarra, disse eu e sorri. Fiz uma mágica com a
varinha, uma espécie de encanto, e apareci sem a faixa branca. No quarto número
apareço apenas de camiseta regata. Lembra, Mara, foi você quem escolheu. Estico
a camiseta na frente, atrás quando dou as costas, tudo seguido da musiquinha do
meu telefone. Mas a cena que fez o homem explodir foi a do chocolate,
coreografia criada por nós duas, Mara. Fiz uma espécie de maiô com a renda
preta, como você ensinou. Dividi o tecido ao meio e passei cada metade por trás
do pescoço, desci cobrindo os seios e continuei até passar por baixo da minha
periquita, subi em tira única o bumbum cruzei
as duas pontas da renda, cada uma prum lado, trouxe para frente cobrindo
a tira vertical e dei um laço no lado esquerdo da cintura. Foi então que peguei
a barra de chocolate, a maior de todas, dançava e retirava o papel, depois puxei
devagarinho o laminado, enfim mordi o primeiro pedaço. Fui comendo e
umedecendo os lábios com a língua, engolindo pedaço a pedaço. O homem queria
sair da poltrona, o pênis ereto, correu na minha direção. Por favor, ainda não,
espere mais um pouquinho, não estrague o teatrinho, alertei. Jura que já
acaba?, perguntou. Juro, só falta essa. Ele puxou uma cadeira e ficou a um
metro e meio do palquinho. Quando engoli o último pedaço, Mara, o homem
explodiu. Não sabe o que é um homem explodir, amiga? Explico. O homem gozou. E
foram dois ou três jorros. Todos saltaram a distância de um metro e meio, atingiram minhas
coxas. Mas fingi que nada acontecia, continuei o número, no final desfiz o laço.
Ele correu pra mim e me agarrou. O pênis continuou durinho e o homem gozou mais
uma vez. Uma loucura. E quase não consigo colocar a camisinha, foi por um
triz. Quando acabamos, ele ainda estava a mil, o coração descompassado.
Descansa um pouco, aconselhei, você está muito excitado. Ele deitou e fechou os
olhos, muito feliz. Continuei com a música e pude ainda reparar o arfar dos
seus pulmões. Coloquei todas as surpresas na caixa, guardei com muito cuidado.
Peguei a caixa, o sapato e saí em silêncio. Ele parecia dormir. Bati a porta.
Agora, apenas uma coisinha. Sabe o vestidinho com o qual cheguei? Aquele de apliques
prateados. Pensei tê-lo colocado na caixa, queria me vestir no corredor. Você
sabe, caso ele acordasse ia querer mais um espetáculo, e eu já estou cansada,
já tenho minha recompensa. Mas, do lado de fora, reparei que esqueci o
vestidinho lá dentro. E agora, o que faço?, perguntei a mim mesma, neste tardar
da noite. Ah, a solução, pensei, telefono pra Mara... O quê?, você está sem o
carro. Voltar com um dos modelos da caixa de surpresa? Mara, é tudo tão
curtinho, vão me agarrar lá fora, e vai sair de graça. Arranja um jeitinho,
vai, Mara, meu amorzinho. Confesso que esta situação está me deixando
arrepiada, mas não posso voltar nua pra casa, daqui a pouco vai amanhecer. Tá
bom, Mara, vou bater, ele vai abrir e me encontrar peladinha, acho que vai
perder de vez a cabeça. Vai querer mais teatrinho. Bem, isso é, melhor mais um
teatrinho do que nua no bairro do Visconde!
terça-feira, junho 28, 2016
terça-feira, junho 21, 2016
Nós, mulheres, sempre queremos mais um pouquinho
Usar esses vestidinhos colados ao corpo, curtinhos, é um problema ou, quem sabe, a solução, depende do que cada uma de nós deseja. Sou alta, 1,80, magra, a perna um tantinho grossa. Quando uso um deles é uma atração à parte. É melhor à noite, entra-se no automóvel e salta-se no local da festa, ou na porta do restaurante combinado. Tenho um namorado que me adora de pernas de fora, e o vestidinho ajuda.
