terça-feira, junho 28, 2016

Caixa de surpresas

Oi, Mara, tudo bem? Ah, está surpresa com meu telefonema. É porque sei que você gosta de dormir tarde. Você fica lendo, vendo filmes, escrevendo. Pelo menos é o que sempre me fala. Sabe o que é, quero contar uma história boa e engraçada. Na verdade, é sobre a caixa de surpresas. Lembra, foi você quem deu a ideia, depois aperfeiçoamos juntas. Não é que deu o melhor dos resultados? Bem que você falou. Sabe, Mara, o homem adorou. Na verdade, enlouqueceu. Disse que nunca viu uma mulher com tanta criatividade. Enquanto as outras ficam no feijão com arroz, no papai mamãe, você me arremessa a outro planeta, um planeta totalmente desconhecido. Juro, são as palavras que ele pronunciou. E tudo com a maior elegância. Logo que cheguei eu disse por favor, você tem de ser um bom espectador. A princípio, ele não entendeu. Não passou muito tempo, porém, pra entrar no jogo. Poxa, conheci você há uma semana e você me faz essa surpresa toda, confessou. Fica sentadinho aí, vou fazer as apresentações, avisei antes de abrir a caixa, mas precisa ser no escurinho, viu. Ele acendeu o abajur lateral. O palco era o meio da sala, dois metros por um e meio. Mas pra mim estava ótimo. Saí de cena rapidinho e voltei como o primeiro número, o vestidinho preto, coladinho e curtinho, nenhuma marca de rouba de baixo, apenas o tecido. Liguei o celular, uma musiquinha, e comecei a dançar pra ele. O vestidinho subia, subia. E o homem quase subindo pelas paredes. Saí de cena. Coloquei uma música de praia, de verão, e apareci com o biquininho. O biquininho de bolinhas, tão estreito, os peitos só cobertos os mamilos, a calcinha, bem, a calcinha você conhece. Novamente escapei às mãos do homem. Espere, por favor, pedi, você não pode me agarrar agora, não tem graça. O terceiro traje foi o de fadinha, rendinha e varinha, nada de calcinha, mas vesti a faixa branca como top. O homem tirou a roupa, passou a assistir nu ao espetáculo. Ai, não estou aguentando, ele disse. Calma, vamos devagar, tenho outros números, no final você me agarra, disse eu e sorri. Fiz uma mágica com a varinha, uma espécie de encanto, e apareci sem a faixa branca. No quarto número apareço apenas de camiseta regata. Lembra, Mara, foi você quem escolheu. Estico a camiseta na frente, atrás quando dou as costas, tudo seguido da musiquinha do meu telefone. Mas a cena que fez o homem explodir foi a do chocolate, coreografia criada por nós duas, Mara. Fiz uma espécie de maiô com a renda preta, como você ensinou. Dividi o tecido ao meio e passei cada metade por trás do pescoço, desci cobrindo os seios e continuei até passar por baixo da minha periquita, subi em tira única o bumbum cruzei  as duas pontas da renda, cada uma prum lado, trouxe para frente cobrindo a tira vertical e dei um laço no lado esquerdo da cintura. Foi então que peguei a barra de chocolate, a maior de todas, dançava e retirava o papel, depois puxei devagarinho o laminado, enfim mordi o primeiro pedaço. Fui comendo e umedecendo os lábios com a língua, engolindo pedaço a pedaço. O homem queria sair da poltrona, o pênis ereto, correu na minha direção. Por favor, ainda não, espere mais um pouquinho, não estrague o teatrinho, alertei. Jura que já acaba?, perguntou. Juro, só falta essa. Ele puxou uma cadeira e ficou a um metro e meio do palquinho. Quando engoli o último pedaço, Mara, o homem explodiu. Não sabe o que é um homem explodir, amiga? Explico. O homem gozou. E foram dois ou três jorros. Todos saltaram a distância de um metro e meio, atingiram minhas coxas. Mas fingi que nada acontecia, continuei o número, no final desfiz o laço. Ele correu pra mim e me agarrou. O pênis continuou durinho e o homem gozou mais uma vez. Uma loucura. E quase não consigo colocar a camisinha, foi por um triz. Quando acabamos, ele ainda estava a mil, o coração descompassado. Descansa um pouco, aconselhei, você está muito excitado. Ele deitou e fechou os olhos, muito feliz. Continuei com a música e pude ainda reparar o arfar dos seus pulmões. Coloquei todas as surpresas na caixa, guardei com muito cuidado. Peguei a caixa, o sapato e saí em silêncio. Ele parecia dormir. Bati a porta. Agora, apenas uma coisinha. Sabe o vestidinho com o qual cheguei? Aquele de apliques prateados. Pensei tê-lo colocado na caixa, queria me vestir no corredor. Você sabe, caso ele acordasse ia querer mais um espetáculo, e eu já estou cansada, já tenho minha recompensa. Mas, do lado de fora, reparei que esqueci o vestidinho lá dentro. E agora, o que faço?, perguntei a mim mesma, neste tardar da noite. Ah, a solução, pensei, telefono pra Mara... O quê?, você está sem o carro. Voltar com um dos modelos da caixa de surpresa? Mara, é tudo tão curtinho, vão me agarrar lá fora, e vai sair de graça. Arranja um jeitinho, vai, Mara, meu amorzinho. Confesso que esta situação está me deixando arrepiada, mas não posso voltar nua pra casa, daqui a pouco vai amanhecer. Tá bom, Mara, vou bater, ele vai abrir e me encontrar peladinha, acho que vai perder de vez a cabeça. Vai querer mais teatrinho. Bem, isso é, melhor mais um teatrinho do que nua no bairro do Visconde!

