Mas se eu enfim cedia... Talvez fosse porque ninguém me
conhecia naquela cidade. Quando as pessoas não sabem quem somos, ou quando
estamos num lugar onde jamais estivemos e somos desconhecidas, tornamo-nos mais
corajosas. Foi o que aconteceu naquela madrugada.
A cidade era Flores, um lugarejo à beira mar, e a proposta
dele era tentadora, ou melhor, sugeria algo que testava minha coragem. Acho que
tudo começou porque ele me viu andando pelo pequeno centro da cidade apenas de
biquíni. Sempre entendi como normal uma mulher passear de biquíni quando está
próxima à praia. Naquele local ainda não era propriamente a praia, faltava uma
ou duas ruas, porém o cheiro do mar era tentador. Saí da casa onde estava
hospedada, de biquíni e uma pequena bolsa a tiracolo. Num primeiro momento não
dei conta se alguém me reparava. Havia algumas meninas brincando, também vestiam
trajes de banho, e como sorriam. Sorri de volta. As meninas tinham os
cabelos loiros e pareciam francesas. Segui na direção do mar. Parei numa das
esquinas onde havia um quiosque, pedi dois maços de cigarros. Comecei achar que
fizera a escolha certa ao permanecer alguns dias naquela cidade. Ao chegar à
praia vi outras pessoas sentadas na areia, umas sobre espreguiçadeiras, outras
sobre um pano estendido em cima da própria areia. E havia outras crianças.
Escolhi um lugar em meio às pessoas. Um rapaz veio me oferecer uma
espreguiçadeira e um guarda sol, de aluguel. Não recusei. Após sentar e apoiar
minhas bolsas sobre o tecido que eu tirara da bolsa, comecei a ler uma revista.
Mas a presença do mar era mais forte. Ele me tirou da página que eu tentava ler.
Fiquei observando como estavam serenas as águas da praia, ao longe alguns barcos
pareciam ancorados. Após olhar toda a extensão de areia, de reparar o barulho de
domingo, ou de um dia de férias, voltei à leitura. O homem que apareceu para
conversar chegou duas horas depois. Eu já havia entrado na água e tomara
cuidado para não molhar os cabelos. Ele sorriu, ficou próximo e não demorou a
vir perguntar-me se eu era turista ou se mudara para cidade. Sorri, tentando
ser simpática. Disse que estava de férias, mas que não demoraria na cidade. Ele
retrucou dizendo que era uma pena, o lugar era tão bom, que ficar menos de duas
semanas seria uma perda. Achei engraçada a palavra perda, não tenho o costume
de definir perda da mesma forma que ele. Mas sorri ainda, compassiva com o que
ele dizia. Na verdade, eu não queria companhia, mas o homem ficou ao meu lado,
em pé, a elogiar o local. Pensei que pudesse ser um comerciante que logo ofereceria
o seu produto. No entanto, tratava-se de alguém que não está acostumado a
encontrar mulheres sozinhas, um tipo de machismo muito comum nas muitas cidade
do nosso país. Depois de algum tempo, peguei a revista e deixei de dar atenção
a ele, voltei à leitura. Minha ação foi eficiente. Despediu-se e se retirou,
antes disse que se precisasse de alguma coisa era só procurá-lo, pois todos o
conheciam na cidade, chamava-se Éden. Continuei no mesmo lugar, lia a revista e
sentia no corpo o sol e o cheiro do mar, a cidade possuía um frisson que
excitava, difícil de traduzir em palavras. Fui à agua várias vezes, mas sempre
com cuidado para não molhar os cabelos. Em uma dessas idas, reparei um rapaz,
que também me olhou e sorriu, chegou a piscar um dos olhos. Tive vontade de
conversar com ele, porém, não se aproximou. Às cinco horas, voltei para a
pousada.
