Outro dia saí a passeio pela Zona Sul. Como adoro escrever,
criar personagens e colocá-los em ação, experimentei eu mesma representar.
Misturei-me aos mais jovens, meu objetivo era descobrir se os atraio, se os
faço me desejarem. Fui ao um café. Escolhi uma mesa de onde podia observar quem passava na calçada, quem entrava e saía e aqueles que, como eu,
tomavam café a uma das mesas. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que
vários jovens me observavam. Sorri em agradecimento, e não passou muito tempo
para que um rapaz de seus vinte e poucos anos viesse falar comigo. Disse que
tinha uma festa para aquela mesma noite e perguntou se eu não queria acompanhá-lo.
Perguntei a que tipo de festa me convidava. Um aniversário, uma
amiga faz vinte e oito anos. Você não tem uma namorada?, mostrei-me
curiosa. Ele apenas sorriu e quis saber se eu aceitava o convite, complementou
dizendo que se tratava de uma festa até certo ponto modesta e que o local era o
salão de um condomínio, no Leblon. Aceitei o convite. Mas nem mesmo
sei o seu nome, conclamei-o a se apresentar. Henrique, respondeu econômico.
Célia, muito prazer, retribuí. Como fazemos, então?, perguntei. Ele me apanharia nas proximidades ou, caso eu desejasse, poderia esperar por
ele em minha casa. Marcamos.
Ele veio às nove da noite. Pegamos um táxi, ele disse o
local ao motorista. Você vai adorar, afirmou, na festa vai haver muitos jovens
e pelo que estou notando você gosta de jovens, não é assim?, olhou pra mim, um sorriso alegre.
Percorremos as ruas Prudente de Moraes, General São Martins
e chegamos à Visconde de Albuquerque, no final do Leblon. O motorista nos
deixou à porta de um prédio de seis andares, de cor clara e com varandas. O
salão de festas ficava acima do sétimo andar, uma espécie de cobertura com
vista panorâmica privilegiada.
Já havia algumas pessoas, que logo vieram falar com ele, pediram que ele me apresentasse a elas. Representamos um casal que já se conhecia
fazia tempo, mas não dissemos qual o nosso tipo de relacionamento. Aliás, nada
combinamos, as coisas foram acontecendo naturalmente. Pouco a pouco foram
chegando os demais convidados e o salão tornou-se mais barulhento e também mais
alegre. O número de pessoas foi suficiente para que pudéssemos gozar a
festa com conforto. Dois ou três garçons serviam canapés e bebidas. Pude
observar pessoas de vários tipos. Havia mulheres muito magras, eram modelos
profissionais que estavam ali porque a aniversariante trabalhava com moda; vi pessoas
fora do universo da moda como jornalistas, relações públicas e algumas
empresárias, apesar da pouca idade. Todas muito educadas e se comportando com
extremo requinte. Muitas jovens puxaram conversa comigo e queriam saber em que
eu trabalhava. Não quis dizer que sou escritora e que vendo artigos para
revistas estrangeiras, disse que precisava viajar com frequência a São Paulo,
porque administrava negócios de família. Arregalaram os olhos, acho que
pensaram que sou rica. Quem sabe. As meninas vestiam-se muito bem, nada de
pouca roupa. Mesmo as que usavam vestidos curtos cobriam-se com algum
complemento, como um leve casaquinho ou mesmo uma echarpe. Reparei que havia
mulheres acompanhadas, mas a grande maioria estava só, nada de marido ou
namorado. Meu companheiro portou-se como seu eu fosse também sua amiga, não
ousou em nenhum momento aproximar-se de modo mais íntimo. As bebidas,
gradativamente, tornaram as pessoas mais alegres e mais falantes, pois os
coquetéis eram suaves mas continham vodca ou outra bebida semelhante, tudo com
muita fruta e muito bom gosto. Uma das moças começou a falar sobre uma viagem à
Europa, principalmente à França, viagem que começaria dali a alguns dias. Quem
a ouvia começou a se interessar e dizer como seria interessante a viagem. Outras
moças enriqueceram a conversa com alguma passagem de viagens que fizeram
recentemente a alguns países. Percebi, então, que quase todos os convidados tinham
algumas posses, e que as conversas não deixavam de lado os prazeres que esses
bens podem proporcionar. Também pudera, uma festa no alto Leblon... Mas ninguém
falou de literatura, ninguém comentou que lia um bom livro ou que conhecia
algum poeta interessante. Não seria eu que faria tais observações. Em algum
momento, uma das modelos – ela fumava e portava um copo de vodca com gelo –
começou a contar uma experiência em Paris. Morara na cidade durante seis meses
e tivera um namorado francês. Aprendera o idioma com ele. Alguém pediu para que
ela falasse francês, e ela continuou a contar a história no idioma do namorado. Uns entendiam, enquanto outros demonstraram se desinteressar pelo
assunto e foram saindo discretamente em direção a outras rodas. Ficando eu e
mais duas de suas amigas ela continuou a narrativa, tocada pelo álcool de duas
ou três doses de vodca. Disse que em Paris é que era bom, talvez o Rio
seja um pouco Paris (introduzo suas palavras), só que o Rio é um pouco mais
violento, é claro, mas em Paris ninguém se mete na vida alheia, eu gostava de
namorar no táxi, enquanto rodávamos a capital, pedíamos ao motorista que nos
levasse a determinado ponto da cidade, sempre bastante longe de onde estávamos,
durante o percurso como era bom namorar e ter a cidade passando pela janela do
automóvel, acho que jamais vou viver experiência igual, quero dizer, quando lá voltar creio que sim, e namorávamos e namorávamos, e nosso ardor não se
resumia a beijos, certa vez após saltarmos no 18º arrondissement só então percebi que minha saia havia ficado no
táxi! Todas caímos numa longa gargalhada. Ela também riu muito e acabou por
aceitar outra taça da bebida. Ficamos na festa até as duas da madrugada, quando
as pessoas começaram a ir embora. Todas me beijaram e pediram que eu sempre
estivesse naquele tipo de festa, que o Henrique ia a todas e que eu, de
antemão, já estava convidada.
Pegamos um táxi de volta, e quando paramos à porta de casa
convidei Henrique para subir. Ele aceitou de bom grado. Você é uma pessoa muito
legal, que bom ter conhecido você naquele café às três da tarde, que bom você
também gostar de gente jovem, sabe, continuou, acho que conheço você de algum
lugar, parece também que te conheço de muito tempo. Quem sabe, repliquei, você
gosta de mulher nua? Ele não entendeu a brincadeira. Certa vez uma amiga minha
disse a alguém, acrescentei, você já viu a Célia na praia, o biquíni dela
parece de uma menina de 16 anos. Rimos muito, mais uma vez.
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