Outro dia fomos a uma festa no Jóquei Club. Não preciso dizer que minha presença causou quase um escândalo. Escândalo no sentido positivo. Não houve homem que não olhasse pra mim. Mesmo aqueles que estavam acompanhados das mulheres mais lindas. Quando fui ao toalete, muitas me olharam com inveja. Sempre há uma engraçadinha, não é mesmo? E ela pediu se podia vestir meu vestido por alguns instantes, queria ver se ficava bom nela. Não posso voltar nua, eu disse assustada. É só um pouquinho, e juro que não saio do banheiro, deixo saia e blusa com você. Tudo bem, falei, como somos todas conhecidas... Tirei o vestidinho e permiti que ela o experimentasse. Foi presente do namorado, sabe, falei, na verdade eu devia perguntar a ele se posso deixar outra mulher vesti-lo. Ah, ele ia adorar, duas mulheres nuas pra ele, e com o mesmo vestidinho, disse a engraçadinha desfilando e dando várias voltinhas. Saí do toalete e me misturei aos outros convidados, encontrei o namorado. Ainda bem que não mais a vi, nem voltei ao toalete.
O que serve de fetiche aos homens quando estou com esse tipo de roupa é que eles desejam saber se uso calcinha. Sabe que já até saí sem calcinha, mas é melhor vir completa, de calcinha e top. Mas eles sonham que o vestido vai subir e eles vão ver minha xereca. Não gosto do nome, não é nada literário, mas não encontro outro. Continuando no fetiche, há também aqueles que desejam subir as mãos por baixo do tecido e tocar minhas coxas até atingir o meio das pernas. Tenho amigas que querem ficar logo peladas, são ousadas, dizem que estão molhadinhas de tesão. Mas acho que é da boca pra fora. A mulher pra ficar excitada precisa de algum estímulo, não basta estar nua. Há ainda aquelas que ficam anos sem namorado, sem transar, a velha história de que o sexo da mulher é para dentro, por isso conseguem se segurar.
Há algumas coisas que me excitam, não sei explicar por quê. Uma delas é namorar dentro do carro. Não em qualquer lugar, mas em lugares especiais, onde existem árvores, silêncio e um céu cheio de estrelas. Há um lugar assim na Cosa Verde, onde predomina a mata de um lado e o mar de outro, é bom parar o carro numa das estradinhas laterais, deixá-lo estacionado em meio às árvores e namorar. É possível fazer sexo dentro do carro; se a temperatura estiver alta, pode-se mesmo fazer fora. Foi dentro de um carro que tirei o vestidinho pela primeira vez num lugar público. Estendi-o no banco de trás e deixei o namorado vir com todo ardor. Num outro dia, fizemos uma brincadeira. Saí correndo do automóvel, nua, e ele tinha de me pegar. Como estava escuro, me escondi. Foi um ótimo meio de nos excitarmos. Quando me encontrou, não aguentamos, trepamos encostados num tronco de árvore. O local estava como gosto, silencioso, o cheiro de mato, o céu cheio de estrelas, e lá longe, na pista, viam-se os faróis dos veículos.
Gosto de ter muitos namorados, não todos ao mesmo tempo, mas é bom experimentar os mais diversos tipos de homem. É importante também fazer papel de mulher séria, nada de piranhice. Os homens ficam caidinhos pelo meu encanto, pelo meu jeito angelical, pelas minhas pernas longas e nuas. Houve um que me pediu que eu fosse no banco do carona sem o vestidinho, ainda que por alguns minutos. Como ele era muito atraente, simpático e de uma família rica, concordei. Acabei que não vesti mais a roupa. Ele parou à porta de minha casa e disse está escuro, você está só em casa, devolvo teu vestidinho amanhã, assim durmo com o teu cheirinho. Jura que devolve?, perguntei, gosto tanto dessa roupa, afirmei. Juro, respondeu solene. Ele esperou eu abrir a porta e entrar. Eu, apenas de sandália e com a bolsa a tiracolo dei um adeusinho. Ele voltou no dia seguinte. Trepamos que foi uma beleza. E o vestidinho voltou passado e muito cheiroso. A nós, mulheres, no momento do sexo sempre parece que falta alguma coisa, queremos mais um pouquinho. Os homens não são capazes de nos satisfazer. Mas esse namorado me completou. Ou, não sei, foi o que chegou quase lá!