terça-feira, junho 21, 2016

Nós, mulheres, sempre queremos mais um pouquinho

Usar esses vestidinhos colados ao corpo, curtinhos, é um problema ou, quem sabe, a solução, depende do que cada uma de nós deseja. Sou alta, 1,80, magra, a perna um tantinho grossa. Quando uso um deles é uma atração à parte. É melhor à noite, entra-se no automóvel e salta-se no local da festa, ou na porta do restaurante combinado. Tenho um namorado que me adora de pernas de fora, e o vestidinho ajuda.

Outro dia fomos a uma festa no Jóquei Club. Não preciso dizer que minha presença causou quase um escândalo. Escândalo no sentido positivo. Não houve homem que não olhasse pra mim. Mesmo aqueles que estavam acompanhados das mulheres mais lindas. Quando fui ao toalete, muitas me olharam com inveja. Sempre há uma engraçadinha, não é mesmo? E ela pediu se podia vestir meu vestido por alguns instantes, queria ver se ficava bom nela. Não posso voltar nua, eu disse assustada. É só um pouquinho, e juro que não saio do banheiro, deixo saia e blusa com você. Tudo bem, falei, como somos todas conhecidas... Tirei o vestidinho e permiti que ela o experimentasse. Foi presente do namorado, sabe, falei, na verdade eu devia perguntar a ele se posso deixar outra mulher vesti-lo. Ah, ele ia adorar, duas mulheres nuas pra ele, e com o mesmo vestidinho, disse a engraçadinha desfilando e dando várias voltinhas. Saí do toalete e me misturei aos outros convidados, encontrei o namorado. Ainda bem que não mais a vi, nem voltei ao toalete.

O que serve de fetiche aos homens quando estou com esse tipo de roupa é que eles desejam saber se uso calcinha. Sabe que já até saí sem calcinha, mas é melhor vir completa, de calcinha e top. Mas eles sonham que o vestido vai subir e eles vão ver minha xereca. Não gosto do nome, não é nada literário, mas não encontro outro. Continuando no fetiche, há também aqueles que desejam subir as mãos por baixo do tecido e tocar minhas coxas até atingir o meio das pernas. Tenho amigas que querem ficar logo peladas, são ousadas, dizem que estão molhadinhas de tesão. Mas acho que é da boca pra fora. A mulher pra ficar excitada precisa de algum estímulo, não basta estar nua. Há ainda aquelas que ficam anos sem namorado, sem transar, a velha história de que o sexo da mulher é para dentro, por isso conseguem se segurar.

Há algumas coisas que me excitam, não sei explicar por quê. Uma delas é namorar dentro do carro. Não em qualquer lugar, mas em lugares especiais, onde existem árvores, silêncio e um céu cheio de estrelas. Há um lugar assim na Cosa Verde, onde predomina a mata de um lado e o mar de outro, é bom parar o carro numa das estradinhas laterais, deixá-lo estacionado em meio às árvores e namorar. É possível fazer sexo dentro do carro; se a temperatura estiver alta, pode-se mesmo fazer fora. Foi dentro de um carro que tirei o vestidinho pela primeira vez num lugar público. Estendi-o no banco de trás e deixei o namorado vir com todo ardor. Num outro dia, fizemos uma brincadeira. Saí correndo do automóvel, nua, e ele tinha de me pegar. Como estava escuro, me escondi. Foi um ótimo meio de nos excitarmos. Quando me encontrou, não aguentamos, trepamos encostados num tronco de árvore. O local estava como gosto, silencioso, o cheiro de mato, o céu cheio de estrelas, e lá longe, na pista, viam-se os faróis dos veículos.