Fiquei no quarto até nove da noite. O banho de mar me
deixara mole e sonolenta. Mas não podia ficar sem comer até o dia seguinte. Saí
às dez e logo descobri, no pequeno centro, uma rua estreita onde se
enfileiravam muitos bares, todos cheios, com pessoas jovens em sua maioria,
bebiam e conversavam animadamente. O que me chamou a atenção foi que estavam
todos muito bem vestidos. Encontrei uma mesa lateral em um dos bares e pedi ao
garçom o cardápio. Havia vários pratos quentes e frios. Optei por uma salada e
uma taça de vinho branco. O bar requintado da cidade interiorana era bem
abastecido, tinha até mesmo muitas bebidas importadas. Antes da salada, serviram-me
uma espécie de entrada, um prato quase ornamental, uma grande folha de alface
espetada, e duas fatias de presunto, que vinham enroladas em si mesmas. Ao fim
de trinta minutos, veio o prato pedido. Nesse meio tempo eu já observara às
pessoas ao redor e reparara uma jovem que não cessava de olhar para mim. Achei
estranho seu olhar. Num momento de distração, enquanto repousava o garfo e
tomava um gole da taça de vinho branco, reparei que se encontrava ao meu lado,
sempre sorridente, com ar indagativo. Perguntou se eu não me aborrecia estar
sozinha. Respondi que não, estava acostumada a viajar e já me habituara. Perguntou
ainda se podia ficar um pouco à minha mesa. Sim, respondi movimentando os
ombros, como se aquilo não me aborrecesse.
É a primeira vez que você vem a Flores?, ela quis saber.
Sim, falei enquanto levava a taça aos lábios.
De repente ela perguntou:
Você reparou como os homens dessa cidade são engraçados?,
disse isso enquanto sinalizava ao garçom para se aproximar. Sorrindo, pediu a
ele um coquetel, não entendi o nome.
Os homens daqui são terríveis, viu? Terríveis e engraçados.
Engraçados, como?, demonstrei surpresa.
Ah, engraçados; chegam a estar pertinhos da gente, perguntam
alguma coisa e depois desaparecem.
Desaparecem?, repeti.
Isso mesmo, repetiu, se a gente fica com vontade de sair com
algum deles, fica apenas na vontade, porque não se sabe mais onde estão.
Agora me lembro, recuperei o que me acontecera na praia, um
homem se aproximou e veio conversar, disse que todos o conhecem na cidade, que
se precisasse de alguma coisa era só procurar por ele, seu nome é Éden, depois
surgiu um rapaz que piscou o olho e não se aproximou.
São assim, sei quem é o que foi até você e se ofereceu para
qualquer necessidade, fala assim com todas as mulheres.
E vocês, eu queria saber, não namoram ninguém, não casam
nesta cidade?, fiz cara de curiosa.
Ela deu uma gargalhada. O garçom se aproximava com uma
bebida de cor vermelha, colocou a taça, muito bonita, diante dela.
Ah, ela mostrou-se surpresa, não me apresentei, meu nome é
Gorete.
E o meu é Sandra, retruquei. Onde estão suas amigas?, olhei
para mesa onde ela estava momentos antes e reparei que se encontrava vazia.
Ah, foi sobre isso que falei a você, querem testar os homens
da cidade, falei que não valia a pena, mas mesmo assim elas não me deram muita
bola.
Elas não residem aqui?
Não, em Estância, fica a trinta quilômetros do litoral. Sempre
vêm à cidade nos dias de folga, adoram este centro e dizem que aqui é mais
fácil de paquerar.
Paquerar?, repeti e sorri.
Gorete começou a contar sobre uma de suas amigas, que
namorara um rapaz na cidade. Saía com ele todas as noites, mas dizia estar
cansada de fazer as mesmas coisas. O rapaz, para não perder a namorada, começou
a criar fantasias, assim ela se distrairia e não ficaria reclamando. Passaram a
representar papais diferentes, como não se conhecessem e se encontrassem de
repente ao acaso, viviam várias situações, até mesmo algumas em que a mulher
simulava estar em apuros.
Como, em apuros?, quis que ela me explicasse melhor.
Acho que faziam de conta que ela precisava de ajuda, como se
estivesse afogando na praia, ou perdida na estrada. Numa dessas brincadeiras
ela me falou que ficou esperando por ele totalmente nua, sorriu ao pronunciar a
última palavra, e levou aos lábios o coquetel.
Ao vê-la tomar um gole, lembrei-me de dizer que a atmosfera
da cidade me causava certo frisson.
Frisson?
Gorete achou a palavra interessante.
Então, falta frisson aos homens dessa cidade, acrescentou.