quarta-feira, junho 15, 2016
Foi o paraíso
O ex-namoradinho, muito engraçado, gostava de histórias
picantes. Telefonou pra perguntar como estou passando. No final, antes de se
despedir, disse que qualquer dia desses vem aqui à minha cidade me roubar a
calcinha. Até que namorar com ele foi bom, mas não sei por que terminamos; o
motivo, acho eu, foi o excesso de trabalho. Isso mesmo, quando se trabalha
demais não se tem tempo pra mais nada, a não ser descansar, dormir, acordar
tarde nos dias de folga. A habilidade do
homem em me roubar calcinhas era verdadeira, me surrupiou até mesmo um
biquíni, e eu estava na praia da Joana. No entanto, não demorava a me encher de
presentes, tantas coisas, pequenos quadros, enfeites para mesa de centro,
azulejos pintados, pratos comemorativos (vejam que gosto!), cordões, pulseiras e,
é lógico, calcinhas. Eu, safada que só, adorava o homem. Que ele venha um dia
desses, tudo bem, a aventura será estimulante.
Duas ruas além de onde moro, há um senhor que vive sozinho.
Faz pouco tempo, porém, descobri que ele é casado, a esposa não mora aqui na
cidade, mas com a filha em Rio das Ostras. Toda vez que passo diante da casa
dele, sinto seus olhos espichados a me acompanhar os passos. Outro dia o tal
senhor me chamou. Como nossa cidade não é das maiores, é um lugar onde as
pessoas costumam se cumprimentar, parei e esperei que ele desse o recado. Veio com uma história exótica, mas não demorei a perceber que era uma cantada, e muito original. Quando dei por mim, estava enredada nas suas palavras. Com uma fisionomia séria,
ele contou sobre sua vida sexual. Eu deveria ficar surpresa, pois o homem
apenas me cumprimentava e, de repente, me para na rua para falar de suas trepadas.
Teve alguma sutileza, mas foi completamente compreensível que ele me convidava.
“Tenho namorado”, afirmei falsamente.
“Não faz mal”, contrapôs, “quem tem um pode ter dois, e vai
lucrar mais.”
Aqui entra a parte dele.
“Você vai ganhar muitos presentes, caso aceite a minha
companhia. Esta não será todos os dias, prometo, uma ou duas vezes na semana. E
lhe asseguro que ninguém saberá.”
Pelas palavras, o homem parecia um erudito. Fez um recurso
sobre a razão naturalista, pode-se dizer assim. Seu discurso não levava em
consideração razões morais.
Com educação, escutei suas palavras. O homem prometia
dinheiro, vantagens, presentes. Caso eu assim o desejasse, poderia aproveitar.
“Namoro por sentimento”, disse eu secamente.
“O sentimento está na beleza, na riqueza, na oportunidade de
aproveitar a vida, pense nisso, não precisa me responder hoje”, agradeceu minha
atenção.
“A senhorita é muito afável”, disse antes de eu ir embora.
Naquela semana evitei a rua onde morava todas as vezes que
tive de sair e meu caminho era aquela direção. Preferia seguir por uma
transversal e dobrar a terceira, uma rua depois da dele. Contei o assunto pra
um amigo com quem eu saía vez ou outra. Eu e esse amigo transávamos, mas não
éramos namorados nem tínhamos pretensões futuras, apenas aproveitávamos o
momento. Ele achou a história engraçada.
“Na certa é um homem carente, que procura comprar uma mulher
com dinheiro, caso você dê margem de manobra ele não vai desistir”, chegou a me
falar. Ri e rolamos na cama, no último momento eu ia por cima.
O senhor mandou um presente. Não queria aceitá-lo, mas achei
que não deveria recusar, não gosto de ser indelicada. Abri e me assustei. Uma
pulseira dourada. Corri a uma loja de joias pra me certificar. O joalheiro me
assegurou: é ouro, e dos bons. Aceitar o presente seria concordar com o convite
e com as propostas do homem. Fui à sua casa, bati à porta que antecedia o
jardim. Ele veio atender. Agradeceu minha visita e insistiu que eu entrasse.
“Tenho pouco tempo”, aleguei, “uma consulta médica.”
Mesmo assim aceitei. Entrei. Ele me trouxe um café.
“O senhor já sabe o motivo da minha visita, não é mesmo?”
“Oh, imagino”, ele sorriu. “Tenho mais uma coisa pra você.”