Gosto de ter muitos namorados, não todos ao mesmo tempo, mas é bom experimentar os mais diversos tipos de homem. É importante também fazer papel de mulher séria, nada de piranhice.  Os homens ficam caidinhos pelo meu encanto, pelo meu jeito angelical, pelas minhas pernas longas e nuas. Houve um que me pediu que eu fosse no banco do carona sem o vestidinho, ainda que por alguns minutos. Como ele era muito atraente, simpático e de uma família rica, concordei. Acabei que não vesti mais a roupa. Ele parou à porta de minha casa e disse está escuro, você está só em casa, devolvo teu vestidinho amanhã, assim durmo com o teu cheirinho. Jura que devolve?, perguntei, gosto tanto dessa roupa, afirmei. Juro, respondeu solene. Ele esperou eu abrir a porta e entrar. Eu, apenas de sandália e com a bolsa a tiracolo dei um adeusinho. Ele voltou no dia seguinte. Trepamos que foi uma beleza. E o vestidinho voltou passado e muito cheiroso. A nós, mulheres, no momento do sexo sempre parece que falta alguma coisa, queremos mais um pouquinho. Os homens não são capazes de nos satisfazer. Mas esse namorado me completou. Ou, não sei, foi o que chegou quase lá!

quarta-feira, junho 15, 2016

Foi o paraíso

O ex-namoradinho, muito engraçado, gostava de histórias picantes. Telefonou pra perguntar como estou passando. No final, antes de se despedir, disse que qualquer dia desses vem aqui à minha cidade me roubar a calcinha. Até que namorar com ele foi bom, mas não sei por que terminamos; o motivo, acho eu, foi o excesso de trabalho. Isso mesmo, quando se trabalha demais não se tem tempo pra mais nada, a não ser descansar, dormir, acordar tarde nos dias de folga. A habilidade do homem em me roubar calcinhas era verdadeira, me surrupiou até mesmo um biquíni, e eu estava na praia da Joana. No entanto, não demorava a me encher de presentes, tantas coisas, pequenos quadros, enfeites para mesa de centro, azulejos pintados, pratos comemorativos (vejam que gosto!), cordões, pulseiras e, é lógico, calcinhas. Eu, safada que só, adorava o homem. Que ele venha um dia desses, tudo bem, a aventura será estimulante.

Duas ruas além de onde moro, há um senhor que vive sozinho. Faz pouco tempo, porém, descobri que ele é casado, a esposa não mora aqui na cidade, mas com a filha em Rio das Ostras. Toda vez que passo diante da casa dele, sinto seus olhos espichados a me acompanhar os passos. Outro dia o tal senhor me chamou. Como nossa cidade não é das maiores, é um lugar onde as pessoas costumam se cumprimentar, parei e esperei que ele desse o recado. Veio com uma história exótica, mas não demorei a perceber que era uma cantada, e muito original. Quando dei por mim, estava enredada nas suas palavras. Com uma fisionomia séria, ele contou sobre sua vida sexual. Eu deveria ficar surpresa, pois o homem apenas me cumprimentava e, de repente, me para na rua para falar de suas trepadas. Teve alguma sutileza, mas foi completamente compreensível que ele me convidava.
“Tenho namorado”, afirmei falsamente.

“Não faz mal”, contrapôs, “quem tem um pode ter dois, e vai lucrar mais.”

Aqui entra a parte dele.

“Você vai ganhar muitos presentes, caso aceite a minha companhia. Esta não será todos os dias, prometo, uma ou duas vezes na semana. E lhe asseguro que ninguém saberá.”

Pelas palavras, o homem parecia um erudito. Fez um recurso sobre a razão naturalista, pode-se dizer assim. Seu discurso não levava em consideração razões morais.

Com educação, escutei suas palavras. O homem prometia dinheiro, vantagens, presentes. Caso eu assim o desejasse, poderia aproveitar.

“Namoro por sentimento”, disse eu secamente.

