Uma amiga veio conversar comigo.
– Lena, como você tem
sorte, não estou colocando olho grande, não, mas você sempre está com namorado. – Ela estava segurando um pacote, algo que tinha comprado numa loja
do centro, passa sempre pela minha casa, é seu caminho. Eu estava saindo, ela
aproveitou para me segurar um pouco.
– Posso te perguntar mais uma coisa, você não fica
aborrecida? – insistiu.
– Claro, pergunte.
Passou um carro, o motorista diminuiu a velocidade, buzinou
e me deu um adeusinho.
– Então – continuou, – você já namorou tanta gente aqui na
cidade, e permanece amiga dos homens, não tem nenhuma vergonha.
– O que você quer me perguntar mesmo? – alertei.
– É isso. Você não tem vergonha quando encontra os homens
com quem você já saiu, já namorou?
– Não. Por que teria vergonha?
– Não sei, mas eles já viram você nua, já transaram com
você.
– Eu também já os vi nus, já transei com eles!
Ela arregalou os olhos
– Mas para uma mulher, é diferente.
–Você acha? – demonstrei curiosidade.
– Acho, não consigo, juro, morro de vergonha quando encontro
um ex-namorado.
Ela falou mais algumas bagatelas e se foi. Carregava com
cuidado o pacote, acho que um presente.
No dia seguinte, encontrei ao acaso Edivaldo, no calçadão. Ele me
beijou e foi logo falando:
– Mulher mesmo é você, tenho saudades do tempo em que fomos
namorados.
– Verdade?, mas foi você que terminou. Tem tesão por garotas,
eu já sou velha pra você.
– É verdade, escute só essa história.
Começou a contar sobre sua nova namorada de vinte e um anos.
Ele tem cinquenta.
– A garota me pede tudo. Cem, duzentos, quinhentos
reais. Acho que já deixei uns três mil na mão dela. Um mês de namoro.
Dei uma grande gargalhada.
– Mulher jovem é assim mesmo, é preciso pagar.
– O problema não é tanto esse, é lógico que despesa demais
me atrapalha, o caso é que ainda não consegui trepar com ela – falava baixo,
olhou ao redor para ver se alguém nos escutava.
– Jura?
– Por que iria mentir? A gente sai, passeia, vai a todos os
locais, na hora de trepar, ela inventa uma desculpa.
– Vai ver é virgem.
– Sabe que já pensei nisso? – ele me olhou com certa
convicção. – Não se pergunta essas coisas a uma mulher, não é mesmo?
– Depende, caso se pague tanto, você tem direito de fazer
algumas perguntas. – Ri, ele também.
– Outro dia aconteceu uma coisa estranha. Falei com ela que
assim não era possível, ficar nessa história, como dois adolescentes. Começou
então a chorar. Ela anda sempre com roupas curtíssimas, até perguntou se eu não
me incomodo. Não, claro que não, respondi. Ela vestia uma minissaia e camiseta.
Chorou e chorou. Enfim, disse, você quer mesmo é me ver nua. A gente estava no
carro, voltávamos de Búzios, tínhamos passado o dia na cidade. Tirou então a
saia e ficou de calcinha, no banco do carona. Pare o carro, por favor, pediu.
Parei. Ela acabou de tirar a roupa, lançou todas as peças no banco de trás.
Fico nua pra você, pronto, dirija agora, me leve nua pra nossa cidade. Mas te
peço um favor, não quero transar hoje. Chegou-se pertinho de mim, pegou uma das
minhas mãos e colocou sobre sua perna, aproximou o rosto e me beijou na boca.
Vai dirige, pediu.
– Tenha um pouco de paciência, quem sabe ela esteja com
receio, de repente ainda não despertou para o sexo, você sabe, as mulheres
demoram.
– Ah, sim, isto é certo. Mas quando aprendem, há algumas que
dão pra todo mundo – disse olhando pra mim.
– Todo mundo?, ah, quem dera, há aqueles que me acham velha,
não consigo dar pra todo mundo.
– Não, desculpe, não foi isso que eu quis dizer.
– Não foi, mas disse. Vá procurar sua namorada, ensine a ela
alguma coisa boa, ela vai cair como uma manga madura nas tuas mãos.
– Você acha? – perguntou animado.
– Não sei, acabei de dizer isso, mas, na verdade, acho que
ela quer o teu dinheiro, vai aproveitar enquanto pode. Convide a mulher para uma
viagem, uma viagem de avião, um lugar bem longe. Quem sabe você assim consegue.
– Sabe – olhou e aproximou o rosto para se despedir, tentando me beijar, – foi bom conversar com você. Vou pensar nisso. E, olha, se precisar de mim pra alguma coisa, é só telefonar, como aquela vez. Lembra? Às três da madrugada, no Hotel Prata, fui buscar você, mas até hoje não me disse o que aconteceu.
– Ah, deixa isso pra lá, você adora essa conversa, obrigada
mais uma vez.
Ele partiu, feliz em dobro, com a namorada por sabê-la fresca e jovem; comigo, porque lhe dou tanta atenção.
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