quarta-feira, maio 17, 2017

Misturei-me aos mais jovens

Outro dia saí a passeio pela Zona Sul. Como adoro escrever, criar personagens e colocá-los em ação, experimentei eu mesma representar. Misturei-me aos mais jovens, meu objetivo era descobrir se os atraio, se os faço me desejarem. Fui ao um café. Escolhi uma mesa de onde podia observar quem passava na calçada, quem entrava e saía e aqueles que, como eu, tomavam café a uma das mesas. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que vários jovens me observavam. Sorri em agradecimento, e não passou muito tempo para que um rapaz de seus vinte e poucos anos viesse falar comigo. Disse que tinha uma festa para aquela mesma noite e perguntou se eu não queria acompanhá-lo. Perguntei a que tipo de festa me convidava. Um aniversário, uma amiga faz vinte e oito anos. Você não tem uma namorada?, mostrei-me curiosa. Ele apenas sorriu e quis saber se eu aceitava o convite, complementou dizendo que se tratava de uma festa até certo ponto modesta e que o local era o salão de um condomínio, no Leblon. Aceitei o convite. Mas nem mesmo sei o seu nome, conclamei-o a se apresentar. Henrique, respondeu econômico. Célia, muito prazer, retribuí. Como fazemos, então?, perguntei. Ele me apanharia nas proximidades ou, caso eu desejasse, poderia esperar por ele em minha casa. Marcamos.

Ele veio às nove da noite. Pegamos um táxi, ele disse o local ao motorista. Você vai adorar, afirmou, na festa vai haver muitos jovens e pelo que estou notando você gosta de jovens, não é assim?,  olhou pra mim, um sorriso alegre.

Percorremos as ruas Prudente de Moraes, General São Martins e chegamos à Visconde de Albuquerque, no final do Leblon. O motorista nos deixou à porta de um prédio de seis andares, de cor clara e com varandas. O salão de festas ficava acima do sétimo andar, uma espécie de cobertura com vista panorâmica privilegiada.

Já havia algumas pessoas, que logo vieram falar com ele, pediram que ele me apresentasse a elas. Representamos um casal que já se conhecia fazia tempo, mas não dissemos qual o nosso tipo de relacionamento. Aliás, nada combinamos, as coisas foram acontecendo naturalmente. Pouco a pouco foram chegando os demais convidados e o salão tornou-se mais barulhento e também mais alegre. O número de pessoas foi suficiente para que pudéssemos gozar a festa com conforto. Dois ou três garçons serviam canapés e bebidas. Pude observar pessoas de vários tipos. Havia mulheres muito magras, eram modelos profissionais que estavam ali porque a aniversariante trabalhava com moda; vi pessoas fora do universo da moda como jornalistas, relações públicas e algumas empresárias, apesar da pouca idade. Todas muito educadas e se comportando com extremo requinte. Muitas jovens puxaram conversa comigo e queriam saber em que eu trabalhava. Não quis dizer que sou escritora e que vendo artigos para revistas estrangeiras, disse que precisava viajar com frequência a São Paulo, porque administrava negócios de família. Arregalaram os olhos, acho que pensaram que sou rica. Quem sabe. As meninas vestiam-se muito bem, nada de pouca roupa. Mesmo as que usavam vestidos curtos cobriam-se com algum complemento, como um leve casaquinho ou mesmo uma echarpe. Reparei que havia mulheres acompanhadas, mas a grande maioria estava só, nada de marido ou namorado. Meu companheiro portou-se como seu eu fosse também sua amiga, não ousou em nenhum momento aproximar-se de modo mais íntimo. As bebidas, gradativamente, tornaram as pessoas mais alegres e mais falantes, pois os coquetéis eram suaves mas continham vodca ou outra bebida semelhante, tudo com muita fruta e muito bom gosto. Uma das moças começou a falar sobre uma viagem à Europa, principalmente à França, viagem que começaria dali a alguns dias. Quem a ouvia começou a se interessar e dizer como seria interessante a viagem. Outras moças enriqueceram a conversa com alguma passagem de viagens que fizeram recentemente a alguns países. Percebi, então, que quase todos os convidados tinham algumas posses, e que as conversas não deixavam de lado os prazeres que esses bens podem proporcionar. Também pudera, uma festa no alto Leblon... Mas ninguém falou de literatura, ninguém comentou que lia um bom livro ou que conhecia algum poeta interessante. Não seria eu que faria tais observações. Em algum momento, uma das modelos – ela fumava e portava um copo de vodca com gelo – começou a contar uma experiência em Paris. Morara na cidade durante seis meses e tivera um namorado francês. Aprendera o idioma com ele. Alguém pediu para que ela falasse francês, e ela continuou a contar a história no idioma do namorado. Uns entendiam, enquanto outros demonstraram se desinteressar pelo assunto e foram saindo discretamente em direção a outras rodas. Ficando eu e mais duas de suas amigas ela continuou a narrativa, tocada pelo álcool de duas ou três doses de vodca. Disse que em Paris é que era bom, talvez o Rio seja um pouco Paris (introduzo suas palavras), só que o Rio é um pouco mais violento, é claro, mas em Paris ninguém se mete na vida alheia, eu gostava de namorar no táxi, enquanto rodávamos a capital, pedíamos ao motorista que nos levasse a determinado ponto da cidade, sempre bastante longe de onde estávamos, durante o percurso como era bom namorar e ter a cidade passando pela janela do automóvel, acho que jamais vou viver experiência igual, quero dizer, quando lá voltar creio que sim, e namorávamos e namorávamos, e nosso ardor não se resumia a beijos, certa vez após saltarmos no 18º arrondissement só então percebi que minha saia havia ficado no táxi! Todas caímos numa longa gargalhada. Ela também riu muito e acabou por aceitar outra taça da bebida. Ficamos na festa até as duas da madrugada, quando as pessoas começaram a ir embora. Todas me beijaram e pediram que eu sempre estivesse naquele tipo de festa, que o Henrique ia a todas e que eu, de antemão, já estava convidada.

Pegamos um táxi de volta, e quando paramos à porta de casa convidei Henrique para subir. Ele aceitou de bom grado. Você é uma pessoa muito legal, que bom ter conhecido você naquele café às três da tarde, que bom você também gostar de gente jovem, sabe, continuou, acho que conheço você de algum lugar, parece também que te conheço de muito tempo. Quem sabe, repliquei, você gosta de mulher nua? Ele não entendeu a brincadeira. Certa vez uma amiga minha disse a alguém, acrescentei, você já viu a Célia na praia, o biquíni dela parece de uma menina de 16 anos. Rimos muito, mais uma vez.

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