Mas sua amiga arranjou um homem que provoca arrepios, não?, acrescentei.
Ele é uma exceção. Já até tentei sair com ele, mas o
homem não quis.
Jura?
Juro, meneou a cabeça positivamente. A cidade é muito
pequena, ele falou, logo alguém vai nos ver juntos. E o que tem isso de mais?,
perguntei a ele. Gosto muito da Anita, encerrou ele a conversa.
Não tenho atualmente necessidade de homens, não hesitei em
falar. Eles, na maioria das vezes, aborrecem muito.
Você tem razão, mas a gente nunca segue o pensamento lógico,
é a tal da paixão a nos complicar, ou o corpo a respirar, franziu a testa e
sorriu. Sua expressão revelou mais charme do que eu antes pudera perceber.
Uma mulher chamou por Gorete, estava à beira da rua, fez
sinal para que ela viesse até a borda do bar. Gorete atendeu ao chamado. A
mulher cochichou algo no seu ouvido. Gorete sorriu, devolveu algumas palavras,
deu um breve adeus e voltou à mesa.
Uma maluquete amiga minha, e deu uma sonora gargalhada.
Suas amigas são interessantes, atalhei.
Nem sempre, às vezes são engraçadas.
O que há de cômico nessa?
Acho que você não vai gostar de saber.
Por quê?
Porque você parece uma pessoa recatada, ela falou.
Como você sabe?
Veja, você ficou na praia a tarde inteira e não namorou
ninguém, usa um biquíni até certo ponto conservador, não veio para este bar com
a intenção de azarar, gostar de sentir a atmosfera de frisson que emana da
cidade...
E o que há isso com o fato de sua amiga ser cômica.
É outra que vive a mil com o namorado, veio dizer que vai
com ele a uma boate.
Que legal, não sabia de boates por aqui.
O problema não é esse, acrescentou, você reparou, ela já
está quase nua e disse que só volta de manhã. Outro dia veio com a história de
que o namorado gosta de lhe roubar a calcinha, toda vez que sai com ele volta
sem. Hoje veio me dizer que ele não vai poder roubá-la, adivinhe por quê?
Ela veio sem.
Isso mesmo, você é inteligente. Ao terminar de falar, Gorete
sorriu e me convidou para uma surpresa.
Se é uma festa não quero, afirmei, não gosto de multidão.
Nada de festa, vai ser uma experiência nova para você,
garanto, e é um segredo nessa região. Vamos comigo, trata-se de algo ligado à
natureza.
Você me espera beber mais uma taça de vinho?, impus como
condição.
Ok, ela atendeu.
Enquanto esperei pela nova taça, acrescentei:
Na minha cidade já tive um namorado como este de sua amiga.
Ele gostava de me levar nua dentro do carro, acredita?
Sério? Na cidade grande também acontece isso?
Os homens são os mesmos em qualquer lugar. Ele vestia terno,
todo bem arrumado, ia me pegar quando eu saída de uma academia de ginástica. Eu
vinha com aquela malha grudada ao corpo. Ele pedia que eu a tirasse dentro do carro,
guardava toda a minha roupa dentro de uma valise e me levava nua ao seu lado.
Era uma coisa de arrepiar.
E você acabou gostando?
Não é que acabei gostando, era o susto, sei lá, às vezes até
era bom, mas o namoro não deu certo, não era isso que eu queria.
O garçom chegou coma a nova taça de vinho, e a amiga de
Gorete surgiu novamente na borda do bar e a chamou. Gorete pediu licença.
Enquanto tomava o vinho, ela deixou a amiga durante alguns instantes e foi ao
toalete. Depois voltou, aproximou-se dela e lhe disse alguma coisa, os braços
de ambas se cruzaram. Tomei mais um gole do vinho e Gorete voltou à mesa. Sua
amiga desaparecera.
Deixamos o bar e a rua plena de gente. Caminhamos duas
quadras e entramos no carro de Gorete. Ela guiou durante uns trinta minutos,
afastando-se sempre da zona urbana. Antes da rodovia estadual, entrou num
atalho, dirigiu durante mais dois quilômetros e parou o carro. Descemos. Havia
várias árvores e estava escuro.
Não tenha medo, ela disse, venha comigo.