“O sentimento está na beleza, na riqueza, na oportunidade de aproveitar a vida, pense nisso, não precisa me responder hoje”, agradeceu minha atenção.

“A senhorita é muito afável”, disse antes de eu ir embora.

Naquela semana evitei a rua onde morava todas as vezes que tive de sair e meu caminho era aquela direção. Preferia seguir por uma transversal e dobrar a terceira, uma rua depois da dele. Contei o assunto pra um amigo com quem eu saía vez ou outra. Eu e esse amigo transávamos, mas não éramos namorados nem tínhamos pretensões futuras, apenas aproveitávamos o momento. Ele achou a história engraçada.

“Na certa é um homem carente, que procura comprar uma mulher com dinheiro, caso você dê margem de manobra ele não vai desistir”, chegou a me falar. Ri e rolamos na cama, no último momento eu ia por cima.

O senhor mandou um presente. Não queria aceitá-lo, mas achei que não deveria recusar, não gosto de ser indelicada. Abri e me assustei. Uma pulseira dourada. Corri a uma loja de joias pra me certificar. O joalheiro me assegurou: é ouro, e dos bons. Aceitar o presente seria concordar com o convite e com as propostas do homem. Fui à sua casa, bati à porta que antecedia o jardim. Ele veio atender. Agradeceu minha visita e insistiu que eu entrasse.

“Tenho pouco tempo”, aleguei, “uma consulta médica.”

Mesmo assim aceitei. Entrei. Ele me trouxe um café.

“O senhor já sabe o motivo da minha visita, não é mesmo?”

“Oh, imagino”, ele sorriu. “Tenho mais uma coisa pra você.”

Levantou-se e correu a um cômodo além da sala. Voltou em alguns segundos trazendo numa das mãos uma caixinha de camurça.

“Veja, é o complemento da pulseira, estava esperando você para completar o presente.”

Ele deixou que o cordão se desenrolasse e trouxe até junto de mim.

“Mas...”, tentei dizer.

“É ouro verdadeiro, não é daqui do nosso país.”

Era um cordão comprido, a corrente, grossa, devia valer uma fortuna, ainda havia uma medalha que não consegui distinguir o motivo, de tão nervosa que estava.

“Não posso aceitar”, falei um tanto desolada.

“Não diga isso”, sorri, um sorriso triste e compreensivo, “no começo as pessoas se surpreendem, é assim mesmo.”

“O senhor já presenteou outras pessoas?”, curiosa, olhei com ar de desafio.

“Sim, é comum eu oferecer presentes, e, assim como você não são todas que aceitam”, acrescentou.

Deixei a pulseira com ele e não aceitei o cordão. O homem não insistiu, pareceu compreender minha vontade.

Parti com um pouco de remorso. Meu coração bateu um pouquinho mas forte. Quem sabe eu já estava criando um sentimento por ele. Além disso, eu estava precisando de dinheiro e aqueles presentes resolveriam todos os meus problemas. Mas existe uma coisa chamada liberdade, e ela eu não queria perdê-la. Se eu pudesse receber os presentes e continuar livre... Mas pra frente, talvez, a gente poderia conversar.


Eu vestia tênis, calça legging, um camisão que descia até as coxas, por baixo uma faixa de lycra que me segurava os seios (na verdade um top), meu cabelo pintado todo de preto balançava ao sabor do vento. Era noite e eu estava na ponta da praia. Olhei o relógio e me perguntei se ele viria. Passavam, vagaroso, os veículos. Os bares e restaurantes estavam cheios.

Um automóvel trafegava lento. De repente, parou ao meu lado. O vidro desceu e alguém me chamou lá de dentro. Era quem eu esperava. Abriu a porta e me convidou a entrar. Assim que entrei e fechei a porta, o barulho externo tornou-se distante, uma fantasmagoria. Ele aproximou o corpo e me beijou.

“Não falei que viria?”, sorriu e me beijou mais uma vez, "vim roubar sua calcinha", brincou, quem sabe.

Abracei com força seu corpo.

“Vamos, pode fazer de mim o que quiser”, estava eu eufórica. “Trouxe um biquíni que é uma coisinha à toa”, acrescentei em tom divertido.

