Joana, nada de me apresentar esses teus amigos, o último com quem saí através de tua mediação foi um problema. Você não vai acreditar o que aconteceu. Ninguém normal faria o que ele fez. O cara roubou minha calcinha, acredita? O que faz um homem roubar a calcinha de uma mulher? Não é melhor convidar uma mulher pra ficar com ele o tempo todo nua? E na sua casa, alguém a lhe fazer carinho? Mas o cara roubou minha calcinha, e nem me convidou pra dormir na casa dele. Tive de chamar um táxi às duas da manhã e... sem calcinha. Por favor, não me apresente mais a ninguém. Você não sabia? Como pode me recomendar um cara pra me namorar se não o conhece? Ah, sei, foi através de uma amiga. Ele era amigo de uma amiga, que já tinha namorado uma outra. Acho que os elos estão longe demais. O homem poderia me ter causado problemas maiores. Ah, você nunca voltou pra casa sem calcinha, depois de um esfrega-esfrega bem quente? Eu, já, não foi a primeira vez, mas não gostei da brincadeira. Não recomende o homem pra outras amigas. O problema é delas se te perguntam se você conhece alguém que as convide para sair? Ainda houve a história da bolsa de butique. Nunca ouviu falar, ele não te contou? Aliás, acho que você nada sabe sobre o homem. A gente saiu, foi jantar em Santa Teresa, depois acabei aceitando ir até a casa dele, acho que foi esse o problema. A solução? Deixe de brincadeira, Joana, nada de solução, só porque te pedi um namorado você fala em solução? Acho melhor ficar sozinha a partir de agora. A história da bolsa aconteceu na casa dele. A gente estava fazendo um carinho gostoso; eu nele; ele em mim. De repente me vi nua, nos braços do homem. O cara começou a contar uma história, que ia colocar minhas roupas numa bolsa de butique, ia me levar pra passear nua. No começo, achei que era uma história pra gente se excitar, e dei corda, perguntei como era o carro, aonde íamos, onde eu sentaria, se me compraria um vestido novo. Mas depois a coisa começou a assumir um aspecto sério. O cara perguntou se eu tinha chegado nua em casa, alguma vez. Não acredita? Pura verdade. Fiquei no começo arrepiada, depois nem sei o que mais senti, meu vestido não mais estava sobre a poltrona onde eu o havia deixado. E o cara dizendo vou levar você pra passear nua, sentada no banco do carona, vamos deixar a bolsa com tuas roupas na porta de uma dessas casas de luxo que há no bairro Y. A gente dá umas voltas, eu paro na orla, a gente namora, namora, se agarra, se você tiver coragem salta do carro e desce até à beira d’água, depois a gente volta, e vai pegar de volta a bolsa. Será que ainda estará lá? Caso tenha desaparecido, dou um jeito os homens sempre dão um jeito. Enquanto contava a história, a gente estava na cama, eu ao lado dele, ele sobre mim, a gente namorando, só namorando mesmo. A história me aterrorizou, pedi por favor, quero ir embora, vou me vestir, estava com medo do homem. Ele tentou ser delicado, não precisa temer, são apenas histórias pra gente se divertir. Acabamos namorando mais, trepando. Mas, no final, onde minha calcinha? Ele não a encontrou, chegou a perguntar se eu a havia guardado. Só faltou perguntar se eu viera de calcinha. Mas teve a delicadeza de se calar sobre isso. Na hora do amor, gostei, gostei e gozei, mas depois... Você diz que foi bom, que o importante foi que o homem me acariciou e me levou às nuvens? Sim, me levou mesmo. Mas não gosto de voltar pra casa, nua. Porque pra mim voltar pra casa sem calcinha é voltar nua. E a calcinha me custou cento e vinte reais, era a melhor que eu tinha. Por isso, vou dar um basta, nada de sair com caras desse tipo. Você acha que valeu a pena, não?, que sou eu que não sei valorizar. Você já voltou pra casa sem calcinha, Joana? E sem uma calcinha de cento e vinte reais? Acho que não. Caso tivesse acontecido, não falaria assim.
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