Levantou-se e correu a um cômodo além da sala. Voltou em
alguns segundos trazendo numa das mãos uma caixinha de camurça.
“Veja, é o complemento da pulseira, estava esperando você
para completar o presente.”
Ele deixou que o cordão se desenrolasse e trouxe até junto
de mim.
“Mas...”, tentei dizer.
“É ouro verdadeiro, não é daqui do nosso país.”
Era um cordão comprido, a corrente, grossa, devia valer uma
fortuna, ainda havia uma medalha que não consegui distinguir o motivo, de tão
nervosa que estava.
“Não posso aceitar”, falei um tanto desolada.
“Não diga isso”, sorri, um sorriso triste e compreensivo,
“no começo as pessoas se surpreendem, é assim mesmo.”
“O senhor já presenteou outras pessoas?”, curiosa, olhei com
ar de desafio.
“Sim, é comum eu oferecer presentes, e, assim como você não
são todas que aceitam”, acrescentou.
Deixei a pulseira com ele e não aceitei o cordão. O homem
não insistiu, pareceu compreender minha vontade.
Parti com um pouco de remorso. Meu coração bateu um pouquinho mas forte. Quem sabe eu já estava criando um sentimento por ele. Além disso, eu estava precisando de
dinheiro e aqueles presentes resolveriam todos os meus problemas. Mas existe
uma coisa chamada liberdade, e ela eu não queria perdê-la. Se eu pudesse receber os presentes e continuar livre... Mas pra frente, talvez, a gente poderia conversar.
Eu vestia tênis, calça legging, um camisão que descia até as
coxas, por baixo uma faixa de lycra que me segurava os seios (na verdade um
top), meu cabelo pintado todo de preto balançava ao sabor do vento. Era noite e
eu estava na ponta da praia. Olhei o relógio e me perguntei se ele viria.
Passavam, vagaroso, os veículos. Os bares e restaurantes estavam cheios.
Um automóvel trafegava lento. De repente, parou ao meu lado. O vidro
desceu e alguém me chamou lá de dentro. Era quem eu esperava. Abriu a porta e
me convidou a entrar. Assim que entrei e fechei a porta, o barulho externo
tornou-se distante, uma fantasmagoria. Ele aproximou o corpo e me beijou.
“Não falei que viria?”, sorriu e me beijou mais uma vez, "vim
roubar sua calcinha", brincou, quem sabe.
Abracei com força seu corpo.
Abracei com força seu corpo.
“Vamos, pode fazer de mim o que quiser”, estava eu eufórica.
“Trouxe um biquíni que é uma coisinha à toa”, acrescentei em tom divertido.
Ele deu a partida. Dali em diante, foi o paraíso.
sexta-feira, junho 10, 2016
Escrever histórias
Escrever histórias é um vício. Lógico que é um vício
gostoso, não cansa nem faz mal à saúde. E há tanta coisa engraçada pra
escrever. Engraçada e picante. Se é literatura? Não sei. Dei o nome ao blog faz
tempo, e tem no título a tal literatura, mas acho que os estudiosos olham atravessado ao que escrevo. Não tem problema, o importante é ser divertido.
Tenho três histórias ótimas. Mas vamos devagar, hoje apenas uma, e durante as
semanas que se seguem publico as outras. Há leitoras reclamando que não
converso diretamente faz tempo. No entanto, se observarem, estou sempre a
conversar. Tudo que escrevo têm a minha voz, e já faz
mais de dez anos que converso com vocês. Surgiu tanta coisa nova, não?, as
redes sociais emplacaram, o blog, porém, continua. E não tenho intenção de
largá-lo. Há amigos ou amigas que me pedem: “publique um livro, vai
ficar mais bonito, escolha as melhores histórias, todos vão gostar, vão
elogiar.” Quem sabe, prometo pensar nisso, apenas prometo, quanto a
publicar... Uma leitora argumenta que vou perder minhas
histórias caso as deixe apenas no blog. “A internet é transitória”, afirma, “o
livro fica, sempre haverá alguém com um exemplar em alguma estante, numa biblioteca, ou no catálogo da Biblioteca Nacional, as páginas da web não duram,
quando a gente resolve procurá-las não estão mais lá, desapareceram sem deixar
vestígios.” Prometo mais uma vez que vou pensar no assunto.
Vamos agora à história de hoje. Ah, mais uma coisa. Uma
leitora aflita me pediu que contasse a história em que tive de escrever um
conto pra ter minhas roupas de volta! Já escrevi sobre isso, querida, basta
você clicar lá atrás, chama-se “Seus amigos teimaram
que eu tinha de escrever um conto especial para eles, e eram três horas da
madrugada”. Título comprido, talvez o maior que já escrevi. Vale a pena, é uma
bela história, e aconteceu mesmo.
Estava eu em casa quando recebo um caixa de bombons. Da Kopenhagen.
O homem mandou a caixa com um cartão. Não demorei a experimentar um, dois,
três. Passaram-se três semanas e veio outra caixa. Meu Deus, não posso
engordar, e esses chocolates são uma delícia. De novo experimentei um, dois,
três. Na semana seguinte, recebi a mensagem:
“Margarida, adoro você, faço uma proposta indecente. É má a
palavra, mas não tenho outra. Dou o presente que me pedir, mas (sou
direto, nado mal nas águas da literatura) quero ver você nua comendo os
chocolates.”
Não respondi ao homem, de imediato. É sempre bom deixar
passarem os dias, deixá-los ansiosos. Apaixonam-se e cedem mais. Se daria um presente,
dão dois; se dois, quatro. E lá se foi mais uma semana. Minha resposta:
“Chocolates de que origem?”
Quando veio a resposta, ele parecia estar a mil, coitado.
“Da Kopenhagen.”
Combinamos o presente após mais dois dias de negociações. Não posso dizer o que pedi além dos chocolates, o mundo anda muito perigoso. Mas aos mais próximos, prometo soprar ao pé do ouvido.
“Chocolates de que origem?”
Quando veio a resposta, ele parecia estar a mil, coitado.
“Da Kopenhagen.”
Combinamos o presente após mais dois dias de negociações. Não posso dizer o que pedi além dos chocolates, o mundo anda muito perigoso. Mas aos mais próximos, prometo soprar ao pé do ouvido.
Veio um automóvel me buscar. E lá fui eu ao encontro dos
bombons e do presente.
Gente, vocês não imaginam a suíte real em que me vi. Faz tempo não vou a lugar assim, os homens andam muito pobres. Ele tirou a caixa,
e me mostrou o presente.
“Então?”, pronunciou com sofreguidão.
“Calma”, falei, “deixe explicar aos meus leitores como você
é”, completei.
Alto, bem vestido, de terno e gravata, cabelo castanho
penteado para trás, cheiroso, acho que Kenzo. Adorei. Mas sou furtiva.
“Primeiro, deixe-me ver o presente.”
Ele passou-o às minhas mãos. Depois vieram os chocolates.
“Por favor, onde o toalete?”, perguntei.
Voltei de lá apenas de salto alto. Ah, esses homens são um tanto homossexuais, adoram um salto, mas deixa pra lá. Sentei, cruzei as pernas, abri a delicada embalagem, tinha uma fita vermelha. Comi o primeiro, depois o segundo, e mais um terceiro. Ao parar, ele disse:
“Por favor, onde o toalete?”, perguntei.
Voltei de lá apenas de salto alto. Ah, esses homens são um tanto homossexuais, adoram um salto, mas deixa pra lá. Sentei, cruzei as pernas, abri a delicada embalagem, tinha uma fita vermelha. Comi o primeiro, depois o segundo, e mais um terceiro. Ao parar, ele disse:
“Coma mais, por favor.”
Eu não queria estragar a festa. Comi.
“Mais um, por favor.”
Continuei não querendo estragar a festa. Porém, quando ele
me pediu que comesse oitavo bombom, contra-argumentei.
“Não seria melhor esperarmos um pouquinho?”, e sorri a ele,
dentro da boca ainda o último pedaço.
“Estou lhe oferecendo um presente tão caro, você tem de
comer a caixa toda.”
Assustei-me. Nunca me deparei com tal tara. Um homem a ver
uma mulher nua a comer a caixa inteira de chocolates. Fingi, no entanto, que
era a coisa mais natural do mundo. Comi mais um. Então, chamei-o pra sentar
junto a mim.
