Já faz tempo que sou guia turística, levo pessoas aos mais
diversos lugares, dentro do país ou fora dele. Sempre conduzo nossos clientes
de forma amorosa e exemplar. Muitos continuam viajando com nossa
empresa por causa do tratamento especial que dou a todos. Na última excursão,
fomos a Santiago do Chile. No grupo havia trinta e quatro pessoas. Chegamos a Santiago num domingo à noite para uma estada de cinco dias. No
aeroporto, um ônibus aguardava para nos levar ao hotel, que
ficava em Las Condes. Apesar de ser tarde da noite, todos pareciam muito felizes. Adoraram também o hotel, requintado e confortável. Na primeira
noite, após a viagem de quatro horas mais a demora nos trâmites do aeroporto,
só nos restava o descanso.
Não pretendo mencionar aqui todos os lugares por onde
andamos. Apenas digo que a cidade de Santiago, com sua mescla de prédios
antigos e modernos, com a amplidão de suas ruas e avenidas, é adorável. Quem
gosta de vida boêmia também não pode reclamar. Há bairros com bares e feiras
populares, que funcionam até a madrugada, principalmente no verão. A cidade, ao
mesmo tempo, oferece um clima de cultura intensa, pois é possível visitar
livrarias, museus e assistir a alguma peça de teatro. As cidades de Valparaíso
e Viña del Mar, as vistas que proporcionam e a presença do mar, contribuem para
completar o espírito de férias e descanso que uma viagem a este país
proporciona.
Depois de três dias na cidade, de alguns passeios e de descanso
no hotel, jantamos num restaurante do bairro de Las Condes. Todos apreciaram muito a culinária local e experimentaram
vinhos e cervejas. Eu, como guia, bebo pouco. Naquele dia, porém, incentivada por várias pessoas do grupo, exagerei com uns goles a mais. Falamos
um tanto mais alto devido à animação, e contamos muitas piadas. Um dos jovens
leu alguns parágrafos de um livro, uma comédia muito interessante. O que
aconteceu de especial vem a seguir.
No grupo, havia um homem de meia idade que viajava sozinho.
Disse-me que nunca gostou de excursões e que aquela era a sua primeira. Ingressara
no grupo devido à indicação de uma amiga sobre o meu profissionalismo em
conduzir turistas ao exterior. Conversamos durante vários intervalos no
decorrer da viagem e dos passeios. Nesse terceiro dia, ou noite, porque se
tratava de um jantar, ele ficou a me observar com mais entusiasmo do que de costume.
Após toda aquela alegria, voltamos ao hotel. Algumas
pessoas, sobretudo os mais jovens, pediram que aproveitássemos o bar do hotel,
que ainda estava aberto àquela hora, e que bebêssemos ainda um vinho ou mesmo
cerveja, assim poderíamos continuar as conversas interrompidas com o final do
jantar. Então, eu soube dos namoros que aconteciam entre aqueles que compunham
o grupo. Havia jovens, homens e mulheres, que trocaram de apartamentos para que
se formassem casais e que pudessem namorar livremente durante a noite.
Falaram de algumas peripécias, sempre sobre outros, nunca sobre si. Mas mesmo assim foi muito engraçado. Disseram que a jovem
Elisa, de cabelos compridos e cara de freira, entregou-se aos abraços de um
homem mais velho. Ela se despiu com as próprias mãos, agarrou-o durante boa
parte da noite e depois saiu envolvida num roupão, porque em meios à
confusão que os dois estabeleceram no apartamento não lhe foi possível
encontrar o vestido. Houve outras histórias tão hilariantes quanto.
Depois de sairmos do restaurante e subirmos aos
apartamentos, ouvi três batidas suaves à minha porta. Era o homem que nunca
viajara em grupo. Ele desejava me oferecer uma sobremesa, que trouxera do restaurante.
Guardara-a com cuidado, para mim. Convidei que entrasse e aceitei o doce. Este
homem tinha um talento especial, sabia fazer imitações com perfeição e começou
a falar e fazer gestos como quase todos os integrantes do grupo falavam e agiam.
Não aguentei de tanto rir. Ri tanto que tive de correr para o banheiro. Lá
dentro, ainda continuei às gargalhadas. Quando saí, ele se pôs a me arremedar. Representou
como se fosse eu a conduzir o grupo, imitou minhas falas nos passeios e, o mais
engraçado, depois de eu ter bebido duas ou três taças de vinho. Ri tanto que
acabei com sede. Bebi um copo de água mineral. Reparei, então, que sobre a pequena mesa, no interior do apartamento,
havia duas garrafas de vinho. Abri uma e ofereci a ele. Continuamos a conversa,
naquele momento de forma mais amena, já livre de tanto riso. Não sei quantos
minutos se passaram, comecei a sentir um calor intenso. Lembrei que quando bebo
demais passo a ter um instinto incontrolável para o sexo, e como aquele homem
estava ali...
Mas não pensem que transei com ele. O homem bem que notou
todo o meu fogo. Mas me dominei a tempo e disse que estava cansada, prometi que
quando voltássemos ao Brasil poderíamos nos encontrar e conversar com maior
liberdade. Ele quis contra-argumentar, mas aleguei que já estava tarde, no dia
seguinte faríamos o último passeio, "precisamos acordar cedo", despedi-o. Ele se foi,
muito polidamente, apesar de eu perceber em seu rosto um traço de
contrariedade. Assim que saiu fiquei eu com o meu fogo, e sem saber como
abrandá-lo. Tirei toda a roupa e vesti um roupão
oferecido pelo hotel, apenas aquele tecido atoalhado sobre o corpo. A partir
daí, fiz minha investida, que posso chamar de temerária.
Saí do quarto e caminhei pelo corredor até os elevadores.
Quando o sinal de um deles soou, apareceu um homem jovial, que me perguntou:
"De onde onde és?”
“Brasil”, respondi. “Usted?”, abri-me num sorriso largo.
“Colômbia”, parou e esperou que eu tomasse a inciativa.
Foi aí que falei:
“Puedes esclarecer a mi donde fica Colômbia?”
Lépido, apontou a porta do seu apartamento.
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