domingo, fevereiro 06, 2011

E não é que o homem é tão gostosinho...

Tenho um amigo que adora me provocar. Sabe que escrevi alguns contos para o site da Margarida, então fica me pedindo que eu escreva mais, porque, ainda segundo ele, minhas histórias são muito excitantes. Quando soube que eu viria a Rio das Ostras nas férias, logo me escreveu: faça de novo aquela experiência de entrar na água do mar e ficar nua; na outra vez você deixou a parte inferior do biquíni nas mãos de seu namorado, agora enrole-a no pulso como se fosse uma pulseira, ou peça a um estranho para segurá-la.

Este meu amigo tem imaginação, até mesmo mais do que eu, veja só o que ele quer, eu pelada e meu biquíni nas mãos de um estranho! Será que faço sua vontade?

Entrei no mar. Ainda é cedinho, poucas as pessoas. Adoro acordar cedo, sinto intensa paixão pelo ar virgem da manhã. Dentro d’água então nem se fala. Quase ninguém caminha pela orla. Ao longe, um barco volta da pescaria. As casas, no lado contrário ao mar, parecem dormir.

Ainda bem que onde moro ninguém se mete na minha vida, nem minha mãe, sabe que gosto de acordar cedo, não faz perguntas. Ela dorme muito, vai até às nove e meia, se deixar às dez.

A água está tão fria! Acho que não tem graça tirar o biquíni nessa situação, mais valeria depois das onze, quando a praia está cheia de gente. Mas vamos fazer parte da vontade de meu amigo, quero depois lhe enviar a história, muito bem contadinha. Tiro a parte de baixo do biquíni.

Para quem gosta de ficar nua, asseguro, dentro d’água ninguém nota, mesmo a praia estando cheia. Uma senhora de mais de cinquenta anos foi quem me deu a dica. De início, duvidei. Mas depois constatei que era verdade. Me disse que sempre tirava o biquíni e sentia uma sensação incrível. Quando perguntei se ninguém nunca notara, apressou-se em responder: “não!”

Faço o mesmo. Transformo o meu biquíni numa pulseira, bem amarradinha, os lacinhos tão bem arrumados que nem parecem que aquele paninho era a calcinha. Fico a mergulhar para lá e para cá com a pulseirinha num dos braços. Do jeito que a praia está deserta, posso correr até a areia, deixar a pulseira por lá e voltar para dentro d’água que ninguém vai perceber. Será que tenho coragem? Acho que já estou querendo ir longe de mais... Melhor deixar essa travessura para amanhã!

Aproxima-se um homem, ele olha para mim. Acho que não vai ser tão cara de pau de vir até aqui para conversar comigo. É um senhor, e eu o conheço. Ah, esses senhores, adoram garotas novas, tanto mais uma garota travessa, e ele bem sabe da minha fama. Já me viu algumas vezes de biquininho. Adorou, babou. Viu que estou sozinha. Vem até a beira da água, sorri. Estou a uns trinta metros dele. Não resiste, se dirige a mim como quem não quer nada:

“A água está muito fria?”

O que vou responder? Se digo não, que está quentinha, é capaz de mergulhar e vir até aqui, dei conversa, vai querer puxar assunto; caso diga sim, é capaz de afirmar: sou macho, gosto de água fria. Minha demora faz que ele mesmo tome a decisão:

“Vou eu mesmo experimentar.” Mergulha.

O que faço? Desamarro a pulseira e a transformo de novo no biquíni? Mas são tantos os lacinhos, acho que vou me embaralhar, e ele ainda me pega com a mão na massa.

Está demorando a aparecer. Ai, que susto, veio à tona quase ao meu lado. Será que me descobriu pelada? Pelo jeito, acho que não. Nada falou, e o mar está tão escuro, ainda o sol fraquinho. Mergulho eu, mas com cuidado, o bumbum não pode vir à tona, caso isso aconteça incendeio o homem. Tento me afastar. Mas ele se chega, juntinho. Será que minha amiga cinquentona não tem razão? Quero continuar a brincadeira. Faço a pergunta fatal:

“Como vai dona Mara?” Sei que é a mulher dele, me convidou para fazer um lanche um dia desses.

“Ah, a Mara”, emenda sem graça, “já deve estar vindo aí, adora a praia de manhã bem cedo.”

Sinto que estraguei o seu humor. O bom velho se afasta sacudindo a cabeça e deixando escorrer água pelo rosto. Continuo nua sem que ele note. Sinto pena dele por causa da situação embaraçosa que criei. Quero recuperá-lo, dar-lhe outra chance. Chamo o homem de volta, ele nem é feio.

“Faz um favor pra mim?”

“Faço”, responde reanimado.

“Segure um instantinho isso?”

“O que é?”, quer saber.

“Essa pergunta é proibida, trata-se de um segredo, só entre nós dois, tá? Nem dona Mara pode saber, é uma coisa que não morde”, instigo.

Ele aceita. Entrego, então, em suas mãos, minha pulseirinha!

Dona Mara é que vai gostar do seu bom velhinho, depois de vinte minutos fiz ele ficar vinte anos mais jovem. E não é que o homem é tão gostosinho...

Meu amigo, que me pediu essa historieta, vai me perguntar se ela é verdadeira ou se é imaginação minha. Não digo sim. Mas também não digo não.

Sei que o velhinho já se foi. E eu, aqui. Peladinha.

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