“Não está no contrato”, contrapus, “mas vou lhe proporcionar
mais prazer.”
Coloquei mais um bombom na boca, seria o último, jurei a mim
mesma. Abri a calça do homem, tirei seu peru e mergulhei num boquete gostoso. O chocolate quente formava uma massa que envolvia seu pênis, tornando a chupada
excitante. Ficamos num namoro gostoso, o homem sempre dentro da minha boca. É isso,
Margarida, ou o gozo do homem ou a caixa inteira.
Enfim, posso dizer que o homem me deu um trabalho terrível.
Mas gozou. E quando os homens gozam, ao contrário das mulheres, arrefecem o desejo.
Engoli a porra junto com os restos do precioso bombom. Fiz fisionomia de que
estava adorando. Ele ainda gritou que gozava mais por causa da minha ousadia.
Abaixei rápida e recebi mais um jorro na boca. A partir daí, esqueceu a caixa de
bombons. Ainda ficamos juntos por duas horas, bebemos licor e tomamos café. Eu
sempre nua.
Tenho de ir, pensei, logo volta o desejo e ele vai me fazer
comer o restante da caixa.
“Agora você tem de mostrar o conto”, ele pediu.
“Conto?”, fingi surpresa.
“Você não é escritora?, quero que escreva algo especialmente
pra mim, não esqueci, viu, ainda há dezesseis bombons.”
Sorri, como se nada tivesse acontecendo.
“Lápis?”, perguntei.
Ele trouxe o notebook. Dei-lhe então este conto.
Ele leu.
“Adorável.”
“Com licença, o toalete”, levantei-me, e fui me vestir.
Ah, esses homens... Além de me ver nua comendo chocolates, receber um belo dum boquete e
ter um conto meu escrito ao vivo, roubou minha calcinha!
terça-feira, junho 07, 2016
A pinça e o gelo
O que você está fazendo nua aqui?
Pergunto o mesmo a você.
Me colocaram aqui enquanto não começa o desfile.
Você vai desfilar?
Vou?
Engraçado a pinça e o gelo, e mais engraçado onde você está
esfregando.
Ah, sim, apenas precaução.
Você desfila, tem corpo de mulher e não é mulher.
O que há de mal nisso?
Pensando bem, nada. É estranho a pinça e o gelo sobre o pênis!
Não ria, é apenas precaução, tem de caber na calcinha. Nunca
viu travestis desfilarem?, são o maior sucesso, talvez você já tenha ouvido
falar de mim, sou Miriam Love.
Oh, Miriam Love, muito prazer, sou Lina Hate.
Ok, que nome engraçado. Mas me conta, o que você faz nua
aqui.
Houve um pequeno problema.
Problema? Mulher nua não é problema, problema é travesti
nua.
Talvez. Mas houve um pequeno problema.
Você vai desfilar?
Não, não sou modelo.
E o que faz nua, então?
É um teste, ok? Um pequeno teste.
Pretende desfilar, então?
Não, nada de desfile. Mas vejo que você está em apuros, seu
pênis não diminui, assim você perde o emprego.
Nada disso, vira essa boca pra lá.
Deixa que eu resolvo, vira de costas. Vamos, rápido. Isso, assim.
Você está segurando meus testículos.
Nada disso, é para o pênis diminuir.
Diminuir? Está crescendo, para, por favor.
Calma, primeiro cresce, depois diminui. Aguente firme.
Você está me masturbando, por favor.
Calma, você vai ver, ninguém, jamais, masturbou você assim.
Ai, está gostoso.
Não falei?
Imagine se alguém abre a porta, meu piru está enorme.
Ninguém vai abrir a porta, estão preocupados com o desfile.
Ai vou gozar, por favor, não me deixa gozar, vou sujar tudo.
Vira de frente, rápido.
Você é boa nisso, abriu a boca e não deixou cair um pingo. E
agora, onde você vai cuspir?
Hum, hum.
Ah, você engole, que beleza.
Veja se agora não está diminuindo.
Ah, está.
Viu, não precisa mais do gelo. E me dê aqui , vai, estou
morrendo de sede.
Você ainda não falou por que apareceu nua aqui.
Foi pra fazer seu pênis ficar pequeno!
Ah, nem precisa contar outra, essa é boa.
Ah, nem precisa contar outra, essa é boa.
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