Ela andava como se já frequentasse o local havia tempo,
caminhava rápida entre as árvores, vencia obstáculos e segurava minhas mãos
quando me reparava temerosa. Chegamos, enfim, a um lago.
A água é quente, você vai gostar.
Caminhou até a beira, tirou a sandália e molhou os pés.
Venha ver, é muito gostosa, em cada lugar a temperatura é
outra.
Não queria me molhar, falei.
Não se incomode, você nunca sentiu um prazer tão grande,
falou e, radiante, deu-me as costas e tirou o vestido. Gorete estava sem calcinha.
Venha, não tema.
Não queria desagradá-la, mas confesso que comecei a ficar
preocupada, pois a conhecera fazia pouco tempo, não sabia de quem se tratava e
a mulher me convidava para ficar nua à meia-noite.
Não tema, venha.
Comecei a me despir, mas fiquei preocupada onde deixaria
minhas roupas.
Não se preocupe, acrescentou adivinhando meus pensamentos,
ninguém vem aqui.
Entramos então na água. Ela segurou uma das minhas mãos.
Gorete tinha razão. Em cada lugar que parávamos havia um
tipo de temperatura.
Este lago mexe com a gente, ela fechou os olhos e demonstrou
que sentia um tipo diferente de prazer. A gente até goza, nem precisa de
concentração.
Apesar dos meus temores, tentei imitá-la na busca pelo
prazer. E qual foi minha surpresa ao me ver arrepiada, começava a sentir um
gozo como jamais sentira. Fui ficando cada vez mais excitada, meu coração
chegou a se agitar.
Ainda bem que não sofro do coração, deixei escapar.
Ela sorriu. Ninguém morre de prazer, sentenciou. Ficamos as
duas numa espécie de gozo que se prolongava, que se repetia, que nos
arrebatava. Ele chegou a dizer:
Sinta apenas, não precisa olhar, chega-se a sentir um pênis a nos penetrar.
Não mais queríamos deixar o lago.
Parece um feitiço, cheguei a dizer, mas um feitiço positivo.
Um feitiço, uma magia, a magia do prazer, e ela gritou como
se gozasse intensamente, um orgasmo profundo, quase definitivo. Não me contive,
imitei-a no grito, um ardor prolongado.
Exaustas e ainda nuas deixamo-nos cair um pouco acima de uma
das vertentes, ficamos de mãos dadas, tocando-nos com a lateral do nossos
corpos.
Aqui ficam todas as angústias, falou depois de um longo
tempo.
E não precisamos dos homens, acrescentei, o que é muito
importante.
Quando começamos a voltar ao carro foi que nos preocupamos
em descobrir onde tínhamos deixado nossas roupas.
Cheguei à casa onde estava hospeda ao amanhecer. Naquele dia
dormi até às duas da tarde.
Depois do almoço, fui à praia. Deitada sob o sol e olhando
uma paisagem surpreendente, comecei a pensar sobre o prazer que sentira na
noite anterior. Não passou muito tempo para que se aproximasse e se agachasse
junto a mim o homem do dia anterior. Perguntou se eu precisava de alguma coisa.
Respondi que o mais interessante naquele lugar era a tranquilidade. Minha
resposta tinha a intenção de afastá-lo. Mas não foi assim que ele entendeu;.
Este local é realmente um paraíso. Tenho um amigo que
pertence a uma igreja que quer construir o paraíso na terra, disse a ele para
vir aqui, o paraíso já existe, terminou sua sentença com um enorme sorriso.
Depois me perguntou se eu mergulharia, pois, continuou, não era bom arriscar-se
a uma insolação.
Ri de sua última palavra, e ele entendeu o meu gesto como
sinal de simpatia. Caso eu entrasse no mar, estava pronto a me acompanhar,
embora afirmasse que a praia, apesar de mar aberto, tinha as águas calmas. Permaneceu ainda ao meu lado por um tempo que me pareceu enorme. Não tinha mais
o que falar. Eu também me mantive silenciosa.
Quando o sol atingiu aquele ponto limite sobre meu corpo, o
estágio que aponta tênue divisa entre moderação e excesso, levantei-me, sorri
ainda uma vez ao homem e caminhei para a beira d’água. O contraste entre a
temperatura do meu corpo e a da água do mar provocou-me certo prazer.
