quarta-feira, maio 24, 2017

Maiô

A praia tinha poucas pessoas, mas eu gostaria que tivesse apenas eu. Ele me oferecera o passeio, o final de semana no meu lugar favorito. Minhas amigas sempre frequentaram praias chiques, hotéis ou pousadas de luxo sobre os quais depois falavam durante o ano inteiro. Minha vida até ali fora modesta, trabalho, nada de viagens, até que surgiu o namorado. Ele me surpreendia. Confesso que também não sou de namorados, mas decidi me dar este presente.

Você vai pagar pra mim?, perguntei.

Lógico, estou convidando.

Contei os dias doidinha que chegasse o final de semana da viagem. Não falei pra ninguém. Por aí há muita inveja, as coisas podem dar pra trás. Na véspera ainda pensei, será que ele vai dar uma desculpa, dizer que houve um problema, preciso ir trabalhar, houve um chamado urgente. Tudo se desmancharia, como num conto de fadas. Mas não foi o que aconteceu. Ele chegou eufórico, mais do que eu, ria e me beijava. Uma bolsa com um presente em uma das mãos.

É para você vestir na nossa viagem.

Descolei a fita adesiva e abri a bolsa. Um biquíni. Tudo o que eu não imaginava e não queria. Será que digo a ele que não quero mais ir, que me aconteceu um problema sério, a doença de uma parenta distante, preciso ir visitá-la, se morrer morro também culpada. Mas ele estava tão feliz, eu não teria coragem. O que tem de mais um biquíni?, perguntei a mim mesma. Ah, tenho trauma de biquínis, uso maiô, e faz tempo que não vou a uma praia. Conto um dia desses por quê, ou quem sabe, no final vocês descobrem o motivo.

Você vai ficar moreninha com este biquíni, a maior parte da pele descoberta, ele disse radiante como um sol imenso. Não sei mais que adjetivo acrescentar.

Pedi licença e corri ao banheiro. Confesso que a perspectiva do biquíni me provocou cólicas. Fiquei sentada no vaso sanitário uns quinze minutos.

Tudo bem com você?, ele quis saber.

Eu não diria a ele que não usava biquínis, que usava apenas maiô. Levaria o biquíni e o maiô, lá decidiria, lógico que decidiria pelo maiô. E ele nada poderia dizer. Uma boa solução. Beth, você é ótima, sempre vota em seu favor! Caso eu conte pra alguém minha aversão aos biquínis as pessoas rirão, antiquada serei, que motivo bobo, você vai acabar perdendo um homem desses, e homem está tão difícil...

Estava lá a praia, o dia combinado, a manhã fresca, já ensolarada, provocando arrepios. Será que alguém vai me ver de biquíni? Deus me livre, vamos mais adiante, por favor. Lógico que não disse a ele que o motivo era o biquíni. O maiô? Não tive coragem de desapontá-lo.

O melhor trecho da praia, ui, será que vou gozar assim, sem que ele me toque?, os arrepios aumentando, sensação de prazer cada vez maior.

Aqui não há ninguém, digo.

Então, descubro um jeito de me livrar do biquíni e depois poder usar o maiô. O restante do fim de semana de maiô, um maiô lindo, tão colorido, tanto pano.

Posso contar um segredo?, sussurro a ele e lhe dou um beijo úmido.

Claro, olha nos meus olhos.

Quero tomar banho de mar nua! Não gosto de biquínis, quero dizer, biquínis me dão vontade de ficar nua, e como não há ninguém, aponto o mar imenso diante de nossos corpos.

Nua? É tudo que quero, ele diz, exultante. Deixa que eu tiro o teu biquíni.

Maior delicadeza, ele a me despir. Depois? Ah, deixa pra lá, vocês são bons em imaginação...

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