Sou bonita, saibam, sou muito bonita. Já fui convidada várias vezes para ser modelo. Mas não é o meu desejo. Tenho outros ideais, acho que mais amplos. Há uma coisa, porém, que gostaria de contar. É um segredo. Nunca disse a ninguém. Hoje vou revelar. Alguns que já me conhecem vão surpreender-se: tenho uma tara. Isso mesmo, uma tara. Será que cada um não tem a sua? Todo ser humano tem um ponto fraco, e esse ponto pode ser sua tara. Vamos à minha.
Outro dia arranjei um namorado. Há quanto tempo não tinha um! Não por falta deles, mas porque estava ocupada com outros afazeres. Ele, o namorado, apaixonou-se imediatamente. Vive telefonando-me, quer encontrar-me todos os dias. Faço seu desejo. É bom, não é mesmo? Quantos não almejariam ter seus desejos realizados por uma mulher excepcionalmente bonita. Mas voltemos à minha tara. Um dia desses tentei fazer que ele a percebesse. Não sei se consegui. Nada falei. Saímos. Passeamos. Era um dia de primavera. Vesti uma calça justíssima e tênis. Para fazer o coração dele bater mais forte, coloquei um top bem pequeno, quase um sutiã. Nada por cima. Queria meu homem vidrado nos meus seios. Fomos ao Pontal. Tinha pouca gente lá, o dia não estava ensolarado; um sol tímido, quase branquinho, um ventinho que arrepiava.
“Tire umas fotos minhas”, passei-lhe a máquina.
Fiz a pose e começou a clicar. Sou mestra em fazer poses, cada uma mais linda do que a outra, imaginem. Aquele top, a calça colada ao corpo e o tênis branco me deixavam exuberante. Fez mais algumas fotos, a maioria com o mar atrás. Então resolvi ousar, quis surpreendê-lo, ou mesmo assustá-lo. Virei de costa, desatei o top e voltei-me a ele com os seios nus. Arregalou os olhos:
“Olhe, há outras pessoas!”.
“Não há problema, elas não vão ficar aborrecidas por causa disso.”
Pedi que fizesse outras fotos. Sentei-me nas pedras, levantei-me, fiquei de perfil. Para as últimas, arremessei o sutiã a ele:
“Guarde na bolsa, por favor.”
“Mas...", tentou retrucar; apenas tentou, não conseguiu.
“Vamos, não esmoreça, continue clicando!”.
Tirou mais uma dezena de fotos. Quando acabou, abracei-o.
“Não vai vestir-se?”
“Espere, não há pressa, está tão bom assim.”
Fiquei coladinha a ele, beijei-o na boca; depois, apoiei-me em seu ombro. Ainda andamos um pouco lado a lado, fomos até a extremidade do Pontal, onde se sentem na pele alguns respingos do mar. Num momento de mais arrepio, grudava-me de frente ao meu namorado. Foi um domingo tão bom, tão gostoso, enfim, ótimo; nada a reparar. Mais uma coisa: não voltei ao top. Apenas à tardinha, na hora de descer do carro, já à porta de casa, recuperei-o ao corpo.
Ah, minha tara...
quinta-feira, outubro 29, 2009
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