Ele deu a partida. Dali em diante, foi o paraíso.

sexta-feira, junho 10, 2016

Escrever histórias

Escrever histórias é um vício. Lógico que é um vício gostoso, não cansa nem faz mal à saúde. E há tanta coisa engraçada pra escrever. Engraçada e picante. Se é literatura? Não sei. Dei o nome ao blog faz tempo, e tem no título a tal literatura, mas acho que os estudiosos olham atravessado ao que escrevo. Não tem problema, o importante é ser divertido. Tenho três histórias ótimas. Mas vamos devagar, hoje apenas uma, e durante as semanas que se seguem publico as outras. Há leitoras reclamando que não converso diretamente faz tempo. No entanto, se observarem, estou sempre a conversar. Tudo que escrevo têm a minha voz, e já faz mais de dez anos que converso com vocês. Surgiu tanta coisa nova, não?, as redes sociais emplacaram, o blog, porém, continua. E não tenho intenção de largá-lo. Há amigos ou amigas que me pedem: “publique um livro, vai ficar mais bonito, escolha as melhores histórias, todos vão gostar, vão elogiar.” Quem sabe, prometo pensar nisso, apenas prometo, quanto a publicar... Uma leitora argumenta que vou perder minhas histórias caso as deixe apenas no blog. “A internet é transitória”, afirma, “o livro fica, sempre haverá alguém com um exemplar em alguma estante, numa biblioteca, ou no catálogo da Biblioteca Nacional, as páginas da web não duram, quando a gente resolve procurá-las não estão mais lá, desapareceram sem deixar vestígios.” Prometo mais uma vez que vou pensar no assunto.

Vamos agora à história de hoje. Ah, mais uma coisa. Uma leitora aflita me pediu que contasse a história em que tive de escrever um conto pra ter minhas roupas de volta! Já escrevi sobre isso, querida, basta você clicar lá atrás, chama-se “Seus amigos teimaram que eu tinha de escrever um conto especial para eles, e eram três horas da madrugada”. Título comprido, talvez o maior que já escrevi. Vale a pena, é uma bela história, e aconteceu mesmo.


Estava eu em casa quando recebo um caixa de bombons. Da Kopenhagen. O homem mandou a caixa com um cartão. Não demorei a experimentar um, dois, três. Passaram-se três semanas e veio outra caixa. Meu Deus, não posso engordar, e esses chocolates são uma delícia. De novo experimentei um, dois, três. Na semana seguinte, recebi a mensagem:

“Margarida, adoro você, faço uma proposta indecente. É má a palavra, mas não tenho outra. Dou o presente que me pedir, mas (sou direto, nado mal nas águas da literatura) quero ver você nua comendo os chocolates.”

Não respondi ao homem, de imediato. É sempre bom deixar passarem os dias, deixá-los ansiosos. Apaixonam-se e cedem mais. Se daria um presente, dão dois; se dois, quatro. E lá se foi mais uma semana. Minha resposta:

“Chocolates de que origem?”

Quando veio a resposta, ele parecia estar a mil, coitado.

“Da Kopenhagen.”

Combinamos o presente após mais dois dias de negociações. Não posso dizer o que pedi além dos chocolates, o mundo anda muito perigoso. Mas aos mais próximos, prometo soprar ao pé do ouvido.

Veio um automóvel me buscar. E lá fui eu ao encontro dos bombons e do presente.

Gente, vocês não imaginam a suíte real em que me vi. Faz tempo não vou a lugar assim, os homens andam muito pobres. Ele tirou a caixa, e me mostrou o presente.

“Então?”, pronunciou com sofreguidão.

“Calma”, falei, “deixe explicar aos meus leitores como você é”, completei.

Alto, bem vestido, de terno e gravata, cabelo castanho penteado para trás, cheiroso, acho que Kenzo. Adorei. Mas sou furtiva.

“Primeiro, deixe-me ver o presente.”

Ele passou-o às minhas mãos. Depois vieram os chocolates.

“Por favor, onde o toalete?”, perguntei.

Voltei de lá apenas de salto alto. Ah, esses homens são um tanto homossexuais, adoram um salto, mas deixa pra lá. Sentei, cruzei as pernas, abri a delicada embalagem, tinha uma fita vermelha. Comi o primeiro, depois o segundo, e mais um terceiro. Ao parar, ele disse:

“Coma mais, por favor.”

Eu não queria estragar a festa. Comi.

“Mais um, por favor.”

Continuei não querendo estragar a festa. Porém, quando ele me pediu que comesse oitavo bombom, contra-argumentei.

“Não seria melhor esperarmos um pouquinho?”, e sorri a ele, dentro da boca ainda o último pedaço.

“Estou lhe oferecendo um presente tão caro, você tem de comer a caixa toda.”

Assustei-me. Nunca me deparei com tal tara. Um homem a ver uma mulher nua a comer a caixa inteira de chocolates. Fingi, no entanto, que era a coisa mais natural do mundo. Comi mais um. Então, chamei-o pra sentar junto a mim.

“Não está no contrato”, contrapus, “mas vou lhe proporcionar mais prazer.”

Coloquei mais um bombom na boca, seria o último, jurei a mim mesma. Abri a calça do homem, tirei seu peru e mergulhei num boquete gostoso. O chocolate quente formava uma massa que envolvia seu pênis, tornando a chupada excitante. Ficamos num namoro gostoso, o homem sempre dentro da minha boca. É isso, Margarida, ou o gozo do homem ou a caixa inteira.

Enfim, posso dizer que o homem me deu um trabalho terrível. Mas gozou. E quando os homens gozam, ao contrário das mulheres, arrefecem o desejo. Engoli a porra junto com os restos do precioso bombom. Fiz fisionomia de que estava adorando. Ele ainda gritou que gozava mais por causa da minha ousadia. Abaixei rápida e recebi mais um jorro na boca. A partir daí, esqueceu a caixa de bombons. Ainda ficamos juntos por duas horas, bebemos licor e tomamos café. Eu sempre nua.

Tenho de ir, pensei, logo volta o desejo e ele vai me fazer comer o restante da caixa.

“Agora você tem de mostrar o conto”, ele pediu.

“Conto?”, fingi surpresa.

“Você não é escritora?, quero que escreva algo especialmente pra mim, não esqueci, viu, ainda há dezesseis bombons.”

Sorri, como se nada tivesse acontecendo.

“Lápis?”, perguntei.

Ele trouxe o notebook. Dei-lhe então este conto.

Ele leu.

“Adorável.”

“Com licença, o toalete”, levantei-me, e fui me vestir.

Ah, esses homens... Além de me ver nua comendo chocolates, receber um belo dum boquete e ter um conto meu escrito ao vivo, roubou minha calcinha!

terça-feira, junho 07, 2016

A pinça e o gelo

O que você está fazendo nua aqui?

Pergunto o mesmo a você.

Me colocaram aqui enquanto não começa o desfile.

Você vai desfilar?

Vou?

Engraçado a pinça e o gelo, e mais engraçado onde você está esfregando.

Ah, sim, apenas precaução.

Você desfila, tem corpo de mulher e não é mulher.

O que há de mal nisso?

Pensando bem, nada. É estranho a pinça e o gelo sobre o pênis!

Não ria, é apenas precaução, tem de caber na calcinha. Nunca viu travestis desfilarem?, são o maior sucesso, talvez você já tenha ouvido falar de mim, sou Miriam Love.

Oh, Miriam Love, muito prazer, sou Lina Hate.

Ok, que nome engraçado. Mas me conta, o que você faz nua aqui.

Houve um pequeno problema.

Problema? Mulher nua não é problema, problema é travesti nua.

Talvez. Mas houve um pequeno problema.

Você vai desfilar?

Não, não sou modelo.

E o que faz nua, então?

É um teste, ok? Um pequeno teste.

Pretende desfilar, então?

Não, nada de desfile. Mas vejo que você está em apuros, seu pênis não diminui, assim você perde o emprego.

Nada disso, vira essa boca pra lá.

Deixa que eu resolvo, vira de costas. Vamos, rápido. Isso, assim.

Você está segurando meus testículos.

Nada disso, é para o pênis diminuir.

Diminuir? Está crescendo, para, por favor.

Calma, primeiro cresce, depois diminui. Aguente firme.

Você está me masturbando, por favor.

Calma, você vai ver, ninguém, jamais, masturbou você assim.

Ai, está gostoso.

Não falei?

Imagine se alguém abre a porta, meu piru está enorme.

Ninguém vai abrir a porta, estão preocupados com o desfile.

Ai vou gozar, por favor, não me deixa gozar, vou sujar tudo.

Vira de frente, rápido.

Você é boa nisso, abriu a boca e não deixou cair um pingo. E agora, onde você vai cuspir?

Hum, hum.

Ah, você engole, que beleza.

Veja se agora não está diminuindo.

Ah, está.

Viu, não precisa mais do gelo. E me dê aqui , vai, estou morrendo de sede.

Você ainda não falou por que apareceu nua aqui.

Foi pra fazer seu pênis ficar pequeno!

Ah, nem precisa contar outra, essa é boa.