Mergulhei. Depois de dois ou três segundos voltei à tona. A água escorria pelos
meus cabelos e borrifei através dos lábios um pouco da água salgada que sempre
ouso experimentar enquanto mergulho. O sal sempre estimulou todos os meu
sentidos. Dei as costas para a praia, pretendia admirar o horizonte. Mas o que
descobri em primeiro plano foi o homem que me espionava na areia. Viera atrás
de mim, também mergulhara e nadara, submerso, mais longe. Sorria, pouco a pouco
aproximou-se. Notou que não me agradava, mergulhou de novo, deixando-me
sozinha. Naquela tarde não mais o vi. Então, pude praticar algo que sempre me
deu prazer, desde menina, sei que é uma bobagem, mas para mim tem significado.
Tirei a parte de baixo do biquíni e o prendi no tornozelo, como se faz com uma
pulseira em volta de um dos braços. Nadei apenas de top, de um lado a outro,
sentindo o prazer da água fria entre minhas pernas. Pensei no homem que me
espionara. Será que estaria por perto. Acho que gostaria de me encontrar nua,
de poder tocar a minha pele, de me namoricar um instantinho que fosse. Achei
até que poderia estar escondido, quem sabe submerso, e conseguisse descobrir
minha nudez. Mas isto não aconteceu. Às cinco da tarde, voltei à pousada.
À noite, depois das nove e meia, encontrei Gorete de novo.
Ficamos durante algum tempo no mesmo bar da noite anterior. Ela pediu sua
bebida rubra, enquanto eu optei pelo mesmo vinho. Aqui, os donos de bar tem bom
gosto, as bebidas são esmeradas, elogiei.
Gorete sorriu. Sua amiga, a mesma que a chamou da borda do
bar na noite anterior, aproximou-se. Beijou-lhe ambas as faces. Gorete apontou
para mim, a moça sorriu e acenou. Ao voltar, segurou seu copo, tomou um gole e
falou:
Ela achou seu vestido lindo, disse que adora vestidos que
vão até os pés.
Achei que ela preferisse sempre os de pouco comprimento.
Nada disso, o negócio dela é mais embaixo.
Ambas rimos.
Passava de uma hora quando saímos juntas do bar. Vamos andar
de carro, sugeriu minha amiga. Ela se pôs ao volante, ligou o carro e deu a
partida. Costeamos a praia, e entramos por uma pequena estrada que subia um
morro. Na parte mais alta era possível ver o outro lado da enseada.
Bonito daqui, falei.
É muito bonito.
Será que o prazer vai ser o mesmo de ontem?, eu comecei a
sentir o frisson que a noite emanava.
Acho que maior, ela sorriu depois da resposta.
Gorete dirigiu descendo a vertente oposta da montanha. Não
havia ninguém, apenas nós deslizávamos estrada a baixo. Ao chegarmos à praia,
ela desligou o motor, abriu a porta e saímos direto para a areia da praia.
A água aqui é quente, como a do lago, embora o mar seja aberto.
Tirei as sandálias, segurei-as com uma das mãos e caminhei
até a beira. Verdade, a água estava quente.
Gorete aproximou-se e segurou-me pela cintura, levantou o
meu vestido.
Não precisa fazer isso, eu mesma tiro.
Fiquei nua. Gorete abraçou-me. Ao apertar-me num abraço
estreito, senti algo rijo onde deveria ser o sexo de uma mulher. Ela também
tirou a roupa. Gorete tinha um pênis. Como eu não notara da vez em que
estivéramos no lago? Ah, o prazer foi tanto..., pensei
Não se assuste, só se você quiser, falou, sem conseguir
escondê-lo, sem conseguir evitar que crescesse ainda mais.
Olhei um tanto estupefata, mas me recuperei a tempo. Pensei
muito, num curto espaço de tempo.
Já sei, dei uma sonora gargalhada, é você que rouba as
calcinhas das moças da cidade.
Só as calcinhas? Já levei comigo tantos vestidos, elas
adoram andar nuas, e adoram trepar comigo.
Sou como elas, eu enfim cedia, por aqui ninguém me conhece, faça a
seu bel prazer, aja como se eu fosse uma delas. Corri e mergulhei no mar
noturno. Gorete seguiu-me.