sábado, fevereiro 19, 2011

Chame ali a garota do biquíni

Houve um verão em que uns amigos alugaram uma casa na praia. Fui com eles. Quase não choveu naquele período, e eu andava dia e noite vestida com um biquíni estampado e uma camiseta curta. Era conhecida como a garota do biquíni. Muitos não sabiam meu nome, mas diziam, "chame ali a garota do biquíni". Eu acordava tarde, depois de meio dia, vestia o biquíni, procurava a camiseta e saía. Caso houvesse alguma festa à noite, alguma banda, ou mesmo uma musiquinha ao vivo, o que acontecia quase sempre, nem ia em casa. Bebia com os amigos e amigas, conversava e, vez ou outra, acendia um baseado. Foi uma época boa não só para toda a juventude, mas para os mais velhos também. Os coroas aprenderam com a gente a gostar do cheiro e do sabor de uma boa erva.

Certa vez, Alicinha, uma amiga eventual, veio me dizer que havia um homem apaixonado por mim, a moça do biquíni estampado, até o desconhecido assim me nomeava.

"Quem é ele?"

"Você vai adorar", falou, "é gentil, gosta das mesmas coisas que a gente."

O homem ainda vinha longe quando me apontou.

"Já sei quem é, nem me apresente", e corri dali, fui pra outra praia.

O homem, além de ser um caipira, não tinha um dente. A praia era frequentada por outros rapazes, gente queimada de sol, bonita, preferia esperar.

"Mas ele quer ficar com você, e quer que você fique só com ele. Pense bem, Jana, ele tem dinheiro", Alicinha me falou mais tarde.

Eu vivia beijando e abraçando a todos, não queria aquele homem, ele não era do meu agrado e, além disso, eu não precisava de dinheiro.

No dia seguinte, Alicinha veio de novo:

"Jana, você me faz um favor?"

"Se eu puder", respondi acendendo um cigarro e olhando o horizonte. O mar era um lago.

"Sabe o homem que está a fim de você?"

"Que homem? Não vejo homem algum", soltei a fumaça e olhei em volta.

"Não, não é isso, Jana, é aquele de quem te falei ontem."

"Ah, por favor, Alice, não me estrague o dia, mal começou..."

"Não quero estragar..."

"E então?"

"Estou querendo namorar com ele."

"E o que você está esperando?", sorri para ela, aliviada.

"Mas ele gosta mesmo é de você, fala pra todo mundo, falou até para o Cacá."

O Cacá era um primo meu distante.

Não dei motivo para que o assunto continuasse.

"Mas pensei em algo", falou me pedindo um trago do cigarro. "Ele nunca se aproximou de você, nós duas somos parecidas, que tal você me emprestar o biquíni e a camiseta, talvez assim eu consiga, me entende?"

"Lógico que empresto, como podemos fazer?" Queria me ver livre do assunto e do homem.

"Ele está bebendo no Sansiro, ali depois da enseada."

"Onde tiro a roupa?", perguntei apressada.

"Na barraca do Álvaro, você fica me esperando."

"Ficar esperando?"

"Isso."

Foi a única vez que tirei o biquíni. Ela se foi, fazendo de conta que era eu.

"O que você está fazendo aí nua?" Marta me encontrou.

"Emprestei o biquíni pra Alice, tem um cara a fim de mim e ela foi no meu lugar."

Marta caiu na gargalhada. "E você vai ficar nua a tarde inteira, dentro dessa barraca?"

"É, não sei, como devo fazer?"

Voltou com um biquíni vermelho, bem legal.

"Vista, pode ficar, agora você é outra pessoa..."

Vesti. E fui dar um mergulho. A partir daquele momento passei a ser a garota do biquíni vermelho.

Nenhum comentário: